#BOLOEGUARANÁ: Voltando a dar “banho de cultura”, Grande Rio completa 32 anos

 

por Bernardo Pilotto
Em Duque de Caxias, uma das maiores cidades da Baixada Fluminense, há uma tradição carnavalesca que remonta para o período de fundação do município, nos anos 1940. Nessa época, a escola Cartolinhas de Caxias despontou, chegando a desfilar por três vezes entre as grandes do Rio de Janeiro. Além da Cartolinhas (que deixou o samba “Benfeitores do Universo”, de 1953, como sua marca), havia a União do Centenário, a Capricho do Centenário e a Unidos da Vila São Luís. 
Nos anos 1970, aconteceu uma primeira tentativa de unificação, com a fundação da Grande Rio (sem o “Acadêmicos”). Posteriormente, em 22 de setembro 1988, a Grande Rio se junta com a Acadêmicos Duque de Caxias e surge então a Acadêmicos do Grande Rio, uma das maiores escolas de samba da atualidade. 
Ao longo desses anos, a Grande Rio disputou título, fez enredos históricos, outros nem tanto, ganhou famas boas e ruins e quase sempre esteve desfilando entre as grandes do carnaval, estando 14 vezes entre as 6 primeiras colocadas. 
No início da sua trajetória, a escola caxiense apostou em temáticas identificadas com a negritude. Com bons desfiles, rapidamente chegou ao Grupo Especial, já em 1991. A escola ficou em último lugar, mas se reabilitou com um grandioso desfile e samba (“Águas claras para um rei negro”) em 1992, quando foi campeã do Grupo de Acesso, chegando novamente à elite do carnaval em 1993, de onde nunca mais saiu. 
Depois dessa primeira fase muito identificada com a negritude, a escola foi migrando para enredos de caráter histórico. Em 1996, com “Na era dos Felipes o Brasil era espanhol”, o samba trouxe o famoso refrão que afirmava “dar um banho de cultura”. E assim seguiu a Grande Rio até o final dos anos 1990, tendo sua melhor colocação em 1999 (6º lugar). 
Foto do desfile de 1996 que trouxe o famoso refrão que marcou a escola. Foto: Wigder Frota. 
Com a virada para o novo século, a escola embarcou na onda de enredos patrocinados e muitas vezes de valor cultural questionável. Também foi a partir dessa época que a escola passou a receber a presença de muitos artistas de televisão. Se olharmos os desfiles, veremos que a Grande Rio acabou ganhando a fama por um fenômeno que se alastrava por quase todas as agremiações. 
Mesmo enfraquecida em quesitos como enredo e harmonia, a agremiação chegou a boas colocações, tendo sido vice-campeã em 2006, 2007 e 2010. Tudo parecia caminhar bem e o título era uma questão de tempo. 
Só que as mudanças que o desfile das escolas de samba passou a viver, a partir especialmente de 2016, fez com que a forma de construir carnaval da Grande Rio ficasse defasada. O alerta definitivo para isso se deu em 2018, quando a escola só não caiu porque uma virada de mesa acabou fazendo com que nenhuma agremiação fosse rebaixada naquele ano, após um problema no carro alegórico.
Foi assim que a Grande Rio resolveu se reconectar com os valores que marcaram o começo de sua trajetória. O primeiro passo disso foi a valorização de nomes da própria escola para o comando de quesitos importantes, como a bateria, com Fafá. Para 2020, contratou os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, ganhadores do Estandarte de Ouro de melhor escola do Grupo de Acesso em 2018 e 2019 pela Acadêmicos do Cubango. Com enredo “Tata Londirá: O Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias”, acabou ganhando o vice-campeonato, além de vários prêmios. Aparentemente, o desfile caracterizou uma virada para a história dessa agremiação.
Todo esse processo de mudança e de reconexão com muitas das características que marcaram a escola nos anos 1990 acabou por trazer um novo olhar para a Grande Rio, além de voltar a empolgar muito dos seus componentes. Para o próximo carnaval, ela manteve a dupla de carnavalescos e segue apostando na receita que deu certo em 2020 ao escolher o enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”. 
O universo do carnaval só tem a agradecer a essa escolha que a Grande Rio fez. 

Comente o que achou:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja mais

Posts Relacionados

Projeto “Um carnaval para Maria Quitéria” valoriza a folia e conta com ilustrações de carnavalescos renomados

Projeto “Um carnaval para Maria Quitéria” valoriza a folia e conta com ilustrações de carnavalescos renomados

 A Jac Produções lança o projeto "Um carnaval para Maria Quitéria", que desenvolveu um estudo de desfile de escola de samba em homenagem a essa heroína da nossa independência. O

O aroma que vem da Glória: a alegria da MUG ao sabor de um samba inesquecível

O aroma que vem da Glória: a alegria da MUG ao sabor de um samba inesquecível

Arte de Julianna LemosPor Adriano PrexedesSejam bem-vindos de novo! Desta vez, nossa aventura sambística nos levará para outro destino: vamos até o Espírito Santo para conhecer a trajetória de uma

#Colablize: A infraestrutura do carnaval carioca hoje – o que precisa ser feito

#Colablize: A infraestrutura do carnaval carioca hoje – o que precisa ser feito

    Arte de Lucas MonteiroPor Felipe CamargoJá se tornou algo que os amantes do Carnaval carioca debatem e mencionam todos os anos. Com um misto de esperança, medo e reclamação,

A locomotiva azul e rosa: São Paulo nos trilhos do sucesso da Rosas de Ouro

A locomotiva azul e rosa: São Paulo nos trilhos do sucesso da Rosas de Ouro

Arte de Jéssica BarbosaPor Adriano PrexedesAtenção! Vamos embarcar numa viagem carnavalesca pela cidade que nunca para. Relembraremos uma São Paulo que, durante a folia, se vestia de cores vibrantes. De

ROSA X LEANDRO: Quando os carnavalescos ocupam as galerias de arte

ROSA X LEANDRO: Quando os carnavalescos ocupam as galerias de arte

 Arte por Lucas MonteiroTexto: Débora Moraes Rosa Magalhães e Leandro Vieira são os carnavalescos que mais tiveram seus trabalhos exibidos em exposições em instituições de arte. Além de colecionarem esse título,

A Lição da Mancha Verde: uma passagem pela história de persistência da escola e por um de seus desfiles históricos

A Lição da Mancha Verde: uma passagem pela história de persistência da escola e por um de seus desfiles históricos

 Arte de Lucas XavierPor Adriano PrexedesO ano era 2012, considerado por muitos um dos maiores carnavais da história do Sambódromo do Anhembi. A folia, geralmente, é lembrada pelo grande público

VISITE SAL60!

SOBRE NÓS

Somos um projeto multiplataforma que busca valorizar o carnaval e as escolas de samba resgatando sua história e seus grandes personagens. Atuamos não só na internet e nas redes sociais, mas na produção de eventos, exposições e produtos que valorizem nosso maior evento artístico-cultural.

SIGA A GENTE

DESFILE DAS CAMPEÃS

COLUNAS/SÉRIES