Em mais um dia de forte chuvas no Rio de Janeiro, foi dada a largada do principal grupo das escolas de samba com pouco mais de meia hora de atraso. Com sete escolas se apresentando, se viu uma forte crise criativa na festa nos quesitos de enredo e alegorias, com passagens muito aquém do esperado em alguns aspectos. Das narrativas que passaram, poucas se destacaram por sua clareza e bom desenvolvimento, mostrando que faltou discurso nesse primeiro dia de apresentações.
Abrindo os cortejos, o Império Serrano fez um desfile que arriscou desde a adaptação da música de Gonzaguinha até o elemento cenográfico que serviu de palco para apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira. Com claros problemas de barracão, o enredo sobre a Vida se mostrou um enigma e muito abstrato, não rendendo alegorias e fantasias de fácil leitura. A explosão esperada no canto da escola com a famosa canção da MPB também não aconteceu. Colocando a Serrinha como favorita ao rebaixamento.
Segunda escola a se apresentar, a Viradouro mostrou a força de sua comunidade e se destacou com folga nessa primeira noite de desfiles irregulares. Com um excelente trabalho estético de Paulo Barros, a escola passou bem em vários quesitos, só deixando a desejar em enredo e samba-enredo. O tema sobre mundos imaginários não teve um bom desenvolvimento, ao contrário da furacão vermelho e branco comandada por Mestre Ciça. Mais uma escola que teve problemas em tecer um enredo bem amarrado foi a Grande Rio, a escola falou do jeitinho brasileiro numa narrativa confusa e sem pontos altos. Com uma plástica comprometida e pouco inspirada do casal Lage, a escola teve como seu único destaque a comunidade de Caxias que entoou o seu samba-enredo duvidoso de maneira valente.
Louvando o orixá Xangô, o Salgueiro pisou forte na avenida e fez um desfile sem grandes sustos. A escola foi uma das poucas que não apresentou grandes problemas em enredo, mostrando um conjunto de alegorias e fantasias que começou bem e deixou a desejar nos últimos setores. Com um samba explosivo, a vermelho e branco enfrentou ainda problemas de evolução que podem fazê-la perder décimos preciosos na briga pela vaga nas Campeãs. Na sequência, a Beija-Flor passou irreconhecível na pista. Mais uma vez apostando em uma estética cênica e mais simples, a escola não se comunicou tão bem com o público através de um enredo confuso e mal amarrada. Dos quesitos visuais, apenas as fantasias se destacaram. O samba mediano da Soberana foi bem cantada pelo componentes, mas sem explodir.
Em mais uma apresentação marcada por altos e baixos, a Imperatriz causou apreensão na pista ao apresentar problemas em colocar seu abre-alas no desfile. A verde e branco abriu um grande buraco em seu início, o que acabou prejudicando toda a evolução da agremiação. Mais uma escola que apostou em alegorias cênicas e compactas, que se comunicaram bem com um enredo simples e contado de maneira adequada. A bateria de mestre Lolo foi o ponto alto do cortejo.
Encerrando a noite, a Unidos da Tijuca fez um desfile que divide opiniões. Fato é que a escola que contou com o talento de Laíla para fazer um desfile técnico, que apostou na emoção e em alegorias e alas coreografadas. O samba-enredo foi muito bem cantado por Wantuir e pela comunidade do Borel. Apesar disso, os quesitos de enredo, fantasias e comissão de frente deixaram a desejar.
Da primeira noite de desfiles, o que se viu foram muitas escolas tentando inovar e usando da cartilha que fez a Beija-Flor ser campeã no ano passado: um linguagem visual simples e teatral com forte comunicação com o público. Apesar das tentativas, nenhuma escola conseguiu alcançar excelência na proposta, muito por conta da falta das boas narrativas da noite. Dentre todas, a Viradouro e Unidos da Tijuca se destacaram em diversos quesitos e podem brigar pelas primeiras posições. Resta saber como os jurados vão interpretar o que se passou na pista e como serão as apresentações de segunda-feira.
Saiba como foram cada apresentação em detalhes: