Caçulas do Samba: Debutantes da Vila Anastácio

Antes de começar a contar a história da caçula de Sampa, tenho de destacar o fato da Dragões da Real ser uma escola de samba e também uma torcida organizada. O modelo, apesar de controverso, é característico do Carnaval de São Paulo, uma das particularidades da folia de lá. E apesar de dividir opiniões, ele dá certo. A Dragões da Real demonstra isso da melhor forma: batalhando e crescendo, ascendendo, acreditando no trabalho em família e na estruturação da escola de samba em conjunto com a comunidade. A escola, de 17 anos, demonstra um crescimento importante para o futuro da festa paulistana, conquistando grandes resultados nos últimos 5 anos.
“Hoje eu tenho a força do Dragão!”
O G.R.C.E.S. Dragões da Real foi fundado no dia 3 de março de 2000, tendo em vista proporcionar a seu associado a maior integração cultural. Em seguida, filiada à UESP, veio seu primeiro desafio, ou melhor, seu primeiro desfile. O ano era 2001 e, quase sem nenhum investimento, a escola se virou nos trinta e colocou um carnaval campeão na Avenida. (Não foi dessa vez que o Google nos ajudou e não saberemos onde, de fato, foi o desfile. Falta muita informação sobre a folia dos grupos menores, infelizmente).
Desse modo, a Dragões foi ascendendo pelos grupos. O grande objetivo, chegar ao Anhembi, ficava cada vez mais próximo, já que as escolas do Grupo 1 da UESP desfilam no templo do samba paulista. O sonho foi concretizado no ano de 2005, e desde então, a Dragões da Real não quis mais sair. Alçando objetivos grandiosos, a escola chegou ao Grupo Especial de SP em 2012, com a responsabilidade de permanecer por lá. E ficou! Num desfile marcante sobre o amor materno, nossa homenageada cravou a 8ª colocação, a frente de escolas como Gaviões da Fiel e X-9 Paulistana. Para nosso ilustre colega e entusiasta da Dragões, Rodrigo Cardoso, conta que, para ele, o ponto alto daquele desfile é a última alegoria, que traz vários dragões, símbolo da escola e fotos dos funcionários do barracão com suas mães.

A vermelha e branca, apesar de humilde e “menor de idade”, já mostrou que tem samba no pé para ser campeã: desde que subiu ao Especial, desfilou em quatro, de seis oportunidades, na Sexta das Campeãs. O melhor resultado da escola é o vice-campeonato conquistado no carnaval de 2017. Com o enredo “Dragões Canta Asa Branca”, o título inédito não foi alcançado por conta do quesito-desempate, samba-enredo. A Acadêmicos do Tatuapé levou a melhor, mas o resultado foi muito comemorado, sendo marcado por um desfile histórico. 
Em 2014, a escola contou com nada menos que Rosa Deus Magalhães como carnavalesca. A professora concretizou um brilhante trabalho com um enredo que tratava de grandes ícones das décadas de 80 e 90. O resultado foi a volta nas campeãs com a 5ª colocação. A partir do ano seguinte, 2015, a escola da Vila Anastácio contou com uma comissão de carnaval formada por carnavalescos como Jorge Silveira e Dione Leite, apostando numa proposta lúdica, voltada ao mundo infantil.

No ano do vice-campeonato, o enredo que contava e cantava a música Asa Branca, de Luiz Gonzaga, mostrou um pouco do que é o cotidiano do sertanejo brasileiro. Com desfile concebido por alegorias humanas, alas muito bem coreografadas e um samba primoroso, pode-se dizer que a escola vendeu caro o título. O cortejo emocionou até mesmo leigos e marcou a despedida de Jorge Silveira da Dragões, assumindo integralmente no Rio de Janeiro a São Clemente.

Convidamos, para fechar o texto com chave de ouro, a 1ª porta-bandeira Evelyn Silva. Ela, que cumpriu seu objetivo fazendo 30 pontos no desfile em sua estreia com o primeiro pavilhão da tricolor, contou um pouco do que é pertencer à família Dragões da Real: “Fazer parte da Dragões é uma  coisa que não sei explicar, uma mistura de emoção, de amor e ansiedade.” Ela nos contou também que, em 2018, no seu 13º desfile pela escola da Vila Anastácio, consegue perceber que a cada ano a emoção é maior: “O ano de 2014 foi bom, 2015 foi melhor, 2016 foi melhor ainda. E para 2017, não tenho palavras, foi o ano mais emocionante de todos os meus desfiles.”

Atualmente no primeiro pavilhão, Evelyn chegou na escola com 7 anos, ainda mirim e passou por todos os postos de porta-bandeira até chegar onde hoje se encontra. “Foi um sentimento de nervosismo com a responsabilidade de representar uma comunidade inteira, de trazer a nota”. Também sobre o carnaval de 2017, ela relata “acredito que, graças a Deus, eu e Rubens (mestre-sala) nos esforçamos muito para chegar onde chegamos e deu tudo certo no desfile”, adiciona ela. Com um 9,8 descartado, Rubens e Evelyn conseguiram alcançar os 30 pontos.

“Agradeço a Deus todos os dias em que estou ostentando o primeiro pavilhão. Não tenho palavras pra descrever quão maravilhosa ela é”, conta ela. Evelyn também fala sobre o sentimento familiar na escola: “A Dragões é uma família acolhedora, uma família de gente feliz. E isso é real. Todos que presenciam nossos ensaios podem perceber que é verdadeiro, é o lema que carregamos.”

“Eu sou muito feliz por ser da Dragões, não me vejo em outro lugar que não seja ali. Não me vejo em outra agremiação”, destaca. “Pretendo continuar nesse posto até chegar na Velha Guarda. Só posso resumir isso tudo num sentimento de gratidão.”

Para 2018, a Dragões aposta em outro tema tipicamente caipira: “Minha música, minha raiz. Abram a porteira para essa gente caipira e feliz”. Não, não é para contar a história da música sertaneja, do sertanejo universitário… É uma ode àquele homem do campo que buscava nas canções, nas modas de viola, um alento, destacando cantores como Sérgio Reis e Roberta Miranda, fundamentais para a construção histórico-cultural do gênero no passado e na atualidade. O samba, composto por Armênio Poesia e cia. é um dos melhores, até então, da safra paulistana para 2018. Ouça abaixo:

ABRE A PORTEIRA QUE A DRAGÕES CHEGOU! 

Não é segredo para ninguém que a Dragões descobriu como se faz carnaval. A felicidade dos componentes é uma das marcas da escola paulistana, a nossa caçula. Não a toa que todos dizem que a escola é “lugar de gente feliz”. O futuro do samba paulista está na Dragões da Real. E nós estaremos observando os passos dessa novinha que tem o topo como ambição.

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