Uma Rosa para a Imperatriz – 18 carnavais de um casamento inesquecível

Ela voltou! Premiada, multi-facetada, acadêmica e popular. Rosa Magalhães é das maiores artistas brasileiras em tempos. Completando cinquenta anos de atuação no carnaval, ela retorna a escola com quem teve o casamento mais duradouro e frutífero. São cinco títulos em dezoito anos, dois vice-campeonatos, três terceiros lugares… Em apenas quatro oportunidades dessa parceria, Rosa e escola de Romas não voltaram nas campeãs. São números impressionantes!
Através de suas narrativas, a professor fez jus a alcunhar ao dar tantas aulas na Avenida. Celebrou brasis, misturando densos caldeirões com uma alquimia única, unindo referências históricas e literárias a narrativas com sabores que só ela sabe dar! Juntou povos pela diáspora, tingiu de ondas e mares a pista da Avenida. No balanço dos navios, viajou o mundo sem nunca deixar de celebrar o nosso povo com um jeito bem-humorado que só ela tem.
Reuniu ao torno de si profissionais incríveis e invetivos, como o talentoso figurinista Mauro Leite que há mais de três décadas atua com a professora. Além de projetistas, arquitetos, cenógrafos, aderecistas, maquiadores, peruqueiras. Nomes que reforçam o caráter coletivo da festa e mostram seu poder de liderança e sua missão de professora de passar saberes adiante. 
Embarque com a gente rumo a uma viagem pelos carnavais de Rosa na Imperatriz!


1992 – Não existe pecado abaixo do Equador 
(3º lugar)

A Comissão de frente do desfile de 92. (Foto de Wigder Frota)

Rosa chegou em Ramos após uma bem-sucedida passagem no Salgueiro, com a doença de Viriato Ferreira que havia assinado o carnaval da verde e branco, ela foi chamada para assumir a agremiação. A estreia foi com um enredo em comemoração aos 500 anos de descoberta das Américas, brincava com a visão de paraíso perdido dos colonizadores se inspirando em registros literários. 
Onça: um dos animais mais recorrentes dos desfiles de Rosa. (Foto de Wigder Frota)
Como filha de acadêmicos, Rosa sempre traz referências literárias para sua obra, na ocasião foi o livro de Visão de Paraíso, de Sérgio Buarque de Holanda. Outro Buarque de Holanda, o Chico, ajudou com o título do enredo, extraído de umas das musicas da peça Calabar. Foi transformando papagaios em anjos e indígenas em Adão e Eva, que Rosa mostrou seu gosto pelo tropical numa bela apresentação.  
Barcos: alegorias que Rosa adora levar para a avenida. (Foto de Wigder Frota)
Para história, a ala dos peixinhos recriava um grande oceano com um tecido bem pintado. Uma solução simples e genial, que depois virou lugar comum no carnaval. Guardava ainda uma inspiração na obra da neoconcreta Lygia Pape, que rendeu uma polêmica e um processo da artista da obra original. 

A ala de 92 e a obra da artista Lygia Pape.

1993 – Marquês que é marquês do sassarico é freguês! (Vice-campeã)

Enormes pierrôs animados girando no abre-alas (Foto de Wigder Frota)

O bicentenário do Marquês de Sapucaí rendeu um enredo onde Rosa reinterpretava a história do carnaval através de seus três grandes criadores: Arlindo Rodrigues, Joãosinho Trinta e Rosa Magalhães. Um olhar gentil e atento da professora sobre seus mestres e a história da folia no Brasil desde seus primórdios. 
A comissão de 93 foi a primeira assinada por Fábio de Mello. (Foto de Wigder Frota)

No carnaval, Rosa contou com o auxílio luxuosa de Viriato Ferreira, carnavalesco da verde e branco em 91, que enfrentava graves problemas de saúde e tinha indicado a professora ao cargo de carnavalesca da escola de Ramos. Ele chegou a desenhar alguns croquis para o desfile, mas faleceu precocemente durante o processo de feitura do desfile. Assim, a última alegoria trazia a mensagem “No sassarico do Marquês, tem mais um freguês: Viriato Ferreira”, em uma homenagem a esse enorme figurinista.

1994 – Catarina de Médic’is na corte dos Tupinambôs e Tabajères 

(Campeã)

Muitas onças! (Foto de Wigder Frota)
Histórias que só Rosa Magalhães pode e sabe contar – parte 1: uma festa de índios brasileiros para uma corte francesa. O encontro exótico entre duas  “civilizações” tão diferentes: o índio é um forte!
Barcos e imagens marítimas: lugares comuns que Rosa adora explorar (Foto de Wigder Frota)

Depois de anos procurando referências para esse enredo que tinha em mente fazia algum tempo, foi dividindo um táxi, que Rosa conseguiu as informações que faltavam. O felizardo era diretor do Arquivo da Cidade e sabia de documento em português narrando a festa francesa. Juntando outros relatos e referências veio um aula de bom-gosto, unindo seus figurinos requintados com cenários bem alinhados.
O índio é um forte! (Foto de Wigder Frota)

Para a história: A parceria de Rosa Magalhães com o coreógrafo Fábio de Mello revolucionou o quesito Comissão de Frente, criando danças bem coreografadas e amarradas em elementos simples mas de impacto: a beleza dos leques dourados e verdes. 
Os belos leques da Comissão daquele ano.

1995 – Mais vale um jegue que me carregue 
que um camelo que me derrube, lá no Ceará… 

(Campeã)

Sombrinhas: mas um truque simples e de efeito na CF.
Histórias que só Rosa Magalhães pode contar – parte 2: a expedição que exportou camelos para o sertão brasileiro. A história que ocorreu no século XIX terminou com tempero clássico da professora,  valorizando a força do jegue, autêntico produto nacional em detrimento do exportado: 
Mas vale a simplicidade, a criar mil novidades e gerar complicações. Esquecendo o bom e útil renegar o que é nosso, gera insatisfação…”

Fuxicos, borados, colagens: técnicas populares no desfile de 95. (Foto de Wigder Frota)

Como fazer um patrocínio: o enredo foi rebatizado após uma parceria comercial com o governo do Ceará, o título já extenso ganhou o plus “lá no Ceará” para reforçar onde se passava a história. No desfile, famosos do estado, como Renato Aragão e Fagner desfilaram. Na comissão, enormes guarda-chuvas dourados e verdes davam um efeito promissor.
Imagens da corte: figuras monárquicas são outra recorrência nos carnavais de Rosa. (Foto de Wigder Frota)


1996 – Imperatriz Leopoldinense Honrosamente Apresenta: Leopoldina, a Imperatriz do Brasil  (Vice-campeã)

O tropicalíssimo abre-alas daquele ano. (Foto de Wigder Frota)

Patrocinada pelo governo Austríaco, um dos grandes enredos de Rosa na Imperatriz foi o que contava a história de Maria Leopoldina, a monarca brasileira que dá nome a escola de Ramos. Na narrativa: uma ode a brasilidade e ao nosso povo com uma clara mensagem ao final, apesar de sua importância ter sido relegada, Leopoldina também era uma das responsáveis pela nossa independência. Na Comissão de Frente, nobres tocadores de violinos repletos de frutos mostravam um tropicalismo de Rosa: uma mistura inusitada de signos tropicais e europeus.
Além da sua genialidade ao narrar e descobrir histórias curiosas, Rosa sempre esteve bem amparada por uma ala de compositores das mais capacitadas e brilhantes, que sabiam reproduzir as histórias da professora com maestria, sofisticação e simplicidade. Os versos descritivos e genias de 96 são um dos exemplos mais claros. Valeu o Estandarte de Ouro em samba. 
Os nobres tropicalistas da Comissão de Frente de 96. (Foto de Wigder Frota)

Viagem internacional: Rosa é uma das carnavalescas que mais passeou com suas criações da folia em museus e instituições culturais. Depois do Parque Lage (em 90) e Museu Histórico Nacional (95), a artista expôs peças do desfile sobre a Imperatriz na terra de origem da monarca: a Áustria. 

1997 – Eu sou da lira, não posso negar… (6º lugar)

Piano me diz quem é… a pioneira! As teclas do piano da CF. (Foto de Wigder Frota)
E vamos de mais uma homenagem e também feminista: a história da pioneira Chiquinha Gonzaga. Mais uma aula de brasilidade e folia. Uma grande celebração. Na Comissão, mais um efeito marcantes: enormes capas se abriam trazendo as teclas do piano da homenageada. 
Uma das belas alegorias do desfile mal classificado de 97 (Foto de Wigder Frota)

A alcunha de certinha e técnica da verde e branco da zona da Leopoldina foi para o buraco esse ano: o belo desfile teve problemas sérios de evolução, com vários clarões abertos na pista e a segunda alegoria que também deu problema, complicando a passagem da agremiação. Foi um sexto lugar amargo apesar do bom trabalho plástico e do animado samba composto pelo grande Zé Katimba.   

1998 – Quase Ano 2000… (3º lugar)

Abre-alas: na virada do milênio, o formato com um globo giratório era muito reutilizado por Rosa.
(Foto de Wigder Frota)
Rosa high-tech? Brincando com a alcunha do seu grande rival Renato Lage naquela década, a professora surpreendeu a todos com um enredo sobre as visões de futuro produzidas pela humanidade em livros, filmes e na cultura pop em geral. Afinal, faltava pouco pro século XXI e a virada do milênio aterrorizava a humanidade.
A última alegoria de 98 fazia um clamor pela preservação. (Foto de Wigder Frota)
Mostrando que era muito mais que uma pesquisadora nata e acadêmica, Rosa mergulhou numa estética futurista e pop da cultura de massa, com direito a Superman e Robôs em referência o filme Metrópolis. Terminando num grito a favor da preservação do planeta. 
A bela bateria com balões. (Foto de Wigder Frota)

Para a história: uma das mais belas e revolucionárias fantasias de bateria que a Sapucaí já vi, hastes com balões davam um efeito incrível ao grupo de rimistas que representavam robôs e supercomputadores. 

1999 – Brasil mostra a sua cara em… Theatrum Rerum Naturalium Brasiliae (Campeã) 

Anjinhos barrocos: não pode faltar em desfile da mestra. (Foto de Wigder Frota)

Histórias que só Rosa Magalhães pode contar – parte 3:  O Teatro com as coisas naturais do Brasil um livro achado após anos perdidos, produzido por holandeses catalogando nossa fauna e flora, mostrava assim uma página esquecida da nossa história social e artística. 
A bela ala que lembrava seres aquáticos. (Foto de Wigder Frota)

Mais uma característica do trabalho da professora: apesar da história complexa, tudo foi contado de maneira simples. Nas alas e alegorias, mais um belo e vibrante mergulho em signos tropicais explorando uma aula cromática impecável.
Onças em meio a biblioteca: imagens bem características do estilo de Rosa. (Foto de Wigder Frota)
Uma das páginas mais felizes da parceria entre Rosa-Imperatriz foi as vezes que a artista criou, ao lado de seu figurinista Mauro Leite, alas de baianas memoráveis. Seja pela sua riqueza estética e delicadeza, as borboletas de 99 são uma dos exemplos mais belos e singelos. Foram nada menos que 7 estandartes de ouros da categoria em dezoito anos de parceria. 
As belíssimas e premiadas baianas de 99. (Foto de Wigder Frota)

2000 – Quem descobriu o Brasil, foi seu Cabral, no dia 22 de abril, dois meses depois do carnaval (Campeã)

Comissão e abre-alas: uma formato de abertura impactante mesmo que com poucos elementos. (Foto de Wigder Frota)
Nos quinhentos anos da chegada dos portugueses, mais um mergulho de Rosa na história brasileira, dessa vez sem tanta invetividade mas uma visão mais linear e clássico do encontro de raças que deu origem a nação. Na comissão de frente, mais um trabalho inesquecível com belos adereços multi-usos que formavam desde uma caravela aos monstros marinhos que assombravam o pensamento da época. 
O lendário casal Chiquiho e Maria Helena. (Foto de Wigder Frota)
Para a lembrança, um dos mais belos figurinos que Rosa criou para inesquecível casal de mestre-sala e porta-bandeira Maria Helena e Chiquinho. Elementos africanos se destacavam na indumentária de mãe e filho que fizeram história e foram ao lado da carnavalesco e do intérprete Preto Joia, da rainha de bateria Luiza Brunet, personagens inesquecíveis desse era de ouro.
Rei momo: umas das muitas figuras da iconografia de Rosa Magalhães. (Foto de Wigder Frota)
O lado festivo e jocoso da artista apareceu ao nomear o enredo inspirado numa marchinha de Lamartine Babo, enredo campeão da agremiação em 1981, que apareceu homenageado na última alegoria da escola ao lado de um enorme Rei Momo. Para finalizar, Rosa sempre gostou de uma festa!

2001 – Cana-caiana, cana roxa, cana fita, cana preta, amarela, Pernambuco… Quero vê descê o suco, na pancada do ganzá (Campeã)

O belo efeito da Comissão de Frente daquele ano. (Foto de Wigder Frota)
Aula de Brasil e Narrativa 8: como transformar um enredo que tinha tudo para ser burocrático e histórico, num delicioso passeio multi-cultural. A viagem que passeou de Veneza ao oriente, não perdeu o sabor brasileiro característico e que exaltou nossa cultural numa singela homenagem e lúdica homenagem ao compositor Carlos Cachaça. 
A bela alegoria sobre as Cruzadas. (Foto de Wigder Frota)

As escolhas de Rosa Magalhães podem até ser simples em algumas ocasiões, mas nunca óbvias. No enredo sobre a cana e cachaça, o último setor se vestia de verde e rosa e até fez os que torciam o nariz para a escola certinha de Ramos a olharem com mais carinho. Curiosidade é que a Imperatriz veio exatamente antes da Estação Primeira naquela ocasião e ainda completada 73 anos de fundação.
Uma das alas homenageando o verde e rosa mangueirense. (Foto de Wigder Frota)
Com a repercussão do desfile que passava por Veneza, Rosa após aquela apresentação foi parar num dos eventos de arte mais prestigiado do mundo: a Bienal de Veneza. Ao lado de outros artistas consagrados, como Vik Muniz, Ernesto Neto, Miguel do Rio Branco e Tunga, a carnavalesca ocupou com suas fantasias e adereços o pavilhão brasileira na mostra de arte internacional.  
Anjinhos barrocos: sempre! (Foto de Wigder Frota)

2002 – Goitacazes… Tupi or not Tupi in a South American Way (3º lugar)

O colorido tropical da alegoria sobre Carmem Miranda. (Foto de Wigder Frota)

Campos: vai um dinheiro aí para falar da minha história? 
*Rosa revira vários livros atrás de um forma de contar esse enredo*
Foi lendo uma ata da câmera de vereadores que uma discussão lhe chamou atenção: tinha que ter ou não, o Goitazaces no nome da cidade? 
pesquisar: “goitazaces eram índios canibais”… 
Canibais? Antropofagia… Carlos Gomes… Modernismo… Tropicalismo… Carmem Miranda! 
Um enredo sobre a antropofagia, afinal. Quem poderia esperar.
Rosa: Tá pronto, Campos! 
Campos: Essa enredo não é sobre a gente! Devolve o meu dinheiro aqui. 
A alegoria com elementos de Tarsila. (Foto de Wigder Frota)
Tarsila e Rosa: a artista modernista é uma referência constante do trabalho da professora, o traço da pintora apareceu de maneira marcantes em um dos setores do desfile, reproduzindo a obra em fantasias e alegorias. Antropofagia pura! 
Os bichos-papões da Comissão de Frente. (Foto de Wigder Frota)
Na comissão, o lado jocoso e fofo da professora: enormes bichos papões engoliam a Sapucaí.
Uma aula de enredo em cultura e história da arte brasileira. Tantas histórias e análises sobre esse carnaval que já rendeu até pesquisa de mestrado. Recomendo A antropofagia de Rosa Magalhães, do Leonardo Bora, editado pelo Selo Carnavalize. Saiba mais sobre esse desfile na coluna Do Setor 1 à Apoteose, clique aqui.
Saiba mais sobre o livro clicando na aba Selo Carnavalize.

2003 – “Nem todo pirata tem a perna de pau, o olho de vidro e a cara de mau…”  (4º lugar)

A porta-bandeira Maria Helena e as alas de baianas. (Foto de Wigder Frota)
Foi após ter seu cartão de crédito clonado, que Rosa teve a ideia de uma narrativa menos inspirada mas muito interessante sobre a pirataria através dos tempos. O samba-enredo era mais pra cima do que o habitual, mostrando uma preocupação da Imperatriz em tentar se livrar da fama de certinha e técnica. 
(Foto de Wigder Frota)
Aula de artes: uma das alegorias mais bonitas do desfile seria uma caveira repleta de diamantes. Feita primeiro por Rosa Magalhães, a mesma ideia seria refeita pela polêmico artista britânico Damien Hisrt e se tornaria uma obra contemporânea famosa no circuito artístico institucionalizado. 
A caveira coberta de jóias: arte contemporânea na veia. (Foto de Wigder Frota)

2004 – Breazail (5º lugar)

A enorme bruxa do abre-alas. (Foto de Wigder Frota)

Ah é, tá todo mundo fazendo nome de enredo gigantesco só por minha culpa? Então, o meu título só vai ter oito letras. 
E vamos de mais um olé de patrocínio: Cabo Frio > Pau-brasil > brasa > vermelho. 
Os moisaicos que lembravam a arte de Gaudí.
Na abertura, pelas bruxas de vestidos verdes e meias vermelhas mostravam bem o grande caldeirão que a deusa ia oferecer.  Mais uma narrativa rebuscada que falava de utopias, imaginários viajantes e diásporas: Rosa trazia nesse carnaval referências a artistas como Bosch e Gaudí. Mais uma característica da professora:uma viagem multicultural menos óbvia e mais fragmentada. 

2005 – Uma delirante confusão fabulística (4º lugar)

O belo abre-alas sobre o escritor Hans Christian Andersen. (Foto de Wigder Frota)
Uma simples biografia aos bicentenário de Hans Christian Andersen? Nada disso! Uma delirante história juntando as histórias do dinamarquês com as brasileiríssimas narrativas de Monteiro Lobato. 
Nada de gigantismo! Os famosos caixotinhos de Rosa são uma aula na necessidade desmedida de alegorias gigantescas que nada dizem e brilham por brilhar.  Neste ano, Rosa criou brilhantes cenários que mostravam sua maestria criativa em detalhes singelos e vibrantes. 
(Foto de Wigder Frota)

O carro da porcelana chinesa é um dos meus favoritos. O samba-enredo ajudou a consagrar a escola de Ramos mais uma vez, conseguiu de maneira inteligente inserir o nome do homenageado em seus versos animados e poéticos.
Um enorme e multi-colorido carro que lembrava um quarto infantil. (Foto de Wigder Frota)
E tem mais exposição! Voltando a frequentar o cenário dos museus e centros culturais, o carnaval deste ano também lhe rendeu frutos no meio das artes institucionalizadas. Pequenos manequins do figurinos e maquetes dos setores sobre o escrito europeu ficaram em exibição no Museu em sua homenagem na Dinamarca. 

2006 – Um por todos e todos por um (9º lugar)

A comissão de frente lembrava os mosqueteiros de Dumas. (Foto de Wigder Frota)

Aula de literatura? Também temos! Filha de acadêmicos, Rosa sempre primou por referências literárias em seus desfiles. Para contar a história de Giuseppe e Anita Garibaldi uniu as histórias de cavaleiros de Alexandre Dumas no balaio. Esteticamente, a artista deixou os tons dourados e vibrantes para apostar numa abertura negra.  
(Foto de Wigder Frota)
Vamos navegar? Em seus carnavais, Rosa foi uma das artistas que mais levou embarcações em seus desfiles. Símbolo da utopia, para o filósofo Foucault, o barco pode ser um objeto de interessante análise dessa artista que sempre fala de deslocamento e diásporas. Em 2006, um recorde pessoal: foram três tipos de embarcações diferentes representadas nas alegorias. 

2007 – Teresinhaaa, uhuhuuuu!! Vocês querem bacalhau? (9º lugar)

A abertura misturava bacalhau e Chacrinha. (Foto de Wigder Frota)
Uma história chata e burocrática? Nada disso! Um enredo espinhoso ganhou ares jocosos ao misturar Chacrinha, mitologia nórdica e blocos de carnavais nas mãos da professora. Mesmo controversa e pecando aqui e ali esteticamente, a salada de bacalhau tinha sabores interessantes.  Mesmo com qualidades e erros, os tempos do casamento entre Ramos e Rosa parecia não dar mais o caldo de antes.
Final festeiro: uma homenagem ao bloco Bacalhau do Batata.
Foi o último ano da parceria entre Rosa Magalhães e o coreógrafo Fábio de Mello, após quatorze anos. De legado, ficaram sombrinhas, leques, violinos, bruxas, bichos papões e imagens que revolucionário o quesito de abertura com simplicidade, genialidade e bom-gosto.
Aula de mitologia nórdica: O choque do gelo do norte, com o fogo ardente do sul. (Foto de Wigder Frota)

2008 – João e Marias (6º lugar)

Festa para os nobres, fome para os pobres: aula de revolução francesa. (Foto de Wigder Frota)
Histórias óbvias que ganham contornos divertidas pelas mãos de Rosa Magalhães – parte 4: a comemoração do bicentenário da chegada da família real portuguesa rendeu um enredo focado em figuras femininas e que revistou a história brasileira com um final bem característico: uma grande celebração carnavalesca do caldeirão que forma o Brasil. 
Depois de orçamentos milionários que garantiram o bom gosto e requinte, Rosa mostrou que saberia trabalhar também com números mais reduzidos apresentando um carnaval mais singelo. Das alegorias de embarcações propostas por Rosa, foi nesse ano uma das mais interessantes: um solitário D. João navega numa baleia escamada inspirada numa gravura medieval.
As perucas de Divina Luján na Comissão de Frente irreverente. (Foto de Wigder Frota)
Outro grande destaque do desfile foram as invetivas perucas feitas de EVA pela peruqueira Divina Luján, a artista que dá expediente no Teatro Municipal há décadas, tem uma parceria longa com Rosa e introduziu com maestria o uso de emborrachada num trabalho maravilhoso. Uma reprodução da peça esteve na nossa exposição no CMAHO.

2009 – Imperatriz… só quer mostrar que faz samba também! (7º lugar)

A abertura daquele ano. (Foto de Wigder Frota)

Foi como uma auto-homenagem a Imperatriz e ao bairro de Ramos que terminou, de modo mais melancólico, o vitorioso casamento Rosa-Imperatriz. Sem tanta inspiração e as características positivas do seu estilo, Rosa apresentou um carnaval mais simples e sem grandes momentos. A imagem mais lembrada o cortejo foi um destaque negativo: uma reprodução alegoria que relembrava a apresentação de 1989, em um projeto mal-acabado. 
A alegoria que trazia um enorme Rei Momo. (Foto de Wigder Frota)
Depois de tantos, mais um Rei Momo apareceu na trajetória da artista para lembrar a festa. A predileção pelo personagem tinha seus motivos, foi seu pai Raimundo Magalhães, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, um dos responsáveis pelo resgaste da figura no imaginário carioca durante as primeiras décadas do século XX.
Ilustração de Antônio Vieira. 
Foram dezoito desfiles que entraram para a história da folia. Belas páginas escritas. Que Rosa e Imperatriz reencontrem os dias de festa na corte, com um banquete de frutas tropicais, histórias e causos inesquecíveis, a alegria de índios e nobres se misturando entre leques e sombrinhas. Uma utopia de um caldeirão festeiro e brasileiro que só festejando pode se tornar mais feliz. Amém! 

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