Por Bernardo Pilotto
Foi num dia 10 de novembro que a turma que batia bola no Independente Futebol Clube resolveu formalizar a fundação da G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel. Eles já se reuniam há alguns anos e das rodas de samba após os jogos de futebol já havia nascido o bloco “Mocidade do Independente”, em 1953. Dois anos depois, fruto do crescimento do bloco e da rivalidade com outras agremiações da região, os boleiros batuqueiros resolveram fundar a escola.
Nesses 65 anos de história, a Mocidade Independente se tornou umas das grandes e das mais conhecidas escolas do carnaval carioca, sendo campeã em 6 ocasiões.
Localizado na Zona Oeste da cidade, Padre Miguel sempre foi um bairro de trabalhadores, especialmente aqueles que estavam empregados na Fábrica de Tecidos Bangu. Foi nesse contexto que se formou o Bangu Atlético Clube em 1904 e a G.R.E.S. Unidos de Bangu em 1937, instituições que em muito serviram para o espírito de comunidade e pertencimento dos moradores do bairro. Na região ainda se destacam a G.R.E.S. Unidos de Padre Miguel (fundada em 1957) e a G.R.E.S. Acadêmicos de Santa Cruz (fundada em 1959).
A Mocidade Independente começou a ganhar destaque nos anos 1970, quando se consolidou na elite do carnaval carioca e passou a contar com o patrocínio de Castor de Andrade, um de seus maiores torcedores. Em 1979 ganhou seu primeiro campeonato, com o enredo “O Descobrimento do Brasil”.
Até então, a escola era mais conhecida pela sua bateria, comandada por Mestre André. Ela foi vanguarda na elaboração de conceitos que hoje são base da maior parte das baterias, como a paradinha (que, em uma de suas versões, pode ter sido criada acidentalmente por Mestre André) e o surdo de terceira, inventado por Tião Miquimba, um ritmista da agremiação.
Depois de ser vanguarda com a sua bateria, a verde-e-branco da Zona Oeste também ganhou destaque, de 1973 até 1987, com os carnavalescos Arlindo Rodrigues e Fernando Pinto, que inovaram cada um com sua vertente criativo, o primeiro mais ligado ao barroco e a história, já o segundo com narrativas tropicalistas e inovadoras.
Sua ala de compositores também é responsável por grandes sambas-enredo, como “A Festa do Divino” (1974), “Mãe Menininha do Gantois” (1976), “Como era Verde meu Xingu” (1983), “Ziriguidum 2001, um carnaval nas estrelas” (1985), “Tupinicópolis” (1987), “Sonhar não custa nada, ou quase nada” (1992) e, mais recentemente, “As mil e uma noites de uma ‘Mocidade’ pra lá de Marrakesh” (2017) e “Namastê: a Estrela que habita em mim, saúda a que existe em você” (2018).
Em 2020, a escola homenageou Elza Soares, uma das mais importantes torcedoras da escola, quem defendeu seus sambas na avenida em alguns carnavais nos anos 1970. Com um desfile bastante marcante, a escola conquistou o 3º lugar. No próximo carnaval, trará o Batuque ao Caçador”, voltando a fazer um enredo da dita temática afro após mais de 40 anos.