Grandes casamentos: encontros entre carnavalescos e escolas que mudaram a folia

Por Leonardo Antan e Beatriz Freire

Grandes histórias mudaram o rumo da folia através dos anos. Afinal, cada agremiação tem em sua formação grandes artistas, sejam sambistas, patronos e, principalmente, carnavalescos. Alçado ao papel de principal nome por trás da escola, o cargo de carnavalesco carrega muita responsabilidade. Muitos foram responsáveis por moldar a personalidade das principais agremiações cariocas. Curtos ou longos, algumas parceiras mudaram os rumos dos desfiles, por isso, nos separamos dez entre os mais marcantes. Confira:

1 – Fernando Pamplona e Salgueiro

Foi em 1959 que tudo começou. O cenógrafo e acadêmico Fernando Pamplona foi jurado dos desfiles quando a Academia desfilou com uma homenagem a Debret. O mestre se encantou e virou carnavalesco, daí se fez a história. Junto a outros artistas do Teatro Municipal e da Escola de Belas Artes, Pamplona foi responsável por uma revolução temática e estética, colocando o negro como protagonista dos enredos. Já na estreia, o Salgueiro conseguiu seu primeiro título, sendo alçado ao seleto grupo de campeãs, logo se fixando como uma das quatro grandes. Entre idas e vindas, foram mais de dez carnavais, durante a década de 60 e 70, com a ajuda de nomes que depois fariam história na festa. Salgueirense e fim de papo, Pamplona jamais assinou desfiles em outras agremiações.
Saiba mais sobre a revolução salgueirense aqui.

2 – Arlindo Rodrigues e Imperatriz

Arlindo Rodrigues foi o principal parceiro de Pamplona na revolução vermelha, branca e negra na década de 60, tanto que assinou carnavais sozinhos, sendo tão importante quanto o mestre, como Xica da Silva em 63. O cenógrafo ainda passou por Mocidade pelos anos 70, dando o primeiro título de Padre Miguel, mas foi em 1980 que ele achou sua companheira perfeita. Histórica, elegante, monárquica, Arlindo aliou seu estilo ao da rainha da Leopoldina, dando a ela o estilo que fazia jus ao seu nome majestoso. O casamento deu dois títulos à agremiação e durou cinco carnavais.
Saiba mais sobre a importância de Arlindo e a história da Rainha de Ramos.


3 – Joãosinho e Beija-Flor

Mais um discípulo de Pamplona, Joãosinho desembarcou em Nilópolis após um bicampeonato no Salgueiro, quando assumiu o lugar de seu mestre. A Beija-Flor era uma escola sem expressão e coube a Trinta transformar a azul e branco na nova potência da folia. A agremiação da Baixada foi a primeira a quebrar a barreira das antigas quatro grandes, conquistando de cara um tricampeonato épico. Com essa parceria histórica, Joãosinho se tornou o artista mais lendário da festa e deu à agremiação a característica luxuosa, imponente e aguerrida que a acompanha até hoje. Foram 17 carnavais juntos e cinco títulos, que fizeram e fazem da Beija-Flor a Deusa da passarela.

Relembre grandes enredos delirantes de João e a história da Beija-Flor

4 – Maria Augusta e Ilha

Nem sempre a tríade “bom, bonito e barato” definiu os carnavais da União da Ilha. Tudo começou com a chegada de Maria Augusta na agremiação tricolor. Herdeira de Pamplona e rival de Joãosinho, Augusta comandou, em apenas dois carnavais, uma revolução artística, abrindo uma nova possibilidade. Para além do luxo do brilho, propôs o luxo da cor, com enredos ditos “abstratos”, de temas cotidianos, apostando em figurinos leves e lúdicos. Os sambas antológicos ajudaram nisso, transformando a Ilha numa das escolas amada entre os foliões. Apesar de curto, o encontro entre Augusta e a tricolor insulana mudou pra sempre a histórica trajetória da carnavalesca.
Saiba mais sobre a importância de Augusta.

5 – Fernando Pinto e Mocidade



A Mocidade vinha de um título com Arlindo, e Fernando Pinto já havia conquistado seu campeonato em uma longa parceria com o Império Serrano, mas foi quando o carnavalesco cacheado e a Estrela Guia se encontrarem que a magia se fez e eles esqueceram-se dos velhos amores. A originalidade, a vanguarda e o tropicalismo de Pinto colocariam a Mocidade como uma escola moderna e jovem no imaginário momesco. Os passeios no espaço, as muambas e a cidade índia foram icônicos na trajetória de ambos.
Saiba mais sobre a trajetória de Fernando Pinto e a história da Mocidade.

6 – Luiz Fernando Reis e Caprichosos

A Caprichosos era uma pequena escola do grupo de acesso quando o matemático Luiz Fernando Reis chegou na agremiação. Seguindo a cartilha de Augusta, propôs um enredo leve e cotidiano sobre a feira live em 1982. Com um desfile arrasta quarteirão, a Caprichosos subiu ao Grupo Especial e lá fez história. Em meio a redemocratização brasileira, Reis levou para a avenida a voz política em desfiles leves com componentes soltos e empolgados. Apesar de posições irregulares, a Caprichosos entrou no imaginário popular e Reis se tornou um dos principais artistas da história da festa.


7 – Julinho e Mangueira

Poucos sabem, mas por trás de grandes carnavais mangueirenses, estava um grande artista popular. Sem formação acadêmica ou erudita, Julinho Mattos foi responsável por muitas das homenagens que marcaram a história da verde e rosa. Aliada ao samba no pé, a escola não fazia feio com a plástica simples mas de bom gosto do carnavalesco. Entre idas e vindas, foram dezenove carnavais de parceria, consolidando o maior casamento da história das escolas. Entre as décadas de 60 e 80, foram cinco títulos da Mangueira com assinatura de Julinho.
Saiba mais sobre o carnavalesco Julinho da Mangueira e relembre grandes biografias da verde e rosa.

8- Renato e Mocidade

A Mocidade mal perdeu Fernando Pinto e já encontrou um novo amor. Renato Lage ganhou um novo patamar ao ressignificar a identidade jovem e moderna da escola de Padre Miguel. Criando alegorias inesquecíveis, o traço do chamado “mago do High-tech” criou uma geração de torcedores independentes. Foram treze desfiles em parceria e três títulos inesquecíveis.

9 – Rosa e Imperatriz

Outra verde e branco que também marcaria a década de 90, com uma parceria icônica na folia, seria a a Imperatriz. A deusa Rosa Magalhães desembarcou em Ramos em 1992 e só sairia de lá anos depois, em 2009. Com cinco títulos conquistados, se tornou uma das parcerias mais duradouras da folia carioca, também uma das mais premiadas, empatada com Joãosinho-Beija-Flor e Julinho-Mangueira. Em desfiles históricos, Rosa firmou seu estilo num neo-barroco aliado ao contemporâneo, entre causos da história e narrativas pra lá de brasileiras.

10 – Paulo Barros e Tijuca

O casamento mais recente que marcou a festa foi o encontro de Paulo Barros com a Unidos da Tijuca. O carnavalesco que estreou no Especial com um vice-campeonato, em 2004, mudou o patamar da escola do Borel, que então patinava por posições irregulares. Com suas alegorias humanas, truques de mágicas e estilo pop, a azul e amarelo do Borel se tornou uma das principais escolas da última década. Parceria que rendeu três títulos em oito carnavais juntos.
Relembre curiosidades marcantes do estilo de Paulo Barros.

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