André Marins e Agnaldo Corrêa são os artistas que desenvolverão o tema
Almejando ascender à Série Prata, a Lins Imperial, em 2025, terá como enredo “Galanga Muzinga – A saga de Chico Rei”. A narrativa, debruçada na tradição oral, abordará o ideal de liberdade que emana do mitológico Galanga Muzinga das Áfricas, o Chico Rei das Minas Gerais. Serão abordados aspectos da cultura banto, da qual Muzinga teria se originado, bem como a sua trajetória mítica por Minas – tornando-se o libertador de escravizados a partir de seu trabalho na Mina da Encardideira – e a sua contribuição para a formação da identidade preta mineira, sobretudo, ouropretana, como por meio da construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e de Santa Ifigênia dos Homens Pretos e por meio da celebração do Reinado.
– A ideia de enredo surgiu em 2022, com uma viagem da equipe a Ouro Preto para fazermos pesquisa de campo. Ouvimos pesquisadores ouropretanos que estudam o mítico Chico Rei, como Kedison Geraldo, capitão da Guarda de Moçambique, a historiadora e pesquisadora Sidnea Santos, bem como Toninho Lima, o atual zelador da Mina do Chico Rei. Após essa imersão na cultura preta mineira, decidimos, por certo, adotar novamente uma narrativa afrocentrada, o que vem gerando bons enredos e sambas em nossa escola. Estamos confiantes de que nossa escolha nos levará à Série Prata – avalia o presidente Flávio Mello.
Para o enredista e diretor cultural Mateus Pranto, popularizou-se, no imaginário coletivo, a ideia de que Chico Rei escondia ouro em seus cabelos e, por meio dessa prática de apropriação indevida, comprou a sua liberdade e a de seus pares. Esse pensamento reforça estereótipos racistas que associam pessoas pretas a práticas criminosas. “Pretendemos combatê-lo ao mostrar que, na verdade, Chico Rei, a partir do fruto do seu trabalho incessante na Mina da Encardideira, conseguiu negociar a sua alforria e a de outros escravizados”, explica.
– A prática de alforria entre escravizados era comum na Velha Minas. Embora não haja uma comprovação histórica de que um homem chamado Chico Rei tenha realmente existido, é fato que existiram muitos outros que tiveram uma trajetória semelhante à de Muzinga. É a partir desse imaginário, de um personagem que representa uma coletividade, que nos debruçamos para a construção do enredo. A luta é ancestral, diz o enredista e diretor cultural Raphael Homem.
Sem perder tempo, a Lins Imperial já trabalha na criação de fantasias e alegorias. O objetivo da escola é retratar uma história gloriosa sobre Galanga Muzinga, seu reinado na África, o seu papel de liderança entre os escravizados das minas, bem como o de libertador destes, e a manutenção da sua história por meio do Reinado ouropretano. “Isso é a certeza de um grande carnaval!”, comemora o carnavalesco Agnaldo Rodrigues que ao lado de André Marins assina o desenvolvimento do próximo carnaval da escola com auxílio de pesquisa dos enredistas e diretores culturais Mateus Pranto e Raphael Homem.
O cartaz, assinado pelo designer Rodrigo Cardoso, é inspirado nos estandartes coloridos muito comuns nos reinados ouropretanos. Ao centro, representando Chico Rei altivo sob Ouro Preto, está Jackson Senhorinho o primeiro mestre-sala da agremiação.
A Lins Imperial será a 4ª a desfilar, na sexta-feira, 07 de março de 2025, data de seu aniversário de 62 anos de fundação, pela Série Bronze. O samba-enredo, que será encomendado e a sinopse, serão divulgados em agosto.
Cartaz: Rodrigo Cardoso