Dona Ivone Lara – A Dama do Samba em fatos

Por Leonardo Antan

Foto extraída d’OGlobo
Dama. Dona. Diva. Mãe baiana. Se o samba completou seu centenário recentemente, Dona Ivone Lara o viveu intensamente por noventa e seis anos (a confusão de um ano de diferença é devido a registro falso da cantora para que ela pudesse entrar no internato), escrevendo seu sorriso negro pra sempre na nossa memória. Pioneira em muitos sentidos e dona de um legado imenso, assinou seu nome na história do batuque como herdeira do legado de Ciata, tornando-se uma das maiores matriarcas do ritmo no Brasil, junto com a lendária baiana da Praça Onze. De tantos momentos marcantes de sua longa e vitoriosa vida, confira dez fatos fundamentais da rainha do samba:

1 – “Eu vim de lá pequeninho…”

Ivone em rara foto na infância (Acervo pessoal Itaú Cultural)
A dama do samba nasceu com a música no seio de sua família. Os pais de Ivone participavam de ranchos do carnaval carioca; a mãe como pastora e o pai tocando violão. Após ficar órfã jovem, foi morar com o tio, também músico, amigo de Pixinguinha, com quem aprendeu a tocar cavaquinho. Além do ambiente popular, teve iniciação musical no cenário “erudito” destacando-se no coro do colégio, sob a batuta de Lucília Villa-Lobos, esposa do famoso maestro Heitor Villa-Lobos.

2 – “Serra dos meus sonhos dourados…”

(Foto revista Contigo)
Sua vida seguiu atrelada ao samba quando casou-se com o filho do fundador da escola de samba Prazer da Serrinha. Depois, seu primo, mestre Fuleiro, ajudou na fundação do Império Serrano e, com o fim da primeira escola da região, a matriarca migrou para o Reizinho de Madureira, costurando sua história de vez na escola verde e branco.

3 – “Diz que o dom de compor é coisa de mulher…”

Dona Ivone com o parceiro de muitas composições Délcio de Carvalho.
Não se contentando com o papel de pastora, comum na época, Dona Ivone quis dar voz às suas próprias canções. De início, sofreu com o meio machista, chegando ao ponto de apresentar suas obras com a assinatura do primo Fuleiro. Aos poucos, foi conseguindo ser respeitada, até que, em 1961, viveu um momento inesquecível ao desfilar como componente da ala de compositores, na qual ingressou anos mais tarde, em 1965. Outro dado que ajuda a entender a dificuldade de Ivone para se firmar no meio musical são os quase quarenta anos que separam a primeira gravação de “Tiê”, em 1974, composta aos doze anos por ela.

4 – “Com o mestre venceu o desafio…”

1965, ano do quarto-centenário de fundação do Rio de Janeiro. Um ano histórico para Dona Ivone e o gênero samba-enredo como um todo. Foi com o antológico “Cinco Bailes da História do Rio”, composto por Dona Ivone em parceria o mestre Silas de Oliveira e Bacalhau, que o Império Serrano desfilou se consagrando vice-campeão. A obra se tornou um clássico da nossa música, deixando marcado o nome de Ivone como a primeira compositora mulher a assinar samba numa grande escola carioca. 

5 – “Estrela do samba, de luz radiante…”

Ivone numa roda com médicos da famosa clínica no Engenho de Dentro (Acervo pessoal Itaú)

Na vida civil, Ivone se formou enfermeira e assistente social, atuando ativamente na área; especializada em terapia ocupacional, trabalhou ao lado de Nise da Silveira, referência do tratamento psiquiátrico humanizado na história brasileira.

6 – Parceira de bambas, carreira brilhante

Ivone ao lado de Cartola, Beth Carvalho e Nelson Cavaquinho.
A jornada dupla fez com que ela despontasse tarde no cenário musical. Foi só em 1978, um ano após aposentar-se das clínicas, que Dona Ivone conseguiu gravar seu primeiro CD solo com músicas próprias, aos cinquenta e seis anos. Contabilizam-se mais de cem canções escritas pela diva, sendo gravada por grandes nomes da música brasileira como Beth Carvalho, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Clara Nunes e tantos outros.

7 – Mãe baiana mãe

Destaque principal do desfile imperiano de 1983 (Foto: O Globo)
Além da ala de compositores, Ivone Lara se fixou na figura materna de grande baiana moderna, integrando a ala das matriarcas da Serrinha em 1968, por onde desfilou por diversos anos. Em 1983, quando o Império homenageou as grandes figuras femininas do samba com “Mãe baiana mãe”, a cantora protagonizou um dos grandes momentos da nossa festa ao vir vestida de dourado como matriarca maior da escola de Madureira. 

8 – O Século do Samba

Em 1999, quando a Estação Primeira de Mangueira cantou “O Século do Samba” em um desfile histórico, Dona Ivone participou da abertura do cortejo. Depois da arrepiante comissão de frente com figuras emblemáticas do gênero que já haviam partido, o abre-alas exaltou, no pelotão de frente, os grandes bambas vivos de nossa história. Em justa homenagem, sentada no seu trono de rainha do samba, ela esteve ao lado de Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Moreira da Silva, Zé Ketti.

9 – O enredo do nosso samba!

O desfile em sua homenagem em 2012 (Foto: Samba e paixão)
Poucos nomes do samba têm o privilégio de ter seu legado reconhecido em vida por sua escola de coração; a Dama do Samba foi uma delas. Logo após a marca de noventa anos de vida, sua trajetória embalou o enredo do samba do Império Serrano em 2012, proporcionando um desfile emocionante no grupo de acesso, com autoria de Mauro Quintaes e samba composto por Arlindo Cruz, Arlindo Neto e Tico do Império.

10 – O samba não pode parar

Desfilando de baiana no histórico desfile da Serrinha de 1972 (Acervo O Globo)
Com uma trajetória singular, Dona Ivone escreveu seu nome na história da cultura e da arte brasileira, tanto no universo musical do samba, como das escolas. Hoje, se torna um totem de nossa vida cultural por seu legado tão grande e singular. Uma guerreira e pioneira mulher, versão contemporânea e herdeira de Tia Ciata, a qual colocou o nome ao lado de grandes baianas e matriarcas da nossa festa, como Jovelina, Clementina, Clara e tantas outras. 

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