A lista de melhores sambas-enredos de todos os tempos é gigante. Sempre difícil apontar qual o maior hino da história carnavalesca. Não faltaram poetas que nos brindaram com verdadeiras obras-primas dotados de muita beleza e lirismo. Mas a cada ano, novos sambas surgem e muitos deles são esquecidos facilmente. Os mais belos recebem diversões premiações e troféus. Mas além deles, um ou outro também entra para a memória do sambista, não exatamente por sua riqueza melódica… Quer dizer, talvez exatamente por ela… pela falta dela, quero dizer.
Justamente pela falta de qualidades, um samba pode permanecer no imaginário carnavalesco. Hoje, na estreia do nosso top 7, vamos fazer uma antologia dos piores sambas que já passaram pela Sapucaí e nunca mais saíram do nosso imaginário. Alguns a gente ama odiar e outros possuem tantos versos inesquecíveis que a gente acaba amando mesmo. Venha conferir:
7 – Rocinha 2014 – Do paraíso sonhado, um sonho realizado. Sorria, a Rocinha chegou à Barra
Geralmente um samba de qualidade questionável acompanha um desfile também não muito bom, foi o que aconteceu com a Rocinha em 2014. Depois de apresentações leves e bem divertidas, a borboleta tentou manter a mesma pegada num enredo sobre a Barra da Tijuca, mas a tragédia já estava anunciada desde a escolha do tema.
O trilha sonora do desfile tenta vender esse grande bairro como um verdadeiro paraíso. E os cariocas sabem que de paraíso ele não tem nada. Talvez valesse uma menção a distância que o bairro tem de qualquer lugar. Mas a letra começa com a bela frase “Vou transpor o túnel e me encantar”… Encantar? Na Barra? Só se for com os milhões de shoppings, os únicos atrativos do lugar. A genialidade não acaba por aí se segue com pérolas como “Barra… recebe o mundo soberana / Dá esse orgulho a quem te ama”. Terminando com um refrão animado que junta Rock com samba. Péssimo, mas divertidíssimo. Uma pérola trash.
Frase memorável:
6 – Vila Rica 1995 – Deu pano pra manga
Alguém falou em pérola trash? Sim e não podemos esquecer esta verdadeira joia rara, que de tão trash já virou um “cult” do carnaval. Nos 1990, algumas escolas pequenas deram uma passeada no Especial e nos brindaram com desfiles memoráveis. A mais notária dessas foi a participação da então recém-criada Unidos da Villa Rica. Bloco carnavalesco de Copacabana transformado em escola em 1990 que em apenas cinco anos de existência conseguiu chegar no grupo principal.
Recebendo a difícil missão de encerrar os desfiles de segunda, a novata brindou com uma apresentação pra lá de conceitual com toques renascentistas e barrocos, que parecem mais sensíveis ao olhos do grande público. O enredo falava sobre “tecidos” e o samba curtinho tinha um refrão animado e inspirado. A primeira frase já trazia impacto com “Tecendo nas malhas do tempo”, o ritmo seguia trazendo palavras que agregavam um valor a composição como entrelaçar e rudimentar, mas finalizava essa primeira parte com a brilhante rima entre amor e flor. O destaque final fica para a citação ao uso do jeans. Um verdadeiro clássico.
Frase memorável:
5 – Mocidade 2004 – Não Corra, Não Mate, Não Morra – Pegue Carona Com a Mocidade! Educação No Trânsito
Outra escola que encerrou o carnaval e entrou pros anais de sambas infames, foi a Mocidade Independente. Até o ano anterior (2003), a estrela era uma das grandes escolas da época, figurinha fácil nas campeãs e dona de três campeonatos na década passada. Mas o ano de 2004, entrou pra história da agremiação marcando o início de uma crise que dura até hoje. Lá se vão doze anos que a escola não consegue uma vaga entre as seis primeiras.
Essa crise não poderia ter começado com um hino melhor, quero dizer pior. Num enredo social, a Mocidade buscava fazer um alerta sobre educação no trânsito. Com a difícil missão de musicar uma verdadeira cartilha de trânsito, os compositores nos brindaram com frases motivacionais e tentaram deixar mais leve um assunto muito sério, como na frase “Um descuido é fatal”. Na segunda parte, a letra tentava um apelo mais emocional, exaltando a vida, com o memorável trecho “A vida é um presente / Chegou a hora de mudar / Sai desse “pega” moleque / Pisa no breque / Tem alguém a te esperar”. Uma aula de cidadania, não de samba.
Frase memorável:
4 – Salgueiro 2015 – Do fundo do quintal, saberes e sabores na Sapucaí
Um clássico recente, mas não menos memorável. A vermelho e branco da Tijuca sempre nos brindou com verdadeiros hinos do nosso carnaval, mas há dois anos também nos deu de “presente” o samba que mais gerou piadas no mundo carnavalesco. Apesar de ter funcionado na avenida, nunca esqueceremos essa obra que nós fez apertar tantas vezes o botão de “próximo” quando ouvíamos o CD daquele ano.
Uma trilha sonora que fugiu a regra de que samba ruim, gera desfile ruim. Se a música não era das mais inspiradas, os carnavalescos da Academia fizeram um dos seus trabalhos mais bonitos dos últimos anos, com alegorias lindíssimas que não foram o suficiente pra nós fazer esquecer frases como “Da fome nasce a criatividade”. (??? Oi?) Foram vários memes divertidíssimos gerando até o apelido da presidenta da agremiação Regina Celi, a nossa eterna Sinhá.
Frase memorável:
3 – Beija-Flor 2014 – O astro iluminado da comunicação brasileira
Outro hino que fez história nos últimos anos, foi o sonífero grande samba da Soberana de Nilópolis que homenageou José Bonifácio, nosso eterno Boniiiiiii. Um hino nascido de um enredo rocambolesco, que ao invés de falar do homenageado resolveu contar toda a história da comunicação desde os povos antigos. Era tanta informação que faltou setor no desfile e teve que ser condessado em poucas estrofes pelos compositores. Como essa raça sofre na mão dos carnavalescos “genais”, viu.
Surgiram daí pérolas inesquecíveis, como os versos “Sonhar o sonho de um sonhador” e “Mostra, que babado é esse de samba no pé”. O samba se arrastou na avenida, num desfile digno de troféu Ortobom que acabou dando a agremiação a sua pior posição nas últimas décadas, um justo sétimo lugar.
Frase memorável:
2 – Porto da Pedra 2012 – Da seiva materna ao equilíbrio da vida
Exemplo máximo de como a cultura de enredos patrocinados pode ser nociva para as escolas, o eterno “Iogurte” da Porto da Pedra azedou na Sapucaí. (Piada velha, mas irresistível) A difícil missão de transformar o laticínio em enredo acabou custando a escola de São Gonçalo seu lugar no especial, que ela vinha conseguindo manter por quase uma década.
Não sabemos qual foi ao certo o iogurte que a Porto homenageou, mas a julgar pelo samba é bem provável ser Activia. Mas a verdade é que a canção teve a difícil missão de dar conta da salada que era o enredo que passava por Roma, Grécia, Tigres e Mercadantes. Não bastando isso, a letra ainda tinha que “vender o produto”, fazendo mais parecer um jingle publicitário com as frases “Leveza, o equilíbrio se traduz em beleza / Do dia a dia me refaz / Iogurte é leite, tem saúde e muito mais.”
Frase memorável:
1 – Unidos da Tijuca 1986 – Cama, mesa e banho de gato
Muitos afirmam ser o pior samba que a Sapucaí já viu… Mas assim como o título de melhor de todos, o de pior é ainda mais concorrido. Nós não afirmamos, mas também não negamos. Mas poucas obras reuniram tantas qualidades enojáveis numa única letra. Destilando machismo, homofobia, infidelidade e outras coisas mais.
Vale uma contextuação geral, já que o ano era 1986. O primeiro carnaval após vinte anos de ditadura militar e as escolas gozavam de uma liberdade nunca antes experimentada, de criticar e falar dos temas mais inusitados. Foi nessa onda que surgiu a ideia da Unidos da Tijuca de falar dos setes pecados capitais, mas o samba acabou focando mais na luxúria. Mesmo de qualidade questionável, esta obra-prima conta com uma irreverência e sagacidade geniais que são quase impossíveis de não arrancar algumas risadinhas na primeira ouvida.
É tanta frase memorável, que decidimos emoldurar esse samba inteiro. Ouça acompanhando a letra.
O nosso 7×1 Carnavalize fica por aqui, a gente sempre espera que vocês tenham se divertido com a gente, em breve novas listas. Saravá!
3 respostas
Faltou Ponte 96 nessa lista.
Mocidade 2004 eu não canso de ouvir e Villa Rica 95 até que é agradável…
Tijuca 1986 seria impensável reeditar nos dias de hoje…
kkkkkk concordo com todos e realmente esse da Tijuca é o pior disparado, mas cabia o samba a da Tradição de 1995 que homenageava a invenção da roda….o samba é péssimo, mas também pudera não tem muito o que se falar da roda…adoro esta estrofe:
"Eh! Eh! Baiana, baiana roda
Menina roda o bambolê, ê, ê (bis)
Roda babá
O carrinho do bebê"
Roda babá, o carrinho do bebê? kkkkkkk muito engraçado, vale a pena ouvir
Po acho que vcs não entenderam o verso da fome né…não é muito complicado, faltou atenção e interpretação