Pernambucano, debochado, carnavalesco. Descubra as 10 vezes que Fernando Pinto foi o maior “cabeludo tropicalista” que você respeita!
1 – Tropicalista, marginal e desbundado
O lema dos anos 1970 era aloprar geral e desbundar contra o regime militar. “Pernambucanópolis”, Fernando Pinto foi ator e diretor da cena cultural neste período e seguiu esses lemas à risca. Participou da irreverência do grupo andrógeno DziCroquettes e dirigiu as eternas Frenéticas, um grupo vocal feminino brasileiro formado por seis integrantes, que surgiu em 1976. Dois símbolos da marginalidade e do desbunde da época. Afinal, a ordem era abrir as asas e soltar as feras.
2 – O Império Serrano que canta dando uma de Carmen Miranda
O tropicalismo pregava uma celebração irônica do brega e kitsch, subastantivo alemão que caracteriza algo de mau gosto, pouco apuro estético, geralmente feito para o apelo popular. A figura caricata da Carmen Miranda foi um prato cheio para isso. Quando estreou no Império Serrano, já em seu segundo carnaval, Fernando Pinto colocou sua cara tropical à mostra numa exaltação a cantora luso-brasileira. O enredo não seguia uma linha biográfica, era um grande teatro de revista em homenagem a cantora. Além disso, esse foi um dos primeiros enredos a não exaltar uma figura ou fato histórico, mas sim uma cantora popular da cultura de massa.
3 – A trilogia indígena
Alguns carnavalescos gostam de representar nobres, outros os
negros e terceiros, civilizações antigas. Fernando Pinto era fascinado pela
população indígena,louvada na sua obra diversas vezes. Foram três enredos de
sua trajetória de 13 desfiles assinados no especial carioca abordando o tema. O
primeiro deles foi em 1973, numa visão do descobrimento do Brasil do ponto de
vista dos nativos, com uma pegada onírica com seres fantásticos dessas nossas
terras tupiniquins. Era a “Viagem Encantada Pindorama a dentro.”
negros e terceiros, civilizações antigas. Fernando Pinto era fascinado pela
população indígena,louvada na sua obra diversas vezes. Foram três enredos de
sua trajetória de 13 desfiles assinados no especial carioca abordando o tema. O
primeiro deles foi em 1973, numa visão do descobrimento do Brasil do ponto de
vista dos nativos, com uma pegada onírica com seres fantásticos dessas nossas
terras tupiniquins. Era a “Viagem Encantada Pindorama a dentro.”
4 – O Reizinho de Madureira
Apesar de seus carnavais na Mocidade terem ficado mais famosos (de fato foram os mais brilhantes), foi no Império Serrano que esse gênio tropicalista assinou mais desfiles. Foram sete carnavais em Madureira contra cinco em Padre Miguel, nessa passagem ele apresentou temas mais ligados à cultura popular e ao folclore. Mas sempre sem perder o sabor tropicalista, louvando vedetes do subúrbio, artistas da Chanchadas e rainhas do maracatu.
5 – Margaridas e brasilidades
Foi só em 1980 que Fernando Pinto finalmente desembarcou na Zona
oeste, a tarefa era difícil: assumir a campeã. Veio então uma “Tropicália
Maravilha”, regada de frutas e flores. Era uma visão do Brasil de então com um
sabor bem debochado e irônico. Não faltou a mensagem política, a última
alegoria entrava na campanha pela anistia que balançou o regime militar em
1979. Uma atitude política inédita nas escolas de samba.
oeste, a tarefa era difícil: assumir a campeã. Veio então uma “Tropicália
Maravilha”, regada de frutas e flores. Era uma visão do Brasil de então com um
sabor bem debochado e irônico. Não faltou a mensagem política, a última
alegoria entrava na campanha pela anistia que balançou o regime militar em
1979. Uma atitude política inédita nas escolas de samba.
6 – Artista de Verdade
Nenhum artista circulou no circuito artístico de seu tempo como Fernando Pinto. O carnavalesco frequentou todo o metiê de galerias, teatros, exposições e programas de TV. Realizou várias exposições, a mais badalada delas em 1983 com peças usadas no desfiles “Como era Verde meu Xingu”, na Mocidade. A repercussão foi parar até nas colunas sociais da época e a sexta colocação da verde e branco causou revolta na classe artística e intelectual. Fernando Pinto realizaria também outras mostras de seu trabalho, uma delas no Pão de Açúcar, juntos como outros artistas da chamada “Geração 80”. Aliás, eram também do carnavalesco as decorações que enfeitavam os bailes de carnaval do famoso monumento carioca, frequentado pela elite da zona sul.
7 – Tem muamba, cordão de ouro, chapéu
O regime militar dava seus respiros finais, mas na prática ainda existia, a Mocidade Independente era bancada pelo mítico bicheiro Castor de Andrade. Um enredo sobre a muamba e o comércio ilegal de produtos seria impossível? Não para Fernando Pinto. Na estreia do sambódromo em 1984, a Mocidade chutou ás favas o politicamente correto e cantou que estava “baseado na ideia do Papai”. Com rádios, tênis e até as famosos sopas do artista pop Andy Warhol.
8 – Sou a Mocidade, sou Independente, vou a qualquer lugar
O movimento tropicalista questionou as ditas “artes populares e eruditas”, acabando com qualquer hierarquia, misturando o que se achava supermoderno (as guitarras elétricas) com o arcaico (tambores do folclore nordestino). Assim fez o carnavalesco independente em 1985 no famoso título da estrela guia. O moderno, o futurista, a ficção científica encontrou diversas manifestações folclóricas em “Ziriguidum 2001”. Muito além do carnaval, várias folias foram parar em outros planetas como: os Caboclinhos Marcianos, o Boi-robô Saturno, o Frevo Uraniano, o Afoxé dos Filhos de Plutão e outras farras interplanetárias. Era o Expresso 2222 de Gil. O 2001 de Tom Zé. Os índios de Caetano. O tropicalismo nu e cru.
9 – A oca virou taba, a taba virou metrópole
Uma das imagens mais famosas criadas pelo carnavalesco tropicalista é, sem dúvidas, os índios de patins da eterna Tupinicópolis. A cidade indígena utópica juntava a crítica e a celebração bem ao sabor tropicalista. A figura do nativo brasileiro foi usada para criticar o sistema capitalista e alertar à demarcação das terras indígenas, ao mesmo tempo em que celebrava a tecnologia das cidades contemporâneas. Quer antítese maior? E nada mais característico da Tropicália do que uma boa contradição.
10 – Bye bye Brasil, beijimbeijim
O maior tropicalista que o carnaval já viu se foi de maneira trágica em 1987 num acidente de trânsito, enquanto preparava o carnaval do ano seguinte. A democracia já havia retornado, enfim, e 1988 marcaria o ano da constituinte. Enquanto todos sonhavam com um novo Brasil que nascia, o gênio decidiu brincar com o clima otimista e decretou o fim do nosso país, propondo a criação de sete Brasiléias que formariam novas nações. Um deboche delicioso. O desfile não foi dos melhores, mas deixou na Comissão de Frente a última grande imagem da carreira do tropicalista, negões enormes vestido de Xuxa.
+1 vez Fernando Pinto
Fernando Pinto foi o carnavalesco mais ligado ao seu tempo e, paradoxalmente,o mais à frente dele. Nordestino e cabeludo, soube cumprir a cartilha lançada por Caetano, Gil, Tom Zé, Oiticica, Glauber Rocha, Zé Celso e outros mitos brasileiros. Cantou as delícias e dores do Brasil, louvando nossos abacaxis, araras e índios, ao mesmo passo que nossa miséria, fome e outros problemas sociais. Debochado, irônico, desbundado, marginal, tropicalista, genial, artista. Tropicalisticamente, Fernando Pinto.
Leonardo Antan é folião frequentador do Sambódromo desde criança e tem verdadeiro amor pelas escolas de sambas. Trabalha, estuda e vive o mundo de confetes e serpentinas durante o ano inteiro. Atualmente, cursa História da Arte na UERJ onde pesquisa também sobre o tema.