Carnaval SP: Análise dos desfiles do Anhembi

Por Redação Carnavalize

O relógio marcava 23h15min de sexta-feira (9) quando o Camisa Verde e Branco abriu o Carnaval do Anhembi em 2024. De volta ao grupo especial após 12 anos, a tradicional agremiação da Barra Funda falou do orixá Oxóssi em um cortejo que celebrou a ancestralidade e as realezas africanas. Com uma apresentação tranquila e sem sustos, a escola teve a bateria como principal destaque, imprimindo ao samba um andamento muito agradável e propício ao desenvolvimento dos desfilantes, com leveza e empolgação. No geral, o Camisa presenteou a sua comunidade e o público com um desfile digno, em termos visuais e de chão, e conectado ao DNA da agremiação, que ostenta uma gloriosa história no Carnaval paulistano.

Segunda escola da noite, a Barroca Zona Sul celebrou os seus 50 anos e o fundador e griô Pé Rachado, em uma apresentação marcada pela predominância dos tons de verde e rosa e pela homenagem à madrinha Estação Primeira de Mangueira. A agremiação apostou na nostalgia e na emoção. Caprichada plasticamente, a Barroca mostrou as credenciais para a consolidação no grupo especial, após mais uma consistente exibição.

Terceira a desfilar, a Dragões da Real invocou a africanidade e trouxe uma África luxuosa ao Anhembi, ao exaltar rainhas e reis da região. O abre-alas chamou a atenção por apostar na arte cinética e na dramatização. O conjunto alegórico e de fantasias se destacou pelo rebuscamento e pela excelência em termos de acabamento. A bateria lançou mão de bossas pertinentes ao enredo, trazendo um ritmo tipicamente africano. Com um cortejo imponente, requintado e quente, a escola mostrou que está na briga pelo primeiro título do Carnaval paulistano.

Quarta agremiação a pisar na Avenida, a Independente Tricolor contou a história das guerreiras Agojie do Reino de Daomé e celebrou a luta das mulheres pretas. O abre-alas impactou com grandes esculturas e excelente trabalho de pintura de arte. O samba-enredo confirmou sua qualidade, se mostrando valente e aguerrido, assim como a África guerreira narrada pela escola. O chão quente, impulsionado pelo samba e pela força da comunidade, associado ao requinte plástico credenciou a Independente na briga por uma posição confortável na apuração, e até mesmo a sonhar com algo maior como um retorno nas Campeãs.

Quinta escola da primeira noite, a Acadêmicos do Tatuapé homenageou a Mata de São João, na Bahia. A agremiação apresentou um conjunto visual arrojado, que se destacou pela volumetria, pelo trabalho cromático e pelo bom acabamento. Com um cortejo muito forte tecnicamente, agradável musicalmente e uma comunidade afiada no canto, a Tatuapé se colocou na briga pelas primeiras colocações.

Penúltima a desfilar, a Mancha Verde trouxe a agricultura e a vida do homem do campo para o Anhembi. A escola apostou em um conjunto visual de fácil leitura, que traduziu bem o enredo. O belo tapete cromático foi um destaque da agremiação, que desfilou com o dia amanhecendo. O horário avançado não desanimou os componentes, que mostraram a força da comunidade em um cortejo animado e com forte canto. As bossas da bateria valorizaram a potência do coro dos desfilantes. A arquibancada respondeu com empolgação, mostrando que o samba funcionou. Competente tecnicamente e ostentando um chão poderoso, a Mancha deixou a impressão de que disputa boas posições mais uma vez.

Já com o dia claro, o Rosas de Ouro entrou na Avenida para encerrar o primeiro dia de Carnaval paulistano. Celebrando os 70 anos do Parque Ibirapuera, a escola apostou em um desfile leve e lúdico, marcado pela cromática vibrante, com tons cítricos em predominância. O conjunto visual apresentou fácil leitura. A comissão de frente se destacou pela homenagem à cantora Rita Lee, que esteve ali representada por sua relação com o parque e a cidade de São Paulo. Em uma noite bastante equilibrada, a Roseira se agarrou na alegria da sua comunidade e na identificação com o enredo para buscar um bom resultado neste Carnaval.

Maior campeão do Carnaval paulistano, o Vai-Vai abriu a segunda noite no Anhembi celebrando o universo hip hop. O cortejo se apresentou como um grande manifesto de cultura popular, de cultura de rua. A forte mensagem política se aliou a um visual caprichado e de fácil leitura. A bateria empolgou com as bossas e garantiu um ótimo andamento ao samba, que funcionou. Com um enredo amarrado, e quesitos plásticos e de chão bem defendidos, a tradicional agremiação mostrou que o seu lugar é no grupo especial.

Segunda a desfilar no sábado, a Tom Maior trouxe uma releitura indígena da mitologia grega de Orfeu e Eurídice. Com um visual arrojado, a escola encantou em termos plásticos. A arte indígena foi vista nos figurinos, que impressionaram pelo bom gosto, pelas soluções criativas, pelo acabamento de qualidade e pelo trabalho cromático. O samba confirmou a sua excelência e teve primoroso desempenho na voz do intérprete Gilsinho. Pisando forte na Avenida, a Tom impactou e se colocou na briga pelas melhores colocações, mesmo com alguns pequenos percalços de evolução, ao abrir certos espaçamentos excessivos entre alas.

Defendendo o título de campeã, a Mocidade Alegre foi a terceira escola da noite e embarcou na expedição do poeta Mário de Andrade em busca da identidade nacional. Extremamente técnica, a agremiação apresentou um cortejo competente em todos os quesitos. A bateria não economizou nas bossas e garantiu um desfile empolgante, em termos de canto, dança e interação com o público. O destaque visual foi a ala das baianas, que impactou com uma estética inovadora, em alusão à arte escultural de Aleijadinho e ao barroco mineiro. Primorosa nos elementos narrativos, na plástica e no chão, a Morada do Samba se credenciou a disputar o bicampeonato.

Quarta a pisar na Avenida, a Gaviões da Fiel apostou em um enredo delirante e propôs uma viagem ao infinito, em diferentes manifestações. Contudo, o desenvolvimento deixou um pouco a desejar e pode custar alguns décimos no quesito enredo. O cortejo foi leve e animado, tendo o chão e a parte musical como pontos fortes. O samba rendeu e a comunicação com a arquibancada aconteceu. Sem enfrentar contratempos, a escola mostrou que briga por uma posição confortável neste Carnaval.

Quinta agremiação da segunda noite, a Águia de Ouro celebrou a história do rádio. O enredo passeou por grandes momentos e personagens históricos ligados ao meio de comunicação. Com uma apresentação segura, a escola se destacou pelo bom desempenho da bateria e pelo canto forte da comunidade. Ainda que não tenha arrebatado o Anhembi, a cabeça da escola impactou visualmente. A Águia, assim como outras coirmãs, apostou em alegorias com dramatização e trazendo esculturas em arte cinética. No geral, a escola da Pompeia mostrou qualidades que a credenciam a brigar até pelo retorno nas Campeãs.

Penúltimo a desfilar, o Império de Casa Verde sacudiu a Avenida na emocionante homenagem à grande cantora e ícone da cultura nortista e brasileira Fafá de Belém. Com um chão avassalador, uma bateria potente e uma comunidade vibrante, a escola despontou como favorita à conquista do título. O samba muito elogiado foi o combustível de um cortejo muito forte em todos os quesitos. O conjunto visual impressionou pela qualidade das indumentárias e das alegorias. O tapete cromático da agremiação se mostrou primoroso. O capricho plástico encantou e colocou o tigre da Casa Verde em plenas condições de disputa do lugar mais alto do pódio.

Fechando com chave de ouro o Carnaval paulistano em 2024, o Acadêmicos do Tucuruvi invocou a ancestralidade para abordar a filosofia de Ifá. Com um excelente samba-enredo, o cortejo se transformou em uma procissão. A luz do dia valorizou o conjunto visual da escola, que impactou em sua abertura com uma comissão de frente de forte apelo emocional e um abre-alas belíssimo em tons avermelhados. Cantando forte, a comunidade mostrou um vigor impressionante para o horário avançado. Foi um grande encerramento, que celebrou o sagrado, e colocou a agremiação da Zona Norte na disputa por uma boa posição, até mesmo um retorno no Desfile das Campeãs.

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