5x Pérola Negra: Pequenas preciosidades da Joia Rara do samba

por Beatriz Freire

Fundada em 1973, o Pérola Negra, carinhosamente conhecido como “Joia Rara do Samba”, teve momentos áureos e outros não tão positivos nestes seus quase 44 anos de existência. O Pérola surgiu a partir da fusão entre o Bloco das Bruxas e a Acadêmicos de Vila Madalena, bairro que ainda sedia até hoje a escola que surgira naquele momento. Entre idas e vindas no Grupo Especial, a escola conquistou o posto de uma das mais simpáticas agremiações de São Paulo. Os últimos anos, apesar de serem marcados por uma enorme dignidade da escola e ótimos desfiles, trouxeram resultados ruins, que abalaram a estabilidade da agremiação na elite do carnaval paulista. O Pérola Negra, no entanto, conta com o enorme apoio dos foliões que acompanham a trajetória da escola, e segue conquistando corações por onde passa com sua preciosidade. Sendo assim, listamos cinco anos de desfiles e momentos importantes que passeiam pela história da escola oriunda da Zona Oeste de São Paulo.


1– Portinari, o pintor do povo (1976)

As duas primeiras apresentações da escola da Vila Madalena trouxeram, coincidentemente, seus dois primeiros títulos, e o ano de 1976, o terceiro desfile desde a fundação da escola, marcou a sua estreia no Grupo Especial ao lado de grandes nomes da folia paulista. Para 76, o Pérola levou ao público o enredo Portinari, pintor do povo”. Apesar da escassa documentação disponível para consulta, o que se sabe sobre a ficha técnica do desfile é que o microfone foi comandado por Borba, e a comissão de carnaval liderada por Carlinhos Moraes era a responsável pelo desenvolvimento do enredo. O resultado daquele ano trouxe ares ainda melhores pra escola, que jamais imaginaria, mesmo em seus melhores sonhos, alcançar uma posição tão expressiva em tão pouco tempo: já no seu debute, a agremiação conquistou o 5º lugar do Grupo Especial, melhor posição de sua história, ficando à frente de poderosas agremiações, como a Nenê de Vila Matilde. 
Casal de mestre-sala e porta-bandeira em 1976 (Fonte: site www.vilamadalenafmu.wordpress.com)

2- “Shangri-la tupiniquim, sonho, fartura e milagres” (1990)

A década de 80 não foi das mais felizes para a escola. O Pérola esteve duas vezes no Grupo Especial, mas, sem desfiles impactantes, foi rebaixada em ambas as oportunidades. Sendo assim, a agremiação voltou com força no ano de 1990. O enredo a ser desenvolvido era “Shangri-la tupiniquim, sonho, fartura e milagres”. Poucas são as informações disponíveis sobre o desfile, mas o fato que chamou atenção naquele ano foi o problema da agremiação em colocar suas alegorias na Avenida. O contratempo ocorreu porque o barracão estava localizado em um terreno de barro, coberto com uma lona de circo, e uma chuva torrencial impossibilitou a saída das alegorias; a escola acabou prejudicada pela falta de mobilidade até a Avenida. No fim das contas, o Pérola passou sem seus carros, o que gerou a perda de 35 pontos no julgamento. Os novos ventos da volta à elite do carnaval foram passageiros; inevitavelmente, a escola terminou rebaixada, o que não teria acontecido se tivesse conseguido desfilar com suas alegorias. 
Desfile de 1990, de raríssimos registros fotográficos. (Fonte: Print do Youtube)

3- “Deus salve as rainhas” (2006)

Ainda na luta para voltar ao Especial e conquistar notoriedade, o Pérola apresentou o enredo “Deus salve as rainhas”, sob direção do carnavalesco Pedro Luiz Pinoti. O enredo era uma exaltação e homenagem às mulheres, desde a natureza, passando por mitos, religiões e as damas de nossos carnavais. Em uma premiação, ganhou títulos de melhor alegoria, melhor carnavalesco, melhor casal de mestre-sala e porta-bandeira e melhor fantasia. Gisa, dupla de André, veio representando Xica da Silva, a escrava que virou nobre, e desfilou grávida; a gestação de uma porta-bandeira, representando uma importante mulher, em um desfile sobre as rainhas, sem dúvidas, agregou um enorme valor simbólico aos olhos do público. No julgamento oficial, a escola terminou com o vice-campeonato, atrás apenas da Imperador do Ipiranga; as duas conquistaram seus lugares no Grupo Especial para o próximo ano. A partir daí, o Pérola Negra se destacaria e firmaria uma permanência significativa nos desfiles principais. 

Gisa e André, primeiro casal, em 2006. Na foto, Gisa está grávida de seu filho Raphael. (Fonte: Blog Gisa Camillo)

4- “Guiado por Surya pelos caminhos da Índia em busca da Pérola sagrada” (2009)

Mais uma grande passagem da Joia Rara do Samba pelo Anhembi aconteceu no ano de 2009. Na estreia de André Machado como carnavalesco da agremiação, o enredo escolhido foi “Guiado por Surya pelos caminhos da Índia em busca da Pérola sagrada”. O samba composto por Mydras, Carlinhos, Bola, Ladislau e Michel animou a comunidade da escola. A obra, embalada por Douglinhas, foi muito bem recebida pelos jurados, garantindo a pontuação máxima no quesito. 

Desfile de 2009. Ala coreografada e abre-alas. (Fonte: Cartola Galeria)

O desfile foi iniciado por uma comissão de frente que trazia o deus Ganesha abrindo os caminhos no Anhembi, seguido de uma ala composta por 42 pessoas coreografadas em típicas danças indianas. O abre-alas também chamou atenção pela sua beleza: representava Surya, o deus Sol da cultura indiana, com direito a muito dourado, nuances de tom laranja e cavalos que puxariam a carruagem. Encerrando o desfile, o indispensável Taj Mahal, prova de um grande amor, foi representado na última alegoria da escola. O sucesso do desfile também aconteceu pela aclamação de Caminho das Índias, novela muito famosa à época e que coincidiu com a realização do desfile. Com uma alta expectativa de uma colocação dentre as campeãs, a terça-feira trouxe um resultado aquém do esperado; em um julgamento considerado por muitos como injusto, a escola terminou apenas em 9º lugar. 

5- “A pedra que canta também samba – Itanhaém, hoje a Pérola é você!” (2012)

Em mais um ano na elite da folia, a agremiação decidiu homenagear os 480 anos da cidade de Itanhaém, com o título “A pedra que canta também samba – Itanhaém, hoje a Pérola é você!”, em enredo desenvolvido por André Machado. O desfile começou com uma bela comissão de frente, ora nobres com suas vestes europeias e pinturas de Benedito Calixto estampadas em suas saias, ora indígenas em suas canoas. Logo no início do desfile, anjos cercavam um tripé iluminado com Nossa Senhora no alto; atrás, vinham as baianas, representando Nossa Senhora da Conceição, já que Itanhaém foi o primeiro local de devoção a ela, com pétalas de rosas nas barras de suas lindas saias. Em seguida, um lindo abre-alas com inspiração barroca trazia caravelas, jesuítas e esculturas de “índios-anjos” com pérolas negras em suas mãos.

Ala das baianas representava Nossa Senhora de Itanhaém em 2012. (Fonte: Eduardo Anizelli)

 De forma geral, o desfile contou com alegorias muito bonitas e boas fantasias. O samba enredo foi entoado por Douglinhas e composto pela fusão de dois sambas escritos por Tigrão, Serginho, Guga Mercadante, Marcelo Soares, Tião, Mydras, Carlinhos, Bola, Regianno e Michel. O hino comoveu o público com uma beleza singular em seus versos e foi considerado um dos mais bonitos daquele ano. No dia da apuração, uma tristeza: o Pérola Negra terminou no 13º lugar, sendo rebaixado para o Grupo de Acesso no ano seguinte. Os amantes do carnaval e componentes da escola foram testemunhas de um dos maiores equívocos cometidos pelo julgamento da Liga; é praticamente unânime a opinião do público que a “Joia Rara” fez um desfile que a deixaria confortavelmente na elite do carnaval paulista. 

Mulata samba com a bateria da Pérola Negra em 1977.
No Especial ou no Acesso, fato é que o Pérola Negra jamais será mero coadjuvante. A escola conquistou o carinho de muitos foliões e é prova que o que é bom nem sempre vence. Com desfiles muito competentes e emocionantes, por muitas vezes foi julgada de maneira errada, principalmente nos últimos anos. A agremiação sempre mostrou, no entanto, sua grandeza e foco para retornar com maestria ao seleto e merecido grupo das grandes agremiações paulistas. Homenageamos a escola na esperança de que dias melhores cheguem logo, e que sejam uma realidade definitiva para a escola. De 2007 até o presente, a Joia Rara ganhou ainda mais notoriedade, e torcemos para que assim seja, continuamente. O Anhembi precisa ser abrilhantado pela sutileza e preciosidade que o Pérola Negra, escola diferenciada até em seu nome, tem a oferecer.

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