Na Tela da TV: O carnaval nas novelas

A relação do carnaval com a televisão é complexa. Nem sempre a Rede Globo dá a atenção necessária às agremiações por diversas questões que não cabem ser discutidas nesse texto. Apesar de tudo, as escolas e o universo do samba já estiveram presentes em diversas novelas da emissora. Nesse texto, separo 7 produções que dedicaram espaço (umas mais e outras menos) para o assunto.

Pai Herói, trama de Janete Clair, atualmente sendo reprisada pelo Canal Viva, tem parte da sua ação passada em Nilópolis. E é impossível falar de Nilópolis sem falar daquela que a fez ainda mais famosa: a Beija-Flor. É a escola, inclusive, um dos motivos pelo qual a autora escolheu a localidade: naquela época a Beija-Flor vinha de seu primeiro tricampeonato, capitaneada por Joãosinho Trinta (e, infelizmente, no ano em que a novela foi ar, a escola ficou com a vice). Apesar de a agremiação não ter tanto espaço na trama, foi no desfile de 1979 que se deu o desfecho da personagem Ana Preta, interpretada brilhantemente por Gloria Menezes. Ela realizava seu sonho de desfilar pela escola e como destaque. A produção da novela, inclusive, usa partes reais do desfile da Beija-Flor daquele ano na cena. E, como novela é novela, do alto do carro alegórico, Ana Preta flerta com um senhor que está na arquibancada, interpretado por Reginaldo Faria. Confira a cena abaixo.

Partido Alto foi uma novela de Glória Perez e Aguinaldo Silva. A produção se passava no bairro Encantado, do Rio de Janeiro, e um dos seus protagonistas era um bicheiro, Célio Cruz, interpretado por Raul Cortez. Era ele quem também mandava e desmandava na escola de samba da novela, a Acadêmicos do Encantado. Na primeira cena da produção que separei, vemos a reunião de Célio com os compositores da escola durante o anúncio do enredo e entrega da sinopse. Confira.
Vimos na cena anterior o personagem de José Mayer, Piscina. Ele é um compositor que nunca conseguiu ganhar o samba na escola e se apaixona pela mesma mulher que o bicheiro manda-chuva. Antes de fugir do Brasil para se livrar da prisão, Célio manda matarem seu rival. E adivinhem quando isso é feito? Sim, no dia do desfile. A cena, que, apesar de trágica, é bem bonita, você pode conferir a seguir.

Se você quer ver em detalhes como o mundo do samba e das escolas foi retratado nessa novela, é fácil: basta pedir a reprise no site do VIVA, clicando aqui. E, ah, é bom lembrar que a abertura era embalada por Enredo do Meu Samba, na voz marcante de Sandra de Sá.
Felicidade foi uma novela de Manoel Carlos para as 18 horas exibida entre os anos de 1991 e 1992. A produção foi baseada em alguns contos de Aníbal Machado. Um deles, A Morte da Porta-Estandarte. Este conto serviu para inspirar a história da personagem Tuquinha, interpretada por Maria Ceiça. Aqui, diferente da novela anterior, não houve tanta importância da escola de samba para o desenvolvimento da trama, mas é na quadra da Estácio de Sá que foi gravada uma das cenas mais importantes da novela. Tuquinha desde criança sonhava em ser a primeira porta-bandeira de uma escola de samba. Quando consegue, enfim, realizar esse sonho, num ensaio geral da agremiação, Tide, seu ex-namorado possessivo, a mata. A cena é forte, mas ao mesmo tempo bem poética (e embalada por um dos sambas mais famosos da história da Estácio). Assista a seguir.

Senhora do Destino, de Aguinaldo Silva, próxima trama a ser reapresentada pela Globo no Vale a Pena Ver de Novo, talvez seja a memória carnavalesca mais presente na cabeça das pessoas quando se fala em novela. Isso porque o desfile da escola de samba fictícia, Vila de São Miguel, em homenagem à popularíssima personagem de Susana Vieira, Maria do Carmo, deu o que falar na época. A direção da novela conseguiu harmonizar muito bem as cenas reais do desfile (a produção gravou durante o desfile da Grande Rio, que ainda contava com muitos globais naquela época, a maioria do elenco da novela, inclusive) usadas na trama com as fictícias. Confira a cena e aproveite para relembrar o bom samba sobre ‘Do Carmo’, a senhora do destino que é força, é fé.




Duas Caras, também de Aguinaldo Silva, passava-se na fictícia Portelinha, uma comunidade à margem da sociedade tradicional criada por Juvenal Antena, papel de Antônio Fagundes. O nome, claro, veio em homenagem à Portela (o que rendeu à equipe da novela um prêmio criado pelo carnavalesco Cahê Rodrigues àquela época). A comunidade possuía a sua própria escola de samba, a Nascidos da Portelinha. Muito da ação de Duas Caras se passava na quadra da escola, tendo a produção abordado, mesmo que de forma mais simples, alguns assuntos dos bastidores da mesma, como escolha de carnavalesco, rainha de bateria, entre outras coisas, desaguando, claro, no grande momento para uma agremiação: o dia do desfile. A cena do desfile em si na Sapucaí ficou muito aquém do desejado e do apresentado anteriormente em Senhora do Destino, por exemplo, mas valeu a intenção, não é mesmo? E além da cena do desfile da Nascidos, também fomos presenteados com alguns trechos do desfile da Portela naquele ano (com direito a close no então Presidente Nilo, tá, meu bem?), visto que Juvenal Antena havia sido convidado para desfilar na escola. Você pode conferir as duas cenas abaixo.

Lado a Lado, novela das 18h vencedora do EMMY e escrita por Cláudia Lage e João Ximenes Braga, se passava no período pós-abolição da escravatura. E, entre as muitas questões sociais abordadas na trama, a formação das favelas foi uma delas. E, com elas, entre becos e vielas, o despontar do samba no Rio de Janeiro. É claro que a produção, por não se tratar de um documentário, usava de algumas licenças poéticas para contar sua história (na novela, o personagem Zé Maria, de Lázaro Ramos, foi um dos líderes da Revolta da Chibata, por exemplo). A trama de Lado a Lado começa (e literalmente, pois é a primeira cena da mesma) durante o carnaval de rua, no qual dois dos protagonistas se conhecem e se apaixonam à primeira vista (Isabel, personagem de Camila Pitanga, e Zé Maria). Confira a cena aqui.
Em oposição a essa alegria, tínhamos sendo retratado o desprezo das elites a esse novo ritmo que vinha surgindo. Como Constância, vilã interpretada por Patrícia Pillar, diz numa cena, “o tal do samba”, “a música de negros”, “a batucada de africanos e macumbeiros” que, segundo a personagem, nunca teria importância no cenário nacional. Veja o momento dessa fala no final da cena separada, clicando aqui.
E como carnaval nunca é demais nem na ficção, mais para o seu término, a novela também exibiu mais cenas do carnaval de rua da época _ quando, na época da exibição original, estávamos também em período de carnaval. Para ver essa cena, clique aqui.
E nunca é demais lembrar que a abertura de Lado a Lado era embalada por um dos maiores sambas de todos os tempos: Liberdade Liberdade, da Imperatriz Leopoldinense!
Império, por fim, também de Aguinaldo Silva (quase sempre ele!), igualmente teve desfile em homenagem ao protagonista da trama. Nesse caso, o Comendador, personagem de Alexandre Nero. Como a novela é bem recente, muitos devem se lembrar da União de Santa Teresa, escola da trama. A novela promoveu até concurso de samba-enredo (e foram pelo menos 20 sambas de verdade inscritos, acredite!) e um carnavalesco de verdade atuou na produção: Mário Borriello. O autor do samba campeão (“…um diamante de segredos e mistérios, é o Comendador e o seu Império”) teve direito à participação na novela e tudo na cena do anúncio (para ver essa cena, clique aqui).
No dia do desfile da escola, tiros na Sapucaí, remetendo à trama de Partido Alto. Para as gravações das cenas do derradeiro desfile, a produção da novela usou a Sapucaí no sábado de carnaval daquele ano, antes do desfile das escolas da Série A, e num ensaio técnico. Para ver essas cenas, clique aqui e aqui, na sequência.
Esses são apenas alguns casos mais clássicos em que as novelas incorporaram a maior festa da cultura brasileira às suas tramas. Em breve, esta coluna volta para falar mais da relação TV e carnaval. Até lá!

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2 respostas

  1. Que delícia de lembranças para noveleiros e 'carnavaleiros'. Lembrei de outras duas novelas de enorme sucesso que também tiveram cenas na Sapucaí: "Quatro por Quatro" com a inesquecível Babalu (Letícia Spiller anos depois voltou a desfilar na Ilha), e a "Karla com 'K'" desfilando na Grande Rio em 2002 no ar em "O Clone", pouco depois Juliana Paes brilharia reinando na bateria da Viradouro.

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