5x Santa Cruz: Cinco grandes sambas da Academia da Zona Oeste

por Leonardo Antan, Beatriz Freire e Vitor Melo.

Passando por um momento complicado de sua história, a Santa Cruz tem um passado grandioso. Fundada em 1959, ela foi criada no mesmo ano que outra verde e branco, a Imperatriz, e apenas 3 anos depois da conterrânea de Zona Oeste, a Mocidade. Já são 58 anos de história da escola que traz o brasão do Brasil Imperial no seu pavilhão. O histórico bairro de Santa Cruz, onde está situada a escola, faz da alviverde uma das escolas mais distantes da Sapucaí, dentro do município do Rio de Janeiro. Com altos e baixos, a Academia da Zona Oeste já oscilou entre os grupos de base mas também nos brindou com belas apresentações por diversas vezes na elite da folia. A escola está prestes a comemorar 20 anos sob o comando de Zezo. A longa duração do mandato deu alguns momentos de glórias, outros nem tanto; Nos últimos carnavais, a escola vem apresentando desfiles mornos e sem grandes ambições, deixando a desejar, frente a grande história da agremiação. Eleições na escola estão em andamento e, na esperança de tempos melhores para a Academia da Zona Oeste, listamos grandes sambas da história da agremiação, fazendo um resgate. 



1 – O Rouxinol da canção brasileira (1974)

A Santa Cruz começou sua trajetória desfilando no seu bairro de origem na Zona Oeste carioca. Foram três carnavais até chegar na disputa principal. Daí, uma rápida campanha de quatros carnavais a levou do terceiro ao primeiro grupo da folia. O ano era 1966 e a escola acabou rebaixada, retornando para elite quatro anos depois, em 1970. Durante os anos 70, escola oscilou entre a segunda e terceira divisões, ficando marcada pela homenagem a grandes artistas da nossa cultura. Em 1974, na segunda divisão, apresentaria um samba que entraria para sua história. Composto por Luiz e Valdir Cruz, “O rouxinol da canção brasileira” fazia uma bela homenagem a Dalva de Oliveira, importante cantora da Era do Rádio. Com a delicadeza e beleza necessárias, a obra merece destaque apesar de terminar apenas na oitava colocação. 


2 – Acima da Coroa de um rei, só Deus (1984)

Dez anos depois, no ano da estreia do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, pelo grupo 1B, a verde e branco optou por desfilar com o enredo afro “Acima da coroa de um rei, só Deus”. Assinado por Enoque, Netinho, Thiago e Henri, o sambaço de 84 exaltava os batuques e a religiosidade africana com seus santos e divindades. O desfile assinado por José Lima Galvão faturou o segundo lugar do grupo e retornou ao supercampeonato junto a outras seis escolas do Grupo Especial, além da campeã de seu grupo; dessa vez, porém, terminou com a oitava posição. De toda forma, nossa querida escola da Zona Oeste pisou na Sapucaí com o pé direito, garantindo seu retorno ao Grupo Especial no carnaval seguinte, depois de 14 anos fora da elite carnavalesca. 


3- Heróis da Resistência (1990)

Após a rápida passagem pelo Especial em 85, a Academia da Zona Oeste voltaria à divisão principal cinco depois, para uma de suas apresentações mais emblemáticas. O enredo “Os Heróis da Resistência” prestava uma homenagem ao jornal O Pasquim e seus profissionais. Símbolo da resistência política no período ditatorial, o veículo de comunicação serviu com meio para falar de tempos difíceis de maneira crítica e irreverente, bem ao estilo que havia consagrado a Caprichosos de Pilares anos atrás. Luiz Fernando Reis, carnavalesco destes enredos da Caprichosos, começou sua carreira na Santa Cruz, primeiro na ala de compositores da escola, depois assinando enredos, e, finalmente, desfiles como um todo, contribuindo para o surgimento da vertente dessa temática na Santa Cruz. Além disso, ninguém menos que Carlinhos de Pilares foi o intérprete daquele ano ajudando a afinar essa sintonia entre a verde e branco da Zona Oeste e a azul e branco de Pilares, que havia perdido o protagonismo nesse tipo de desfile. A letra bem humorada foi composta por Zé Carlos, Carlos Henri, Carlinhos de Pilares, Doda, Mocinho e Luís Sérgio, sendo regravada por Emílio Santiago dentro do seu projeto “Aquarela Brasileira”, que de 1988 à 1994 integrou ao repertório do artista grandes sambas de cada ano da folia.


4 – O tempo que o tempo tem (2007)

Dando um salto no tempo, muita coisa mudaria na Santa Cruz entre 1990 e 2007. Após a marcante apresentação, a agremiação voltaria para o Especial em 1992, após um episódio curioso de falta de luz, e também em 1997, após uma apresentação invicta com todos os quesitos gabaritados. Em 98, a escola passaria por um momento traumático ao perder seu presidente e fazer uma apresentação emocionante homenageando Cazuza. Com a morte do líder político, Zezo iniciaria seu mandato que vigora até hoje. Um capítulo importante da gestão do atual mandatário foi a atuação de sua esposa, Rosele Nicolau, como carnavalesca e figura de liderança numa comissão de carnaval, iniciada em 2003, na última passagem da escoa no Especial. A comissão fez desfiles que tiveram bons resultados e para representá-los, escolhemos o excelente samba de 2007. Composto por Marcelo Borboleta, Charuto, Ditão, Valdir e Fernando de Lima, a letra de “O tempo que o tempo tem” aborda de maneira divertida a relação do homem com o tempo, cronologia e envelhecimento em diversos aspectos. A sinergia entre samba e plástica deu a escola um terceiro lugar.  


2013 – O dragão do mar e a lenda do Ceará (2013)

Infelizmente, a carnavalesca Rosele Nicolau faleceria em 2009 deixando a escola sem rumo. A comissão formada pela primeira dama seria mantida nos dois anos seguinte após seu falecimento, com enredos deixados prontos por ela. Após uma apresentação problemática em 2012, a Santa Cruz escolheu o enredo “O Dragão do Mar e a Lenda do Ceará” para o ano que marcaria a estreia da Série A no formato atual. O desfile falou sobre o Ceará de José de Alencar, do romance “Iracema”, passando pelo Dragão do Mar e a abolição da escravatura. Com Paulinho Mocidade no microfone, a escola embalou seu desfile com um samba extremamente agradável e bonito, sendo um dos pontos mais fortes da Santa Cruz naquele ano. Apesar da empolgação do hino escolhido, a escola terminou apenas com a décima colocação na série A.

Com grandes sambas em seu reportório, a Santa Cruz tem dois Estandartes de Ouro na categoria do segundo grupo. Mesmo assim, optamos por uma abrangência ampla que ajudasse a contar a história agremiação. E com essa trajetória extensa e rica como a da Santa Cruz, nós iniciamos um novo projeto da coluna 5x. A proposta é contar a história de escolas com trajetórias importantes dentro da folia carioca, mas pouco lembradas e passando por momentos conturbados em diversos sentidos, com o desejo de trazer à tona algum prestígio e valorização da agremiação homenageada. E a Academia da Zona Oeste é uma escola que merece ser lembrada com mais carinho pelos foliões.

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