Texto: Eryck Quirino
Revisão: Luise Campos
Foram os sambas-enredos e os instrumentos de percussão que fizeram das escolas de samba uma forte manifestação carnavalesca do Brasil. Mas se o visual foi ganhando mais importância com o passar das décadas, os quesitos musicais sempre serão a célula fundamental dos cortejos.
Na última década, entretanto, o samba- enredo passou por uma verdadeira reformulação (como você pode conferir neste texto) e se oxigenou, voltando a apostar em letras mais melódicas e cadências distintas. As baterias cariocas não ficaram atrás, revendo o andamento acelerado que vigorou durante os anos 2000. Sem perder o tom da inovação, mas se alinhando com a tradição da batida de cada escola, vários mestres promoveram verdadeiros espetáculos musicais na Avenida. E como bateria é um quesito dos mais importantes, vem com a gente conferir sete baterias decisivas dessa última década na folia da Sapucaí.
Salgueiro 2012
Em 2012, o Salgueiro trouxe o enredo “Cordel branco e encarnado” e acabou em segundo lugar. Além da plástica de Renato e Márcia Lage, os ritmistas da Furiosa também se destacaram. Mestre Marcão e sua tropa de lampiões trouxeram toda a referência nordestina misturada com o ritmo da Furiosa. Isso só poderia resultar em um verdadeiro show… e foi o que aconteceu! Com triângulo, zabumba, xote e baião, tudo isso no ritmo do samba e com uma pegada acima da média.
Portela 2013
Comemorando seus 90 anos de sua fundação, a Portela fez uma bela homenagem a Madureira no seu desfile de 2013. Se o atraso no barracão da agremiação marcou uma crise da gestão de Nilo Figueiredo na Águia no pré-carnaval e gerou uma série de problemas plásticos no desfile, a bateria se vestiu de Zé Pelintra pra dar um verdadeiro show de ritmo! Foi o encontro de um excelente samba-enredo e um andamento beirando a perfeição. Mestre Nilo mostrou repertório ao fazer paradinha com referências de charme e jongo. Até a bateria Sinfônica, do Império Serrano, foi homenageada.
Salgueiro 2015
Olha o Salgueiro aí de novo! Dessa vez, o enredo da Academia era o “Do Fundo do Quintal, saberes e sabores na Sapucaí”, falando da importância da culinário mineira. Mestre Marcão e sua equipe de chefes de cozinha deram o molho perfeito para salvar um samba que não empolgava tanto. Mas Marcão temperou tão bem que a gente até esquece do restante… Era uma conversa muito bem executada entre os instrumentos durante a as bossas e paradinhas. O prato final foi um verdadeiro show e, assim, o mestre e a bateria Furiosa elevaram aquele desfile em termos de chão, fazendo em uma grande apresentação.
Imperatriz 2017
Salve o verde do Xingu! Em seu segundo ano à frente da Swing da Leopoldina, Mestre Lolo deu um verdadeiro show de ritmo com andamento, elevando o samba-enredo com uma conversa bem interessante dos instrumentos durante a execução das bossas. Destaque para a do grito indígena que encantou a todos durante o desfile, uma bela relação com o enredo de Cahê Rodrigues que trouxe os nossos povos originários no enredo “Xingu, o clamor que vem da floresta”.
Mocidade 2017
Ano de confirmação para também outro mestre de bateria, que vinha à frente da Não Existe Mais Quente desde a superdireção, ao lado dos mestres Bereco, Odilon e Andrezinho. Dudu havia assumido em 2015 o posto em que seu pai, mestre Coé, obteve bastante sucesso nos anos 1990 e 2000. Apresentado pelo grande mestre Jorjão, mestre Dudu resgatou aquela cadência característica de Padre Miguel, que sempre foi referência de ritmo no Carnaval carioca. A boa performance dos rimistas ajudou a conduzir o belo samba-enredo da verde e branco que cantou o Marrocos e terminou como uma das campeãs daquele ano.
União da Ilha 2017
E não é que 2017 foi um ano de grandes baterias? Tem mais uma nessa lista! Além do resgate de uma bateria consagrada do Carnaval, foi também o ano em que veio o tão esperado Estandarte de Ouro para mestre Ciça. Com uma afinação invejável, balanço perfeito e ótimas paradinhas, ele sacudiu a Marquês de Sapucaí do início ao fim, conquistando o prêmio mais importante entre as baterias de volta para Ilha do Governador depois de 28 anos. O destaque fica por conta da paradinha dos atabaques, na qual a bateria se abaixa e ficam só os atabaques a tocar, fazendo da Sapucaí um verdadeiro xirê, como diz a letra do samba.
Grande Rio 2019
Dessa vez, vamos à Baixada Fluminense falar da bateria do Acadêmicos do Grande Rio de mestre Fafá de 2019. Os desfiles das escolas de samba daquele ano marcaram a chegada de novos mestres no comando de algumas baterias. Todos se saíram muito bem, mas quem se destacou em sua estreia foi Fafá, que fez uma exibição de gala e saiu como o grande ponto alto da escola de Caxias naquele ano. Mestre Fafá faturou a maioria dos prêmios de 2019, entre eles o tão cobiçado Estandarte de Ouro, que não tinha ido parar na bateria da Grande Rio desde 2005, quando foi conquistado pelo grande mestre Odilon.