“Como será?”: Coreógrafos de Comissão de Frente comentam a preparação para 2018

O Carnavalize compareceu à Carnavália Sambacon e ficou levemente perdido em meio a tantas celebridades e figuras importantes do samba. A feira, nas suas últimas edições, se firmou como ponto de encontro de quem faz a festa nos mais diversos segmentos, num ambiente descontraído, fora da tensão dos desfiles oficiais. Aproveitando isso, fizemos uma série de entrevistas com diferentes segmentos das escolas e as dividimos em grupos. Para finalizar a série, saiba mais sobre a trajetória e o que estão preparando grandes coreógrafos de Comissões de Frente.
Primeiro, a renomada dupla Priscilla Motta e Rodrigo Negri revela um pouco do impacto do corte de verba no seu trabalho e comenta sobre a sua trajetória e fixação como grandes nomes da festa no quesito de abertura nos últimos anos. Logo depois, o também renomado Marcelo Misailidis se posiciona a partir do corte de verba e como isso afeta seu quesito.
Priscilla e Rodrigo fizeram história na Tijuca e estão há três carnavais na Grande Rio.
– CARNAVALIZE: Vocês foram os responsáveis pela Comissão de Frente que revolucionou o quesito, em 2010, na Unidos da Tijuca. A partir daí, as aberturas dos desfiles viraram um verdadeiro show. Como o corte de verba acerta diretamente o espetáculo, o trabalho de vocês, para o próximo carnaval?

– PRISCILLA MOTTA: Realmente, o quesito cresceu, dentro do carnaval, com certeza, foi o quesito que mais evoluiu. O que temos que fazer é usar a criatividade e pensar o que ela pode nos proporcionar com o recurso financeiro ou não. Claro que com o orçamento menor somos obrigados a dar um passo atrás, mas ainda temos que fazer um adaptação para manter o nível técnico. 

– RODRIGO NEGRI: Eu acho que o principal é a questão da valorização do profissional. Inclusive, os nossos bailarinos são remunerados; para a gente exigir, a gente precisa retribuir. Então, a parte da remuneração dos nossos bailarinos é uma parte que fica complicada. Temos que nos adaptar, é claro que o projeto não pode ser comprometido, mas precisamos apertar, de repente, o número de ensaios, a carga horária…  tudo ajusto à nossa realidade. 

– CARNAVALIZE: vocês trabalham sempre com grupos grandes, que envolvem cerca de 30 pessoas que se revezam e fazem trocas nas apresentações. Acaba sendo um setor da escola muito autônomo e as pessoas muitas vezes não sabem da antecedência que vocês têm em relação ao início e rotina de ensaios. Vocês ficaram um pouco à sombra do Paulo Barros, mas, mesmo depois da saída da Tijuca, ainda mostraram a autonomia, criatividade e competência que têm no trabalho. Gostaríamos que falassem um pouco sobre a profissionalização dessa área. 

– PRISCILLA: Normalmente, a comissão de frente é atrelada ao desfile como um todo; ela é um segmento do desfile, tem a ver com o enredo e a gente busca muito isso. Nossas comissões são de leitura fácil e diretamente ligadas ao que será apresentado no enredo. É muito bom quando temos o carnavalesco ao nosso lado, e esse ano faremos nosso primeiro trabalho ao lado do casal Lage e estamos recebendo um apoio super bacana. Cada carnavalesco gosta de trabalhar de uma maneira e, realmente, na Grande Rio conseguimos uma liberdade muito bacana; a gente pôde levar na íntegra os nossos projetos e isso foi muito bom pra gente. Quando o carnavalesco vem pra somar com o nosso trabalho o resultado é excepcional. 
– RODRIGO: Com relação aos ensaios, normalmente definimos o projeto e lá para outubro ou novembro começamos a ensaiar com os bailarinos cerca de três vezes na semana até dezembro. Em janeiro e fevereiro, são todos os dias, de segunda a sexta e vai dependendo da necessidade do projeto. Às vezes, precisamos trabalhar de 5 a 6 horas dentro dos horários malucos da madrugada para proteger e guardar o segredo, para que no momento da Avenida consigamos explodir e contagiar o público. 
As comissões da dupla são famosas pelos truques de mágica e surpresas inesperadas.
– CARNAVALIZE: Como funciona essa pesquisa de referências a respeito do que será apresentado? Vocês se inspiram em show de mágica, espetáculos ou algo do tipo? De onde vocês tiram o coelho da cartola? 
– PRISCILLA: É curioso porque cada ano é um projeto e no ano do segredo todo mundo falou “ah, eles fazem mágica!”, e estávamos fazendo mágica, mas naquele ano específico. Depois, ficamos atrelados a essa etiqueta do ilusionismo, mas, na verdade, somos artistas, viajamos, vamos a museus, assistimos peças, musicais, e claro que isso tem uma influência. Mas o que a gente busca mesmo é criar algo em cima do enredo proposto; não é que a gente pegue uma ideia e tente encaixar naquilo a ser apresentado, normalmente não é assim que funciona. Mas é bom quando temos uma referência e podemos usar no carnaval, sabendo que é um fator complicador, porque é a céu aberto; pode chover, pode ventar, as pessoas veem de todos os ângulos, de longe, de perto, de cima, de baixo, é um espetáculo televisionado. A gente se preocupa muito com isso e, claro, não para de trabalhar. 
– RODRIGO: A gente pensa sempre em trazer uma novidade, de alguma forma, se comunicar diretamente com o público. E é um trabalho que a gente termina e já emenda no outro, é só questão de esperar a escola anunciar o enredo e a gente já começa a pensar de uma forma bem tranquila. Conversamos com carnavalesco, vamos pegando ideias e referências e outubro é o limite para fecharmos o projeto. 

– CARNAVALIZE: Para encerrar, como foi trabalhar com a Ivete num ‘casamento’ de coreógrafos tão renomados com uma artista e homenageada tão conhecida e aclamada pelo público?
– PRISCILLA: nos demos muito bem, porque ela é louca, insana por trabalho, assim como nós (risos). A gente se deu muito bem, logo de cara, e a primeira coisa que ela fez foi chamar a gente para ir na casa dela. Aí nosso primeiro ensaio foi com a família toda dela assistindo, tomamos um chá da tarde e ficamos até dez da noite conversando. Quando pensamos que íamos pro hotel descansar, ela jogou a gente numa van e fomos parar num show dela, então foi incrível. Ficamos amigos, nos falamos até hoje e estamos com projetos para o futuro. 
Marcelo Misailidis se destacou em suas coreografias nos últimos anos, o profissional deu expediente na Vila Isabel no começo dessa década, sendo responsável pelas belas aberturas dos desfiles de 2012 e 2013 da azul e branco de Noel. Nos últimos anos, ele se transferiu para Nilópolis e vem realizando mais belos trabalhos na soberana, como as comissões de 2016 e 2017. 

– CARNAVALIZE: Você foi um dos primeiros nomes do mundo do samba que manifestaram o descontentamento com o prefeito a partir da notícia da redução da subvenção. Essa é uma medida, claramente, que afeta o carnaval como um todo em sua questão cultural, mas, dentro dos setores de uma escola de samba, como esse corte afeta diretamente o seu trabalho enquanto coreógrafo?
– MARCELO: O carnaval como um todo vem se tornando cada vez mais caro, naturalmente, pela questão inflacionária, pela questão da profissionalização de diversos setores das escolas e a subvenção, há anos e mais anos, permanece sempre a mesma. Naturalmente, já sofríamos uma perda no sentido da possibilidade da queda da quantia subsidiada; o corte afeta a questão de uma forma mais aguda. A questão, agora, é planejamento, elaborar como vai contornar a situação tendo que manter a qualidade do espetáculo mediante ao potencial do investimento. O maior perigo é que o potencial da qualidade do que vai ser apresentado cai. 
– CARNAVALIZE: Por fim, há algo que possa adiantar a respeito do enredo da Beija-Flor e do que você vai preparar com a comissão para 2018? Já há algo fechado?

– MARCELO: Ainda não sabemos de nada. A situação fica complicada até mesmo por conta desse corte, e estamos esperando o máximo possível para que talvez consigamos uma ajuda financeira para o ano que vem. 
A Beija-Flor de Nilópolis anunciou que o seu enredo será lançado no próximo dia 30, domingo.

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