Foto: Riotur/Tata Barreto | Arte: Vítor Melo/Carnavalize |
Por Bernardo Pilotto
Hoje é um dia festa no Largo do Tanque, em Jacarepaguá: há 28 anos atrás, em 02 de agosto de 1992, foi fundada a Renascer de Jacarepaguá. Ainda que tenha tido um resultado ruim em 2020, a escola se destacou nos últimos anos pela qualidade dos seus sambas-enredo e foi um dos pilares da renovação desse gênero nessa última década.
Desde a sua fundação, a agremiação bebeu na fonte do bloco Bafo do Bode, que animou os foliões cariocas de 1959 até constituição da Renascer. O Bafo do Bode realizava desfiles em Jacarepaguá e também no centro do Rio de Janeiro, participando dos concursos de blocos de enredo.
Diferentemente de outras escolas de samba que desfilaram no Grupo de Acesso nos últimos anos e tiveram uma rápida ascensão, a Renascer demorou um tempo maior para subir degraus até chegar na Sapucaí. Entre 1993 e o ano 2000, alternou desfiles pela quarta e quinta divisão. Foi somente na virada do século que a escola conseguiu começar sua ascensão. Foi assim, então, que ela desfilou pela primeira vez no Grupo A (a segunda divisão da época) em 2005.
Thainá Teixeira defendendo o primeiro pavilhão da Renascer em 2019. Foto: Riotur/Raphael David |
Após se consolidar nesse nível, a escola chegou ao ponto alto do carnaval em 2012, após vencer o segundo grupo em 2011. Porém, com um desfile sobre Romero Britto, não teve uma boa apresentação e acabou sendo rebaixada. De volta ao Grupo A e após um desfile sem grandes aspirações em 2013, a Renascer resolveu inovar para o ano seguinte: com dificuldades em fazer disputas de samba por conta da falta de acesso à sua quadra devido às obras da Transcarioca, a agremiação optou por encomendar seus sambas-enredo, o que alterou bastante seus rumos nos anos seguintes.
A partir de 2014, contando com sambas-enredo de Claudio Russo, que já era um compositor reconhecido de sambas-enredo, e Moacyr Luz, até então um compositor de muitos sambas de meio de ano, ainda não aventureiro de Sapucaí, a escola passou a se destacar por belos hinos, alguns deles vencedores de prêmios (como o Estandarte de Ouro em 2015). Por vezes, essa parceria ainda agregou outros grandes nomes, como Teresa Cristina (em 2015 e em 2016) e Diego Nicolau (de 2017 a 2020).
Diego Nicolau (em pé), Moacyr Luz (esq.) e Cláudio Russo (dir) em anúncio do samba de 2020. Foto: Léo Cordeiro/UOL |
Mesmo com desfiles que muitas vezes pecaram pela parte visual, a Renascer conseguiu se firmar a partir dessas boas obras culturas e com enredos culturais. A escola foi, ainda que não exatamente se planejando para tal, vanguarda do novo e controverso momento do desfile de escolas de samba que vivemos hoje.
Nesses anos, vale destacar os enredos sobre Candeia (2015), os Ibejis (2016) e “O Papel e o Mar” (2017), que trouxe um encontro entre Carolina de Jesus e João Cândido.
Com outras escolas adotando também enredos críticos e culturais (que acabaram tendo como consequência melhores sambas), a Renascer deixou de ser pura exceção. Este pode ter sido um dos motivos de seu rebaixamento em 2020. Agora, para o próximo carnaval, o desafio dela é manter seus bons enredos e sambas, para que suas chances de voltar para a Série A aumentem.