Minha primeira vez… Com Leonardo Bessa

Por Vitor Melo


Você se lembra da sua primeira vez no Sambódromo? Seja aqui no Rio, na Marquês, em São Paulo, no Anhembi ou em qualquer outro estado que também cultive um dos nossos maiores patrimônios culturais, o  carnaval. Para nós, que amamos essa festa e toda essa atmosfera que a envolve, acredito não existir alguém que não lembre sem um certo tom e ar nostálgicos de sua primeira vez, afinal, diz-se que da primeira vez ninguém se esquece. E, como a voz do povo é a voz de Deus, vamos em busca de descobrir se os personagens da folia lembram de sua primeira vez, não só como artistas da festa, mas também, de quando eles eram como nós, foliões.



Foto: Alex Nunes/Divulgação: Salgueiro



Intérprete oficial do Acadêmicos do Salgueiro desde 2010, Leonardo Bessa começou logo criança nos cortejos momescos. E, desde pequeno, sempre esteve onde pudesse soltar a voz. Num ano em que a Academia do Samba vai falar das “Senhoras do ventre do Mundo inteiro”, a “primeira vez” do nosso participante não poderia ter sido diferente. Bom… como eu costumo dizer, a minha primeira experiência no carnaval não foi na Sapucaí, foi na presidente  Antônio Carlos, na barriga da minha mãe, no carnaval de 1974, onde o Salgueiro apresentou o enredo “O Rei de França na Ilha das assombrações”. Mostrando que a vermelha e branco tijucano sempre conversou e, principalmente, encontrou-se nessa temática, há quase 45 anos, pé quente Bessa já “estreou” campeão. Fomos campeões, eu nasci naquele ano e minha mãe desfilou comigo na barriga. E, mesmo depois de nascer, a ligação com o carnaval continuou, nutrido, especialmente, por sua mãe. 



Desde criança, eu sempre gostei de acompanhar os desfiles das escolas de samba pela televisão e, logicamente, como toda criança, também sonhava em participar daquela grande festa… E o destino resolver realizar tal desejo e começou já pela infância. Em meados dos anos 80, onde eu tive a primeira oportunidade na escola mirim Alegria da Passarela, lugar em que começou, de fato, a minha integração com o mundo do samba, com o mundo do carnaval, embora já tivesse frequentado quadra de escolas de samba como Arrastão de Cascadura, Unidos de Padre Miguel e Portela. Nessa última, Bessa se lembra inclusive de um presente um tanto quanto especial que ganhou, um tamborim direto das mãos do mestre MUG da Portela, grande sambista da Majestade do Samba.

Foto: Alex Nunes

Quem o vê, hoje, estabelecido em uma das maiores escolas de samba do carnaval, talvez não saiba quanto Bessa percorreu pela vielas carnavalesca até poder soltar, finalmente, seu grito de guerra. É, realmente… minha primeira experiência como intérprete de apoio – que pouca gente sabe -, foi no Arrastão de Cascadura, no Grupo B na Sapucaí em 98. Fui apoio do Tiãozinho Cruz. E depois na São Clemente, como apoio, a partir de 2002. Só de poder estar soltando a voz já no chão sagrado do samba, dá pra perceber o quão importante foi esse processo. Só, entretanto, dois anos depois de sua estreia como apoio na amarelo e preto da zona sul, Bessa conseguiu sentir o gostinho de soltar seu conhecido, atualmente, grito. Tá bom!? Já foi uma emoção muito grande de poder estar cantando na Sapucaí e, no primeiro ano, que eu pude dar meu grito de guerra, que foi no carnaval de 2004 no Arranco de Engenho de Dentro foi realmente a certeza de que muita coisa ia mudar dali pra frente… 


Junto de um microfone principal de escola de samba, existem muita cobrança e responsabilidade e Bessa estava ciente e da necessidade de se aprimorar. Sem dúvidas, é uma responsabilidade grande, né!? E, ao longo dos anos, com certeza, eu fui procurando amadurecer mais o meu trabalho, aumentando o aprendizado e a cada ano sempre buscando mais conhecimento e o aperfeiçoamento. Deu pra perceber a importância do Arranco nessa trajetória, mas foi só na São Clemente, escola em começou trabalhando como aderecista, botando a mão na massa no barracão, que ele conseguiu soltar sua voz, finalmente, no grupo especial. A São Clemente foi uma grande escola na minha vida, onde eu aprendi muita coisa, comecei lá trabalhando no barracão, como aderecista; Fui cavaquinista, compositor, intérprete de apoio… E, no carnaval de 2006, oficializado como cantor principal da escola. Depois de dois anos, comandando as bandas por lá, chegara, finalmente, a primeira vez que soltaria seu grito de guerra no grupo especial, em 2008, depois de ser campeão no extinto grupo A em 2007 com o enredo “Barrados no baile”. Foi realmente uma emoção incrível, algo imensurável. 2008 foi um ano muito marcante na minha vida e é, de fato, algo que eu não me poderei esquecer jamais.



Foto: Alex Nunes




Se engana quem pensa que Leonardo só cantou aqui pelos perímetros cariocas, Bessa já soltou sua voz em outros carnavais além da festa de momo da cidade maravilhosa – como os carnavais de Amazonas, de Uruguaiana, de Niterói e de São Gonçalo. Indo para o seu oitavo carnaval à frente do microfone salgueirense, Bessa é o único remanescente do trio formado àquele carnaval de 2011 com Quinho e Serginho do Porto. Ao lado de Hudson Luiz, Tuninho Jr e, desde 2013, Xande de Pilares, o intérprete parece mais maduro do que nunca e ciente do que se tem de fazer para permanecer à frente do carro de som da Academia, mas também bastante agradecido. Eu me sinto realizado, feliz, embora saibamos que, a cada ano, precisamos estar sempre trabalhando em alto nível. Como intérprete, estando a frente de uma escola como o Salgueiro, que tem muitos fãs e torcedores por esse Brasil afora, a responsabilidade é triplicada, e eu sei que a cada ano a cobrança é grande, mas, com certeza, Deus não dá um fardo maior a quem não consiga carregar. Se estou lá, é porque sou digno de estar frente dessa escola e faço de tudo, do meu melhor para representar essa escola da melhor forma possível.


Além da função intérprete, Bessa é um dos responsáveis pela produção do CD do grupo de acesso há quase 20 anos, salvo o ano de 2016. Ganhador de um disco de ouro pela produção de 2017, o produtor-intérprete-adericista sabe que a cobrança em proporção da qualidade oferecida. Quando você faz um trabalho de qualidade, a cobrança sempre é grande. são quase vinte anos fazendo esse projeto do grupo de Acesso, esse CD, que muito me envaidece… Por fim, sem dúvidas, é nítido o orgulho de que Bessa possui de deixar, de alguma forma, uma contribuição para a história do carnaval, buscando sempre o aperfeiçoamento. Acima de tudo, me sinto muito honrado de poder de alguma forma estar colaborando para o carnaval, tanto eu como a minha equipe e, ao longo dos anos, a gente procura melhorar mais e mais.

Salve a Academia do Samba! Tá bom? Tá bom? Então… Tá bom a beeeessa!

Essas foram as “primeiras vezes” do Leonardo Bessa, intérprete premiado no carnaval. Bessa, atualmente, defende o pavilhão vermelho e branco mais sinérgico do mundo do samba com sua voz. Espero que tenha gostado e sinta-se livre para opinar em nossas redes sociais – ou na minha, inclusive – sobre quem você gostaria de ver nesse quadro. Quer ler os quadros anteriores com Igor Sorriso, intérprete da Vila Isabel ou com a rainha de bateria nilopolitana, Raissa de Oliveira? É pra já! Igor Sorriso, clique aqui. Raissa, clique aqui









O relato sobre minha primeira vez e como escolhi, pelo resto de minha vida, o meu Torrão Amado, o Acadêmicos do Salgueiro? Aqui.

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