Primeiros protótipos de Alas Comerciais e da Comunidade já podem ser conferidos nas redes sociais e no site da Agremiação
Por Renata Rodrigues (Comunicação Estação Primeira de Mangueira)
A história da influência e da vivência bantu na cidade do Rio de Janeiro já toma forma no Barracão da Mangueira: búzios, brilhos, penas, tecidos, fitas de texturas variadas e até mesmo palavras e homenagens contam o enredo “À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões”. A escola divulgou nesta terça-feira (8/10) as primeiras imagens das fantasias que fazem de alas comerciais que podem ser adquiridas por aqueles que desejam se juntar à Estação Primeira na Avenida no próximo carnaval, e também alguns protótipos de fantasias da Comunidade.
“Estamos dando luz à presença bantu no Rio de Janeiro, seu estabelecimento no território carioca, seu diálogo com diferentes religiões, influência na cultura, e sua fundamental presença na vivência da cidade, apesar de tantas tentativas de apagamento da sua contribuição à nossa negritude” afirma Sidnei França, carnavalesco da Mangueira. “Para além das expectativas, que são altas em se tratando de uma agremiação da magnitude da Verde e Rosa, vejo como estratégica a divulgação dos protótipos para que os desfilantes das nossas Alas saibam como se apresentarão e, principalmente, os significados que carregam em si no nosso cortejo para 2025”, conclui.
Os cinco grupos das Alas Comerciais vão representar, respectivamente:
Ala 06 – Afrocatolicismo
Já no Rio de Janeiro, os povos bantu participaram das Irmandades Negras e promoveram o afrocatolicismo, trazendo o seu próprio olhar sobre o cristianismo. O figurino traz a imagem de um Jesus estilizado com inspirações em máscaras de divindades bantu, além de outros ícones cristãos, evidenciando como o catolicismo foi incorporado e reinventado por esses povos.
Ala 09 – Nas Danças, Disfarces e Conchavos
Pelas brechas da cidade, os povos bantu se associavam no Rio de Janeiro para enfrentar os efeitos da colonização e da violência escravocrata. Cenário que compõe o terceiro setor do desfile, os Zungus eram complexos assistencialistas, comerciais, festivos e de habitação em que interagiam, predominantemente, negros escravizados e libertos. Neles, encontros eram feitos para fugir da opressão que marcava as vivências da negritude carioca. Indo além do lazer necessário para a sobrevivência do cotidiano, manifestações culturais como o jongo e o lundu perpetuavam costumes de origem bantu e tinham na sua prática uma forma de se reunir para fazer articulações. Mascarados, dentre disfarces e conchavos, os bantu agiam contra a estrutura racista da sociedade.
Ala 14 – Comer um Quiabo Pra Não Pegar um Feitiço
Como uma das diferentes maneiras que a cultura bantu participou da formação do Rio de Janeiro, os hábitos culinários são destacados em uma ala do quarto setor do desfile da Mangueira. A gastronomia é um traço repleto de simbologia e constitui culturas de cidades e nações. O quiabo era importante elemento culinário dos povos bantu, inclusive como forma de proteção, sendo utilizado em diferentes cultos religiosos até os dias atuais, inclusive como forma de oferenda a entidades das religiões afro-brasileiras.
Ala 17 – Gurufim: Não Chorar a Morte, Festejar a Vida!
A formação da cidade do Rio de Janeiro ocorreu a partir da cultura bantu, que segue viva até hoje em todo o território carioca. A relação com a morte como possibilidade de celebrar a vida e o ciclo da existência ainda é vista em rituais como os gurufins, que transformam velórios em festas, prática comum entre a comunidade do samba. Beber, cantar e comer como maneira de exaltação daquele que se foi é uma das maneiras de lidar com a passagem da vida sem um olhar de lamentação, conforme ensinam as sabedorias bantu. A ala saúda três mestres carnavalescos que tiveram trajetórias marcantes pelo carnaval carioca e fizeram a passagem recentemente: Max Lopes, Roberto Szaniecki e Rosa Magalhães.
Ala 20 – Conexões por um Chamego
Ter um dengo, conquistar um xodó, fazer um chamego! O afeto dentro das relações coletivas é uma das bases para o pensamento bantu e fundamental para a construção de um futuro ancestral, conforme propõe o quinto e último setor do desfile mangueirense. Na escola dona dos maiores amores do planeta, novas construções afetivas promovem conexões transformadoras dentro das experiências urbanas. Aflorando dos asfaltos, os girassóis se impõem sobre a realidade presente. A natureza é admirada pelos povos bantu e as flores são uma forte manifestação de vínculo de afeto da vida humana.
Quanto às Alas da Comunidade, serão respectivamente:
Grupo Cênico 2 – O Sopro que Guia a Passagem
Para o Candomblé bantu de Congo-Angola, Kaiango é a entidade responsável por governar os caminhos entre o mundo espiritual e o mundo físico. O vento é um dos elementos da natureza dessa Inquice. Através dele, Kaiango comanda os nvumbis, os espíritos dos mortos, após a sua passagem pela vida terrena. O figurino remonta ao movimento dos ventos e dos sopros, que saem de dentro de uma máscara inspirada em esculturas de divindades bantu.
Ala 04 – Imposição de um Feitiço Branco
Ao serem obrigados a abdicar das suas nações e das suas práticas religiosas, o início da relação dos povos bantu com a fé branca foi marcado pelo autoritarismo. O figurino se ampara da cor branca e de símbolos cristãos para denunciar a imposição da morte, inclusive simbólica, que os povos bantu sofreram durante o período da colonização. A escolha da cor se dá porque é ela que representa, para as filosofias bantu, a passagem da vida para a morte física. Isso é retratado no Cosmograma Bakongo, o ciclo das quatro etapas da existência, que faz parte da cosmovisão bantu sobre a vida. Luvemba, o ponto do ciclo em que ocorre a passagem para a morte, é representado pelo branco no Cosmograma.
Ala 18 – O Rio Celebra de Branco
As macumbas do Rio de Janeiro criaram costumes até hoje presentes no dia a dia carioca e se vestir de branco para ocupar as praias no ano novo é uma das heranças bantu que se espalharam pela cidade. Os Omolokôs foram cultos bantu difundidos no Rio de Janeiro entre o final do século XIX e o início do século XX e se tornaram uma das bases da Umbanda. O pai de santo Tata Tancredo, um dos principais nomes dos Omolokôs, começou a organizar reuniões para a virada do ano nas praias cariocas. Lá, trajados de branco como as vestes dos terreiros, festejavam a passagem dos dias 31 de dezembro para 01 de janeiro. Essa forma de celebração se popularizou pela cidade e segue com milhões de adeptos todos os anos, independentemente da religião e das origens dos praticantes desse hábito.
A Estação Primeira de Mangueira levará para a avenida em 2025 um olhar sobre a presença dos povos bantus na cidade do Rio de Janeiro. Eles representaram a maioria dos negros que chegaram no Cais do Valongo, na Pequena África. A Mangueira retratará a vivência dessa população em toda a cidade, mostrando como sua história floresceu em solo carioca.
Para adquirir uma das fantasias das Alas Comerciais basta acessar o Instagram da Verde e Rosa onde estão disponíveis todos os contatos ou o nosso site.
Sobre a Estação Primeira de Mangueira:
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira (ou simplesmente Estação Primeira de Mangueira) é uma tradicional escola de samba brasileira da cidade do Rio de Janeiro conhecida e admirada em todo o planeta. A agremiação, que tem nas suas cores (verde e rosa) uma de suas marcas registradas, acumula 96 anos de glórias e de histórias e é uma das mais importantes instituições culturais do Brasil. Seus símbolos, o surdo, a coroa, os ramos de louros e as estrelas podem ser vistos na bandeira da escola. Tornou-se um celeiro de bambas que despontou e inspirou lindas obras decantadas em todo o mundo. Foi fundada em 1928, no Morro da Mangueira, pelos sambistas Carlos Cachaça, Cartola, Zé Espinguela, Tia Fé, Tia Tomásia, entre outros. Sua quadra está sediada no bairro do mesmo nome. Detém vinte títulos do carnaval. Atualmente, é presidida por Guanayra Firmino, primeira mulher eleita presidente da Mangueira. (https://mangueira.com.br/)