12 alegorias inesquecíveis de Renato Lage

por Leonardo Antan

Sinônimo de High Tech, Renato Lage soube se manter atual e revolucionário desde que assinou seu primeiro trabalho, lá pros idos de 1980. Discípulo da grande escola de carnavalescos de Fernando Pamplona, começou a carreira como tantos outros na equipe do meste. Cenógrafo de formação, suas alegorias chamam atenção pela limpeza e a forma. 
De uma simplicidade e objetividade absurdas sem perder o lúdico carnavalesco. Com mutias vitórias e passagens emblemáticas por grandes escolas, a carreira de Lage também é marcada por suas esposas. As duas os auxiliaram em momentos diferentes e, cada uma a seu modo, contribuindo para a assinatura de seus carnavais. A primeira delas, Lílian Rabello, o acompanhou em suas passagens pelo Império Serrano, Caprichosos e Mocidade. E mais recentemente, a partir da virada pro século XXI, entrou em cena Márcia Lávia, atual Lage, com quem dividiu a autoria dos desfiles em toda sua trajetória no Salgueiro. 
Numa homenagem ao rei da forma, nós separamos 12 alegorias que entraram para história do carnaval com a assinatura desse grande artista. São tantas esculturas, desenhos, personagens inesquecíveis, que foi um verdadeiro desafio escolher apenas doze. Tentamos então abranger o máximo de agremiações diferentes por onde Renato passou fazendo uma cronologia quase completa de seu estilo, confira:

1 – Macobeba, o que dá pra rir dá pra chorar – Tijuca 1981

Em seu primeiro carnaval no grupo especial, Renato já nos brindou com o que seria uma das apresentações mais marcantes da história da Unidos da Tijuca. A escola que não tinha a força que tem hoje, brigava pelas últimas posições. Renato fez um enredo baseado num livro que contava a história de caipira contra o monstro do capitalismo Macobeba. A personificação da fera ficou emblemática pela forma que ganhou. A escultura foi feita por copos de plásticos e os olhos por dois aparelhos de televisão. 

2 – Mãe Baiana Mãe – Império 1983

Com a difícil missão de assumir o Império Serrano após o histórico título de 1982, Renato Lage teve que reinventar a Bahia no desfile com enredo do mestre Pamplona. A missão era difícil, já que o estado mais negro do país que já havia dado o título dois anos antes para a Imperatriz de Arlindo Rodrigues. O desafio foi cumprido e a apresentação da Serrinha entrou pra história. 

4 – Luz, câmera e ação – Caprichosos 1988 

Depois da passagem pela coroa imperial, o artista recebeu outro pepino nas mãos, assumiu a querida Caprichosos de Pilares, no seu primeiro carnaval sem o carnavalesco Luiz Fernando Reis que fez história com seus desfiles irreverentes. Renato então deu adeus a personalidade crítica criando um enredo sobre o cinema, com um trabalho plástico requintado. 


5 – Chué, chuá, as águas vão rolar – Mocidade 1991 

Após a estadia rápida pela escola de Pilares, Lage recebeu mais um desafio, assumir a vitoriosa Mocidade que vivia o luto da perda de seu grande carnavalesco, Fernando Pinto. Marrento, ele fingiu não ligar pra responsabilidade e foi campeão já no primeiro ano. Em 1991, quando foi bi, encantou a Sapucaí com um feto dentro de um globo terrestre, que passava a mensagem ecológica do enredo sobre águas. Um primor. 

6 –  Marraio, feridô sou rei – Mocidade 1993

O desfile de 1993 da verde e branco passou despercebido no ano do Ita do Salgueiro, o enredo falava sobre jogos e brincadeiras infantis. Mas uma escultura entrou pra história por sua singeleza e colorido. O menino jogando joystick marcou gerações de crianças que sonhavam usar aquele boné e os óculos tecnológicos. 

7 – Criador e Criatura – Mocidade 1996

A década de 1990 foi marcada pela rivalidade entre a barroca Imperatriz de Rosa Magalhães e a moderna Mocidade de Renato Lage. Muito além de rótulos, os dois artistas que dividiam o pódio mostraram versatilidade e criatividade em seus trabalhos. Num ano de título para Padre Miguel, ficou no inconsciente coletivo as mãos do criador que moldavam a formação dos planetas, uma beleza singular. 


8 – De corpo e alma na avenida – Mocidade 1997

Falando sobre o corpo e a alma humana, o mago High Tech reinventou a escultura de carnaval ao levar para a avenida o coração mecânico no desfile daquele ano. O órgão feito de material translúcido e com uma estética de máquina fez pulsar mais fortes os independentes com tanta originalidade. 

9 – Villa-Lobos e a apoteose brasileira – Mocidade 1999

Provavelmente a mais icônica e bela criação do artista, o pierrô do enredo sobre o maestro Villa-Lobos encantou a Sapucaí. Com beleza e grandeza, a escultura marcou mais uma vez o uso de matérias de alternativos, uma caraterística de Renato. A gola e o gorro eram feitos de copinhos de plástico trazendo a leveza do personagem eternizado na história carnavalesca. 

10 –  Tambor – Salgueiro 2009

“Vem no tambor da academia…”, depois uma longa e vitoriosa passagem pela Mocidade, o mestre da forma saiu de Padre Miguel com destino a vermelho e branco da Tijuca. Num casamento que já dura mais de treze carnavais, Renato e sua parceira Márcia reinventaram a assinatura contemporânea do artista. O título de 2009 marcou o retorno das grandes obras alegóricas de sua carreira, os animais que formavam o couro do instrumento título marcou por sua originalidade e objetividade narrativa. 

11 – Salgueiro apresenta: o Rio no cinema – Salgueiro 2011

Num dos seus melhores trabalhos plásticos recentes, Renato pirou em cima da temática cinematográfica que embalou um desfile de tirar o fôlego só não sendo campeão por problemas técnicos e o atraso da escola. Alegorias lindas como o abre-alas que lembrava um cinema antigo da Cinelândia e a mão de Netuno do tesouro de Atlântida foram os pontos altos da apresentação, mas o genial High Kong no relógio da Central foi a imagem eternizada da apresentação.  

12 – Do Fundo do Quintal, Saberes e Sabores na Sapucaí – Salgueiro 2015

Surpreendendo a Sapucaí mais uma vez, Renato se reinventou no desfile sobre a cozinha mineira. Com alegorias impressionantes e criativas, o Salgueiro levantou as arquibancadas com seu samba morno abrindo muitas bocas quando a alegoria que falava sobre o clico do ouro passou. Num raro momento, a obra-prima que trazia escravos toda feita em material dourado reluziu como poucas outras já vistas.

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