#SérieBaluartes: tantas páginas belas da Portela

Texto: Leonardo Antan
Revisão e edição: Felipe Tinoco
Artes: Vítor Melo
Olá, consagradas e consagrados! É com graça (e aliterações) que o Carnavalize estreia hoje a sua mais nova temporada de textos: a Série Baluartes! No novo quadro, vamos rememorar os grandes nomes por trás das escolas de samba. Serão oito textos, sempre as segundas-feiras!
Para começar, não poderia ser diferente e ter outro participante senão o mais antigo e pioneiro dos grêmios recreativos: a Majestade do Samba! Para falar um pouquinho de cada grande figura dessa escola, dividimos o texto em seções, como lideranças, compositores e a força feminina. Apesar daquele famoso “se falar Portela, hoje eu não terminar”, tentamos resumir quase 100 anos de história, relembrando grandes personagens dessa longa trajetória da Águia.
Simbora conhecer um pouquinho mais da história dessas grandes personas e, por consequência, da história dessa grande escola!

Semente de Paulo, Caetano e Rufino segue seu destino e vai desaguar… O distante bairro de Oswaldo Cruz era praticamente considerado como rural nas primeiras décadas do século XX, mas tinha uma vocação festeira que o colocou no mapa cultural da cidade de Janeiro. Foi essa efervescência de encontros que gerou as sementes que culminaram no surgimento da Portela – antes Vai Como Pode e Conjunto Carnavalesco de Oswaldo Cruz. Este foi fundado em 13 de abril de 1923, por Paulo Benjamin de Oliveira (presidente), Antônio da Silva Caetano (secretário) e Antônio Rufino dos Reis (tesoureiro) no número 412 da Estrada do Portela.
Um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX, Paulo da Portela (1901 – 1949) foi o primeiro grande líder da azul e branco da Zona Norte, responsável por delimitar os rumos que as escolas de samba tomariam na primeira década de cortejos. Defensor da elegância contra o racismo estrutural, foi ainda compositor e responsável pelo primeiro desfile a unificar visual e trilha sonora, o lendário Teste ao Samba, de 1939. (Aqui você pode ver um texto só sobre esse ícone!)
Sai um líder, entra outro. Depois que o primeiro grande nome de comando portelense foi afastado da agremiação em um polêmico episódio, não demorou muito a chegar uma nova figura de liderança. Natal da Portela (1905 – 1975) foi a grande personalidade por trás da Majestade do Samba durante o seu período mais glorioso, responsável por popularizar a figura do “patrono” no universo carnavalesco. Após perder o braço direito em um trágico acidente de trem, começou a trabalhar para o Jogo do Bicho e logo se tornou um “banqueiro” da loteria popular. Da fortuna que fez com sua banca, pouco ficou para ele, já que investia boa parte nos desfiles da Portela e na construção das quadras da escola. Na região de Madureira e Oswaldo Cruz, asfaltou ruas e mandou construir casas para o povo. As medidas assistencialistas o tornaram uma espécie de herói suburbano, apesar das controvérsias.
Assim que Natal se afastou da agremiação por problemas de saúde e pelo endurecimento da ditadura militar contra os grandes líderes da contravenção, foi um dos seus sócios quem assumiu os comandos da azul e branco. Batizado como a rede de mercado da qual era proprietário, Carlinhos Maracanã (1926 – 2019) nasceu em Portugal mas foi um carioca típico, apaixonado por samba e futebol. Acabou residente da Portela entre 1971 a 1994 e depois de 2000 a 2004, consolidando um recorde absoluto de tempo no poder. O início da sua gestão foi marcado pela construção da nova sede da escola, o Portelão, na Rua Arruda Câmara, que anos depois passaria a se chamar Rua Clara Nunes.
Após amargar um período difícil e de pouca relevância na festa carnavalesca, a Portela teve sua renovação ligada a uma nova forte figura de liderança na década que termina: Marcos Falcon (1964 – 2016). O ex-policial militar se aproximou da agremiação após a polêmica e mal sucedida gestão de Nilo Figueiredo, assumindo a vice-presidência da escola com a eleição da chapa Portela Verdade, em 2013. Com o lema “quem ousa vence”, ele liderou o retorno da Águia nas brigas pelas primeiras posições e, após a sua trágica morte em 2016, a azul e branco enfim conseguiu quebrar seu histórico jejum na folia do ano seguinte, no desfile assinado por Paulo Barros. 

Durante os primeiros anos dos concursos das escolas de samba, não havia a ideia do papel do samba-enredo para descrever o que era mostrado em fantasias e alegorias, mas a presença da obra musical sempre foi fundamental. Durante os primeiros anos de existência da escola, foi Paulo da Portela o compositor das canções apresentadas pela agremiação. O primeiro músico a substituir o fundador da Majestade foi Chatim (1915 – 1991). Junto com seu irmão Bibi, assinou a canção de 1941 (Dez anos de Glórias). Campeão novamente em 1942 (A vida do samba) e 1951 (A volta do filho pródigo), o sambista se afastou da escola com problemas familiares e se tornou bombeiro hidráulico da Uerj, só retornando nos anos 1980 para integrar a Velha Guarda da agremiação.

Já em 1942, Chatim teve como parceiro outro grande sambista portelense dessa primeira geração de poetas. Alvaiade (1913 – 1981) foi uma das figuras que melhor simbolizou a elegância portelense pregada por Paulo, defendida por ele em a saída do professor da agremiação. Além de compositor, Alvaiade foi chefe de conjunto da Portela por quase 20 anos. Era o responsável pelos ensaios e pela direção de harmonia, colocando em prática seus conhecimentos sobre as funções de cada segmento da escola. Alvaiade foi o principal responsável pela organização da Portela em vários de seus campeonatos, ocupando ainda a função de dirigente da Ala de Compositores. Fora da escola, foi um dos fundadores da União Brasileira dos Compositores (UBC).

Parceiro de Alvaiade em 1947 (Honra ao mérito), o Ventura (1908 – 1974) foi outro grande compositor portelense, tanto de samba-enredo quanto de samba de terreiro. Além de assinar as obras, foi ainda um dos primeiros grandes intérpretes da agremiação quando o samba era puxado sem equipamento sonoro. Ao lado de Alcides e João da Gente, formou o trio de principais cantores da Portela, chamados carinhosamente de “os três gogós de ouro”.

Noca, Casquinha, Monarco e Manacéia. Foto: Acervo Cultural Portela
Ainda no final da década de 1940, outro grande compositor surgiria do celeiro de bambas portelenses e se consagraria tricampeão entre 1948 e 1950: Manacéa (1921 – 1995), irmão dos também compositores louváveis Aniceto e Mijinha. Voltando a vencer a disputa de samba em 1952, após o hiato de um ano, o músico seria substituído por um jovem sambista que começava a se destacar na comunidade portelense.
Antônio Candeia Filho (1935 – 1978) viveu o cotidiano da agremiação desde pequeno, herdando o gosto por samba de seu pai, que ainda aparecerá nesse texto. Aqui, cabe-nos dizer que o sambista começou seu talento ainda adolescente, quando formou um grupo com jovens que se tornariam outros baluartes portelenses, como Waldir 59 e Casquinha. Eles ficaram conhecidos como a Turma do Muro. Foi apenas aos 17 anos que o grande Candeia assinou o seu primeiro samba-enredo para a Portela – feito repetido ainda mais cinco outras vezes. Fora da vida da quadra da azul e branco, Candeia foi policial concursado até ser baleado e perder o movimento das pernas. Ativo politicamente, foi ainda importante nome do Movimento Negro brasileiro e, insatisfeito com o rumo de espetacularização das escolas de samba, fundou o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba (Granes) Quilombo, em 1975. Ele será homenageado no enredo do Império da Tijuca, do carnavalesco Guilherme Estevão, para o próximo carnaval.
Parceiro de Candeia em cinco dos seis sambas-enredos assinados pelo músico para a Portela, Waldir 59 (1927 – 2015) recebeu o apelido numérico para se diferenciar de seus xarás que frequentavam a escola na época. A escolha do número foi por ser o da casa na qual ele morava. Atuando na cena cultural carioca, ele participou da composição da trilha sonora do filme franco-brasileiro Orfeu do Carnaval, de 1959. Também foi responsável por integrar um grande portelense à escola: Paulinho da Viola.
Durante a década de 1960, dois grandes sambistas portelenses famosos no cenário artístico de então chegaram a assinar sambas na Majestade do Samba. O primeiro dele foi Zé Ketti (1921 – 1999), um dos mais importantes sambistas da História. Ele iniciou sua trajetória na Ala de Compositores da azul e branca para depois se tornar compositor de marchinhas carnavalescas. O “Ketti” surgiu do seu jeito tímido, que lhe rendeu o apelido de Zé Quietinho. Era quieto só no comportamento, pois em seu trabalho artístico ele sempre foi alvoroçado e militante. Atuou ao lado de diretores do Cinema Novo e, com seus sambas engajados e de protesto, lançou ainda o conjunto A Voz do Morro, que integrou o clássico e revolucionário espetáculo Opinião, ao lado de Nara Leão. Posteriormente, a mangueirense Maria Bethânia assumiu o cargo da cantora na montagem, em sua estreia na cena musical com 18 anos.
Muitos não sabem, mas quem também já assinou sambas de desfile foi o grande portelense Paulinho da Viola (1942). O feito ocorreu em 1966, com um enredo baseado no livro Memórias de um sargento de milícias, romance de Manuel Antônio de Almeida. Na época com apenas 24 anos, o músico começava a ganhar popularidade.
Com a chegada da década de 1970, não só os desfiles das escolas de samba se renovaram, como também os sambas de enredo deixaram o clássico formato de “lençol” para se tornarem mais dinâmicos e mais ágeis. Em meio a essa transformação que tem como marco o samba salgueirense de 1971 (Festa para um rei negro), a ala de compositores não poderia deixar de se atualizar e fez surgir um dos grandes poetas do panteão portelense, David Corrêa (1937 – 2020). Campeão já na sua primeira disputa, em 1973 (Pasárgada), o sambista voltaria a emplacar um hino portelense dois anos depois, em 1975 (Macunaíma). Não só escrevendo, mas ainda atuando como intérprete da escola, na virada entre a década de 1970 para 80, emplacou um tetracampeonato na disputa de sambas, assinando das mais clássicas e belas canções do repertório portelense, como o título de 1980 (Hoje tem marmelada) e 1981 (Das maravilhas do mar). Após compor para outras agremiações, ele se reencontraria com a Águia em 2002, ao assinar seu último samba-enredo para a azul e branco.

Compositor de clássicos do carnaval pela Portela, David Corrêa sendo homenageado em evento na quadra. Foto: Acervo Cultural Portela
Ainda no mesmo período, outro grande compositor e intérprete da Águia foi Dedé da Portela (1939 – 2003). Tem em seu currículo a autoria de Contos de Areia (1984), em parceria com Norival Reis, além da canção de 1977 (Festa da aclamação). Como puxador da azul e branco, atuou entre 1987 e 1994, quando substitui outro grande cantor portelense: Silvinho da Portela (1935 – 2001). Ele, por sua vez, é considerado o primeiro intérprete oficial nos trilhos da profissionalização do samba, por onde permaneceu de 1969 a 1986. Para conduzir as obras desse período, a azul e branco teve um lendário mestre de bateria: Mestre Marçal (1930 – 1994).
Permanecendo na década de 1970, outro grande compositor da agremiação venceu pela primeira vez o concurso de samba-enredo da azul e branco. Noca da Portela (1932) fundou ao lado de Picolino e Colombo o trio ABC da Portela, sucesso nas rodas de sambas e programas de TV. Após a vitória em 1976, Noca conseguiu um feito histórico que foi se consagrar campeão ao menos uma vez nas quatro décadas seguintes, e curiosamente sempre nos anos terminados em 5. Foi assim em 1985 (Recordar é Viver), em 1995 (Gosto que me enrosco), 2005 (Oito metas para mudar o mundo) e 2015 (450 janeiros de uma cidade surreal). A exceção ficou pelas vitórias complementares em 1998 (Olhos da Noite) e 1999 (De volta aos caminhos de Minas Gerais).
Pulando para a década de 1990, outro grande compositor do samba brasileiro fruto da ala de compositores da Portela foi Cláudio Russo (1971). Chegou à agremiação após passagens pela Império de Marangá e Arrastão de Cascadura e, ainda jovem, o sambista surpreendeu a tradicional aula de poetas de Madureira ao ser campeão na sua primeira disputa de sambas em 1993 (Cerimônia de Casamento). Repetiu o feito no ano seguinte, em 1994 (Quando o samba era samba).
Mais recentemente, nos anos 2000, o cantor Diogo Nogueira (1981) seguiu seu destino portelense e se consagrou tetracampeão na disputa musical portelense, entre 2007 e 2010. Logo após, uma histórica parceria que tinha nomes importantes do samba de meio de ano, como Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo e Toninho Nascimento, fou responsável não só pelas obras da Portela, como também por mudar os rumos dos sambas-enredos desde então, no lendário Madureira Sobe o Pelô (2012). Ainda mais recentemente, Samir Trindade (1981) se consagrou na disputa entre grandes portelenses, sendo responsáveis pelos hinos das apresentações de 2016, 2017 e 2018.

Além da sua importância para o gênero do samba-enredo, como é óbvio, a Portela em seus mais de noventa anos de existência fez jus ao nome de escola de samba, sendo responsável por todo um repertório de clássicas canções ligadas ao cotidiano do sambista e o amor pela agremiação. Um marco fundamental para entender essa importância da escola é fundação da ideia de Velha Guarda Show, um conjunto musical de bambas históricos da escola que se apresenta com os clássicos do repertório de meio de ano da ala de compositores.
A formação do grupo teve na atuação de Paulinho da Viola um visionário. O sambista foi o responsável pela gravação do LP “Portela, passado de glória”, que marcaria a fundação do conjunto em 1970, registrando, assim, grandes sambas que poderiam se perder no tempo e reunindo nomes fundamentais da Portelas. Após bons serviços prestados a azul e branco, tornaram-se responsáveis por tornar seu legado e suas memórias vivos. Estariam na primeira formação do grupo figuras como Aniceto da Portela, Mijinha, Manaceia, Alberto Lonato, Ventura, Alvaiade, Chico Santana, Antônio Rufino, Alcides Malandro Histórico, Armando Santos e Antônio Caetano.
O primeiro nome a se destacar desse grupo é Manacéa, que assumiu de forma orgânica a liderança do grupo e foi uma das pontas de uma grande linhagem portelense, como seus irmãos Aniceto da Portela (1912 – 1982) e Mijinha (1918 – 1980). O trio compôs uma série de sambas clássicos do repertório portelense, como Desengano e Chega de Padecer. Manacéa foi autor ainda do sucesso “Quantas lágrimas”, eternizado na voz de Cristina Buarque de Holanda. Além disso, foi casado com a eterna Dona Neném (1924 – 2020), uma matriarca portelense de primeira linhagem, com quem teve três filhas. Fruto dessa relação, Áurea Maria hoje é pastora da Velha Guarda Show, além de membra do conselho deliberativo da Majestade.
Outro nome a se destacar foi um dos grandes compositores de sambas de terreiro da escola, Chico Santana (1911- 1988), tradutor do melhor espírito vaidoso e majestoso portelense. É de sua autoria o “Hino da Portela” e o “Hino da Velha Guarda”, além do igualmente clássico “Vaidade de um sambista”. Também assina “Corri pra ver” com outro grande nome portelense: Casquinha (1922 – 2018). Descendente de imigrantes alemães, recebeu o apelido ainda na infância. Na década de 1960, fez parte do grupo Mensageiros do Samba, com Bubu, Arlindão, Jorge do Violão, Candeia, David do Pandeiro e Picolino. Em 1964, Casquinha tornou-se o primeiro parceiro de Paulinho da Viola na Portela, no samba “Recado”, que virou um clássico da MPB, gravado por Elza Soares, Nara Leão, MPB-4, Jair Rodrigues e outras estrelas.

Diversas imagens da histórica velha guarda portelense.
Durante muitos anos enquanto a Portela manteve sua comissão de frente de forma tradicional, estiveram nomes da Velha Guarda, como o próprio Casquinha e Alberto Lonato (1909 – 1999). Ele permaneceu até o fim do grupo e foi autor de canções regravadas por Cristina Buarque e Clara Nunes. Um outro portelense que seguiu à risca a linha de elegância de Paulo da Portela.
Quem também esteve na azul e branco desde seus primeiros anos e fez parte da primeira formação da Velha Guarda foi Alcides Dias Lopes, mais conhecido como Alcides Malandro Histórico (1909 – 1987). O apelido surgiu tanto por incorporar o perfil do típico malandro boêmio quanto por sua memória invejável, que garantiu o “histórico”. Após a vida noturna agitada, acabou se casando com uma baiana da Portela, Guiomar, com quem teve quatros filhos. A mudança de vida o fez compor sua canção mais famosa, “Vivo Isolado do Mundo”.
Em 2001, as gravações do documentário Mistério do Samba, que seria lançado apenas em 2008, registraram a produção de mais um histórico álbum da Velha Guarda, batizado de Tudo Azul, produzido por Marisa Monte. Como personagens vivos do filme, vários nomes da Velha Guarda se destacariam. Argemiro da Portela (1923 – 2003) chegou na escola na década de 1950, integrando a ala de pandeiros, e é autor, em parceria com Casquinha, da famosa canção “A chuva cai”, imortalizada por Beth Carvalho.
Outro personagem do longa foi Casemiro da Cuíca (1921), integrado na Velha Guarda na década de 1980. Ganhou como sobrenome o instrumento que tocou por muitos anos na Tabajara, bateria da Portela, e acabou conhecido por um método nada tradicional de afinar o instrumento, que incluía trocar água por querosene. Ainda na linha de grandes instrumentistas do grupo está o sempre elegante e disciplinado Guaracy Sete Cordas (1939 – 2017). Guaracy teceu uma rede de sambistas fundamentais e contou com grandes nomes para gravar suas canções tais quais Elza Soares e Núbia Lafayette, e outros com os quais tocou junto, como Bezerra da Silva e Dona Ivone Lara.
Jair do Cavaquinho (1922 – 2006) começou a frequentar o mundo do samba por intermédio do lendário Zicartola, participando de marcos como o musical Rosa de Ouro e os grupos A Voz do Morro, Cinco Crioulos e Cinco Só – todos esses ao lado de outros sambistas históricos da Portela e de Mangueira e Salgueiro. Integrou a Velha Guarda na década de 1980 e foi autor de mais de dezenas de sambas, regravados por importantes nomes da nossa música. Assim como David do Pandeiro (1934 – 2019), ficou famoso por parcerias com Candeia e do seu primo Casquinha. David ainda trabalhou como músico com Carlos Machado e Walter Pinto, e foi interpretado por Carmen Costa e Elizeth Cardoso. Em 1990, passou a fazer parte da Velha Guarda, reaproximando-se do samba após um período de hiato.

O maior compositor de sambas de terreiros da escola e um dos pilares da velha guarda, Monarco. Foto: O Globo/Ana Branco
Fechando o time de grandes instrumentos está ninguém menos que Osmar do Cavaco (1931 – 1999), considerado o primeiro cavaquinhista da Portela, responsável pelo acompanhamento do intérprete durante os desfiles de 1971 até 1987. Além de ter herdando o talento musical do pai, Laudelino Procópio da Silva, o Lalau, que tocava com os principais chorões da cidade, deixou de herança seu filho Sérginho Procópio (1967). Ele assumiu o seu lugar na Velha Guarda e se tornou o mais jovem integrante a integrar o grupo. Compositor de mão cheia, o sambista herdeiro de Osmar foi ainda presidente da agremiação com a eleição da chapa Portela Verdade, em 2013.
Para encerrar a importância fundamental dos baluartes da Velha Guarda portelense e o maior autor de sambas de terreiro da Portela, Hildemar Diniz, o atual líder do conjunto nas últimas décadas: Monarco (1933). O apelido Monarco surgiu pelas bandas da Baixada Fluminense – na época, Monaco ganhou o “r” pelas ruas de Oswaldo Cruz, bairro onde viveu na infância. Lá, apaixonou-se pela azul e branca e, ainda na adolescência, fugiu diversas vezes para a quadra da escola. Aos 17 anos, ingressou na ala de compositores, sem jamais ter ganho uma disputa de samba-enredo. (Monarco tem um texto só pra ele aqui no Carnavalize!)
Outro marco mais recente no processo de consolidação da liderança de Monarco e da Velha Guarda como instituição ativa da escola foi a partir da ideia de Marquinhos de Oswaldo Cruz, em 2003, de promover a Feijoada da Família Portelense. Seu legado na portela se estende ainda na atuação de seus filhos Mauro e Marquinhos Diniz como compositores e diretores da escola, além da sua neta Juliana Diniz, também sambista.

A força feminina é uma constante importante na história portelense desde sua fundação. A grande matriarca da agremiação é sem dúvidas Dona Esther (1896 – 1964), quem tem forte influência na história da azul e branco, mesmo não tendo sido envolvida diretamente nos desfiles de carnaval. Como uma Tia Ciata suburbana, deu históricas festas em sua propriedade, com celebrações culturais que reuniram sambistas e intelectuais de todas as partes do Rio de Janeiro. Foi fundada por ela ainda o primeiro conjunto carnavalesco da região, o bloco Quem fala de nós come mosca, um dos muitos embriões da Portela. 
“Provei do famoso feijão da Vicentina, só quem é da Portela é que sabe que a coisa é divina”
Décadas depois, com a Majestade do samba já consolidada na festa, uma outra grande figura feminina surgiu se destacando por seus dotes culinários. Irmã mais nova de Natal, Vicentina (1914 – 1987) foi uma famosa baiana da agremiação que ganhou notoriedade por sempre servir bem os componentes na quadra da escola. Seu famoso “feijão” virou lendário nas bandas de Madureira, tanto que hoje seu nome batiza o Bar do Portelão na Rua Clara Nunes. Além de cozinheira, foi a primeira pastora a integrar a Velha Guarda show desde sua fundação.
Uma importante parceira de Vicentina na cozinha foi Dona Lourdes (1926 – 2018). Ela passou a frequentar a Majestade com apenas 12 anos e integrou o coro de pastoras liderado por Paulo da Portela. Depois, chegou a tocar chocalho da Tabajara do samba e fez parte da Velha Guarda show. Dentre as várias homenagens que recebeu, ostentou o honroso título de “Mãe eterna da Portela”. Outra pastora do grupo de baluartes portelense e que partiu recentemente foi Tia Eunice (1922 – 2015), a segunda mulher a compor a Velha Guarda após a saída da dona do feijão portelense. Ela “sempre foi a voz mais bonita entre as nossas pastoras”, afirma Monarco.
Outra importante “tia” da azul e branco foi Tia Doca (1932 – 2009). Ela veio de uma grande linhagem de sambistas, prima de Dona Ivone Lara, além de ser esposa de Altair Costa, filho do compositor Alvarenga. Figura polivalente, passeou por várias funções: puxou corda, foi da ala dos compositores, destaque, diretora da ala das baianas e integrante da diretoria. Em 1970, entrou para a Velha Guarda por sugestão de Alberto Lonato, ao lado de Eunice. Como compositora, Doca é autora do partido-alto “Temporal” e do samba “Orgulho Negro”, gravado por Jovelina Pérola Negra. Outro grande feito da sambista foram suas lendárias rodas de sambas promovidas no seu quintal por mais três décadas, por onde passaram figuras como Clara Nunes e Zeca Pagodinho.

Dona Dodô, com 94 anos, em um de seus últimos desfiles pela azul e branco de Madureira. Foto: G1/Alexandre Durão
Não tem como falar de baluarte portelense sem lembrar uma das mais emblemáticas figuras da escola na última década: Tia Surica (1940). Nascida e criada em Madureira, já aos 4 anos, já desfilava pela Portela, presa à cintura da mãe Judith, acompanhada de perto pelo pai. Em 1966, foi puxadora do samba-enredo “Memórias de um Sargento de Milícias”, de autoria de Paulinho da Viola, ao lado de Maninho e Catoni. Integrou a Velha Guarda show em 1980 e ficou famosa pelo espírito irreverente e festeiro, acostumada a dar grandes comemorações em sua casa ficou conhecida como “Cafofo da Surica”, eternizado numa canção composta por outra grande portelense, Teresa Cristina. É uma das herdeiras do tempero do feijão de Vicentina, organizando a famosa Feijoada da Família Portelense até recentemente, quando começou sua própria Feijoada no Teatro Rival.
E não tem como falar de grandes figuras femininas sem cita ainda Dona Dodô (1920 – 2015). Após brilhar como porta-bandeira, ainda seguiu uma atuação incansável, sendo atribuído a ela o marco da criação da Ala das Damas. Ela é das únicas personalidades do carnaval a ostentar dois prêmios Estandarte de Ouro em categorias especiais. Em 2004, também reinou como madrinha da bateria da Tabajara do Samba.
Finalizando este setor de baluartes estão figuras com participação ativa na escola de Madureira e que ocupam importantes funções. Jane Carla é atual diretora das baianas da Portela e também pastora da Velha Guarda Show. Outra figura dona de elegância e vaidade típica de uma baluarte portelense, Aldaléia Rosa Negra lidera há mais de dez anos o departamento feminino da escola fundado em 1956, por Therezinha de Jesus Moraes. 

Além dos grandes nomes na área da música, a azul e branco de Madureira deixou, no seu extenso celeiro de bambas, uma nobre linhagem de dançarinos que fizeram do seu gingado o seu legado para o carnaval. Uma das pioneiras nesse sentido foi a inesquecível e já comentada Dodô da Portela, quem estreou junto com o primeiro título da escola de Madureira, lá em 1935, considerado o primeiro desfile oficial organizado pela prefeitura. A jovem menina tinha apenas 15 anos quando ganhou a responsabilidade de ostentar o imponente pavilhão da Majestade do Samba. Foram mais de duas décadas seguindo esse destino. Muitos deles bailou ao lado de outro rei do gingado portelense, o mestre-sala e passista Manuel Bam Bam Bam, figurinha fácil da vida cultural de Oswaldo Cruz e que participou da agremiação desde antes da sua fundação. Até 1957 esteve como primeira porta-bandeira. Dodô ainda seguiu mais dez anos como segunda, reunindo seu charme e sua elegância inconfundíveis. Charme e elegância, aliás, aliados a etiqueta, pompa, suavidade e sempre sem perder a força. Dona Dodô foi não só uma das maiores porta-bandeiras do carnaval, mas seguiu em atuação como baluarte fundamental da Portela. (Nós também fizemos um fio especial na data de centenário desse ícone! Confira aqui!)
Com a saída de uma baluarte da dança, o pavilhão portelense não deixou de ser empunhado por uma figura tão talentosa quanto. Foi em 1957 que estreou na passarela a jovem Vilma Nascimento (1938), chegando à escola após a insistência de seu sogro Natal da Portela, que a tinha visto dançar em um clube noturno de samba. Depois de iniciar sua carreira na União de Vaz Lobo, seguiu por mais de treze anos bailando com elegância e majestade, características que lhe deram a clássica alcunha de Cisne da Passarela. Dos anos que dançou, teve como seu parceiro mais longínquo Benício. 



Uma das maiores porta-bandeiras da história, Vilma Nascimento, no carnaval de 1979 pela Portela. Foto: O Globo/Aníbal Philot

“Paulo e Claudionor, quando chegavam na roda de samba, abafavam, todos corriam pra ver”

Na arte de dizer no pé e no que mais recentemente é compreendido como “passista”, a agremiação também teve seu grande pioneiro: Claudionor. Morador de Oswaldo Cruz, participou dos grupos carnavalescos que originaram a Portela. Nos primeiros desfiles na Praça XI, seu gingado conquistou o público e se destacou. O dançarino misturava os passos de samba com referências corporais ao lendário humorista Charles Chaplin, fazendo grande sucesso. Essa mistura o tornou conhecido como o “Rei do Sapateado” e até como “O maior passista de todos os tempos”, títulos nada modestos que reafirmam seu enorme talento.
Outro grande nome da arte de dizer no pé foi o lendário Tijolo ( – 2001). Ele fez sucesso não só na sua agremiação de coração, mas por vários espetáculos pelo mundo. Na década de 1950, quando o sambar em público era um papel associado ao feminino e não havia a ideia de um passista que se destacava no desfile, o jovem Alexandre de Jesus já adorava exibir seu gingado entre as alas. Mas o dançarino precisou ser reconhecido fora das quadras, fazendo sucesso em espetáculos teatrais e musicais, inclusive no Teatro de Revista de Carlos Machado. Com o sucesso nos palcos, veio o convite para dançar solo nas apresentações carnavalescas e logo ele se tornou uma celebridade da época, seguindo desfilando pela Portela até a década de 1970.
Mais recentemente, a ginga portelense desses dois históricos baluartes encontrou seu legado em outro grande dançarino da escola: Jerônimo (1952), filho do baluarte Argemiro da Portela, foi iniciado na arte da dança por ninguém menos que a histórica Mercedes Baptista. Seus primeiros passos foram dados por incentivo de Dona Dodô. Fora da Avenida, ele bailou ao lado de figuras como a lendária vedete Virgínia Lane. Já na Sapucaí, fez história. Primeiramente como coreógrafo das comissões de frente da Mocidade, no início dos anos 1990, e da Portela, em 1994 e 1995, inovando ao renovar o quesito da agremiação após décadas de tradição. Além de coreógrafo, foi ainda exímio mestre-sala no mesmo período, chegando a ocupar as duas funções no lendário Gosto que me enrosco, em 1995.
Aliás, por falar em comissão de frente, esse é um quesito que a Portela ajudou a moldar. Foi Paulo da Portela quem reuniu um primeiro grupo de notáveis para abrir os cortejos da agremiação, mas a iniciativa teve na figura de Antônio Candeia, pai do compositor, seu grande organizador. Foi ele quem consolidou o grupo de sambistas sempre elegantemente trajados de fraque e cartolas com a missão de saudar o público. Inovadora da chamada comissão de frente tradicional, a azul e branco foi também a última escola a abandonar o modelo do segmento, no início dos anos 1990. 



Maria Lata D’Água em apresentação durante tour pela Europa nos anos 60. Foto: Acervo Cultural Portela
“Lata d’água na cabeça, lá vai Maria…”

Mas como é de se esperar, nem só no bailado masculino vive o gingado portelense. Duas passistas fundamentais da história do carnaval desfilaram pela azul e branco de Oswaldo Cruz. A mais conhecida delas é Maria Mercedes, ou Maria Lata D’Água (1933). Ganhou o sobrenome graças a lata que equilibrava enquanto evoluía na Avenida. Foi uma celebridade carnavalesca nas décadas de 1950 e 60, frequentou o programa do Chacrinha e fez shows na Rádio Nacional – de onde surgiu a marchinha em sua homenagem composta por Luís Antônio e Jota Júnior, imortalizada pela cantora Marlene. Apesar de já ter cruzado a Avenida por outras agremiações, foi na Portela que Maria se tornou famosa e por onde desfilou por 45 anos.
Na década de 1970, mais uma estrela surgiu para o panteão de portelenses ilustres. Uma passista com um jeito de sambar único, que envolviam muitos truques e piruetas. Ela ganhou o apelido em referência ao rei do futebol pelo desenho com as pernas parecido ao que o jogador fazia. Com esse estilo inconfundível Marisa Marcelino de Almeida se tornou Nega Pelé (1945 – 20), passista absoluta da azul e branco, que reinou à frente dos ritmistas portelenses na década de 1990. Atualmente, o grande passista Valci Pelé, coordenador da ala da Majestade do Samba, carrega o apelido em homenagem à Marisa, por ter sido descoberto por ela anos atrás.
Ao lado de Valci, quem comanda o grupo de passistas da agremiação é outra grande baluarte da dança: Nilce Fran. Portelense desde os 10 anos de idade, já foi porta-bandeira mirim, passista mirim e chegou ao almejado posto de rainha de bateria. Hoje, 38 anos após sua chegada, ela é desde 2005 coordenadora de uma das mais elogiadas e premiadas alas de passistas do carnaval, revelando também novos talentos.



A elegância era lema e ferramenta de Paulo da Portela para enfrentar o preconceito contra a cultural popular, como já comentamos. Assim, a opulência visual sempre foi uma característica da agremiação. Mesmo antes de um desfile de carnaval ser decidido nos quesitos visuais, ela consagrou o trabalho de grandes artistas. Esse destino da escola já foi traçado na figura de um dos seus três fundadores; Antônio Caetano (1900 – ), com talento artístico nato, foi desenhista da imprensa naval, e são obras dele os maiores símbolos da agremiação. Primeiro, a bandeira em azul e branco com raios, inspirada na bandeira do sol nascente do Japão, formato que se tornou quase padrão nas agremiações. O azul e branco teria sido uma homenagem a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do conjunto carnavalesco. E é ainda também de Caetano a ideia da Águia como símbolo da agremiação, por suas características altivas e aguerridas. Responsável pelo visual da escola em seus primeiros desfiles, foi concebido por ele as primeiras alegorias que a Portela apresentou nos primeiros concursos.
Com a ruptura de Paulo da Portela, Caetano tomou as dores do amigo, fazendo surgir uma nova figura criativa que reinaria durante décadas como “carnavalesco” da azul e branco, antes mesmo da função ter esse título. Pouco se sabe sobre Lino Manoel dos Reis, mas ele já integrava o time criativo da agremiação antes de assumir o posto, em 1942. Permaneceu à frente do barracão portelense até 1956, período em que a Portela conquistou nada menos que 11 campeonatos. Mas Lino não trabalhou sozinho. Ele contou com a ajuda de gente como Euzébio, Nô, Oreba, Arlindo Costa, Nilton, Paulinho, Pinduca, professor Batista e Viegas durante os mais de 20 anos em que coordenou a parte artística da Portela. Entre 1960 e 1961, foi ainda presidente da escola.
Na década de 1970, após uma passagem do salgueirense Nelson de Andrade renovar o espetáculo que a Portela apresentava, a escola formou o que hoje entendemos como Departamento Cultural para comandar os aspectos visuais da agremiação. O responsável por essa liderança foi Hiram Araújo (1929 – 2017), que já havia desenvolvido a mesma função na Imperatriz Leopoldinense. Durante os anos em que esteve à frente do projeto, Hiram desenvolveu importantes enredos literários e biográficos. Um grande portelense ligado às artes plásticas, e que participou da criação do carnaval da Portela de 1971 sob a liderança de Hiram, foi o cartunista Lan (1925). Nascido na Itália, dedicou sua arte ao exercício de exaltar a brasilidade e as curvas de suas famosas “mulatas”. Foi casado com a ex-passista da Portela Olívia Marinho, uma das três famosas Irmãs Marinho.
“Hoje tem marmelada”, desfile portelense campeão de 1980, assinado por Viriato Ferreira. Foto: O Globo/Sebastião Marinho
No final da década de 1970, a Portela foi responsável por dar destaque a um dos grandes artistas visuais do carnaval: Viriato Ferreira (1930 – 1992). O figurinista, que iniciou sua carreira no Teatro de Revista e depois atuou como assistente de Joãosinho Trinta, fez uma trilogia de desfiles marcantes na azul e branco, entendendo como poucos o estilo da agremiação. Em 1980, a parceria rendeu um título para a escola e ao artista com o inesquecível Hoje tem Marmelada.
Outro grande carnavalesco lançado pela agremiação foi ninguém menos que Alexandre Louzada (1957). O artista nascido em Niterói começou na escola como desfilante, depois, passou a ser aderecista, até se tornar o artista responsável pelo desfile de 1985. Um dos grandes campeões da festa, tem um estilo marcado pelo luxo e pela pluma. O artista teria ainda uma passagem pela agremiação entre 2001 e 2003, e também mais recentemente em 2014 e 2015, quando devolveu na agremiação seu estilo luxuoso característico, vestindo muito bem os componentes de Oswaldo Cruz e Madureira.
Ainda se tratando sobre visual e luxo, mas deixando os carnavalescos de lado, uma outra figura ligada ao visual traduz o espírito vaidoso do portelense como ninguém. Falamos do destaque Carlos Reis. Trazido pela agremiação por ninguém menos que Clara Nunes, ele começou desfilando como componente até subir para o glamour do alto das alegorias. Nos últimos anos, consagrou-se como primeiro destaque, marcando presença no abre-alas ao lado da águia de Madureira.
Com toda sua tradição e com toda sua longevidade, a Portela colecionou uma enorme galeria de bambas não só envolvidos diretamente no seu cotidiano, mas também uma legião de apaixonados para lá de famosos. O principal exemplo disso é Clara Nunes (1942 – 1983), que se tornou um grande símbolo da agremiação apesar de ter atuado na escola um período relativamente curto. Foram menos de dez desfiles em que a guerreira desfilou na Águia. Ajudou, porém, a produzir um forte repertório portelense em sua trajetória, seja pelas regravações de sambas-enredos ou sambas de terreiro de compositores da escola, ou por eternizar um dos mais belos hinos dedicados à Majestade, o Portela na Avenida, escrito por Paulo César Pinheiro em 1981. A ligação é tão forte que a cantora foi homenageada pela escola um ano após a sua morte, em Contos de Areia, e a rua da quadra da azul e branco foi batizada em homenagem a ela. Também foi enredo da agremiação em 2019.
Ainda na década de 1970, quando Clara explodiu junto a outros grandes do samba, muito cantores para lá de importante para o gênero fizeram sucesso. A época consolidou nomes como Dona Ivone e Clementina de Jesus e trouxe antigos ícones para o estrelato, como Cartola. Também notabilizou a relação da Portela com João Nogueira (1941 – 2000), o típico carioca suburbano boêmio. Ele foi um dos grandes apaixonados pela Águia e ingressou na Ala de Compositores da escola em 1971. Outro cantor também reconhecido e que integrou o grupo durante o mesmo período, concorrendo com suas obras no concurso musical da escola, foi Agepê (1941 – 1995), famoso por seu estilo romântico rasgado. Ele regravou ainda grandes canções do repertório portelense em seus discos de maior sucesso. Quem também fez parte do time de poetas portelenses foi Wilson Moreira (1936 – 2018), que, apesar de ter fundado a ala dos compositores da coirmã Mocidade Independente de Padre Miguel, fez história na azul e branco de Madureira.
João Nogueira e Paulinho da Viola no desfile portelense de 1995. Foto: Acervo Cultural Portela
Nas décadas seguintes, grandes sambistas também se aproximaram da Portela e da Velha Guarda da agremiação, regravando sucessos surgidos nas rodas de samba de Oswaldo Cruz e Madureira. Na década de 1980, foi o caso de Cristina Buarque (1950), grande cantora irmã de Chico e filha de Sérgio Buarque de Hollanda. Ela batizou seu álbum de forte sucesso com “Quantas Lágrimas” de Manácea. Outro grande cantor ligado tradicionalmente a agremiação é Zeca Pagodinho (1959), lançado por Beth Carvalho também nos anos 1980, e que incluiu grandes clássicos portelenses em seu repertório.
Outra figura fundamental nesse sentido foi Marisa Monte (1967), filha de outro portelense ilustre, Carlos Monte, biógrafo da Velha Guarda Show e ex-diretor cultural da agremiação. Marisa produziu o disco Tudo Azul em 1999, que resgatou grandes canções compostas por sambistas da Majestade. Já neste século, outros sambistas ligados a Portela são Teresa Cristina (1968), que começou sua carreira cantando sambas portelenses e dedicou vários álbuns para homenagear a Velha Guarda, e Marquinhos de Oswaldo Cruz (1961), o idealizador do Trem do Samba e da Feira das Yabás. Maria Rita (1977) e Roberta Sá (1980) são duas divas de geração contemporânea do samba que também defendem com amor as cores azul e branco

*Referências bibliográficas: o importante acervo do site Portela Web e Portela Cultural; o livro “Histórias da Portela: tantas páginas belas”, de Luiz Antônia Simas e lançado pela Verso Cultural. Além da publicação “Portela, 90 anos de história”, editado por Salete Lisboa.
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