#BOLOEGUARANÁ: Apesar da má fase, União da Ilha do Governador tem muito o que comemorar aos 67 anos

Por Bernardo Pilotto:

É verdade que a azul vermelho e branco da Ilha do Governador não vive
uma de suas melhores fases. Depois de anos fora do Desfile das Campeãs, a
escola disputará a Série A em 2021 após ficar em último lugar no Grupo Especial
nesse carnaval, num desfile que não vai deixar saudade. Mas mesmo essa má fase
não apaga a gloriosa história da agremiação insulana. 
“Obrigado, madrinha Portela
Que me ajudou a caminhar”
(“Bom, Bonito e Barato” – Robertinho Devagar / Jorge Ferreira / Edinho
Capeta)
Foi em um dia 07 de março, em 1953, quinta-feira após o carnaval, que
membros do União Futebol Clube resolveram fundar uma escola de samba com o
mesmo nome e as mesmas cores. Para eles, era importante ter uma agremiação que
representasse a Cacuia, um dos 14 bairros da Ilha do Governador. Até então, o
bairro recebia o desfile das escolas da Ilha (sim! a Ilha tinha um desfile
próprio) mas não tinha uma escola que o representasse. 
Nos seus primeiros anos de desfile, a União ganhou um desfile atrás do
outro. Mais organizada e com boa condição financeira do que as coirmãs, a
escola passou a atrair sambistas de outras escolas da região. Esse sucesso
permitiu que ela se dirigisse até Madureira, em 1958, para pedir que a gigante
Portela fosse sua madrinha, que acatou a solicitação. Foi apenas em 1960 que a
escola começou a participar do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro e
foi nesse momento que a agremiação passou a ter o nome atual: União da Ilha do
Governador. 

Aroldo e Ito Melodia, pai e filho, e as vozes mais marcantes da União da Ilha. Foto: Gustavo Stephan / O Globo
Depois de alguns anos nos grupos inferiores dos desfiles, alternando
entre a segunda e a terceira divisão, a União foi campeã em 1974 do então
chamado Grupo 2 e conquistou o direito a desfilar entre as principais escolas
no ano seguinte. É nesse ano também que começa a ganhar destaque, para além das
fronteiras do carnaval, os seus sambas-enredo, já que Elza Soares gravou
“Lendas e Festas das Yabás”. 
“Muito bom
O meu bonito é barato
Da simpatia, o retrato
Do povo no carnaval”
(“Bom, Bonito e Barato” – Robertinho Devagar / Jorge Ferreira / Edinho
Capeta)
A partir de 1974 a Ilha ganhou projeção nacional, ficando conhecida pela
sua alegria e criatividade. Em um momento no qual as escolas tinham como
enredos temas históricos e densos, a União priorizou, a partir da chegada da
carnavalesca Maria Augusta, assuntos mais cotidianos, que se aproximavam
imediatamente do público. O sucesso foi imediato: com “Domingo” (em 1977), a
escola chegou ao 3º lugar, e com “O Amanhã” (em 1978), a escola alcançou a 4ª
colocação. A simplicidade e a garra da Ilha faziam com que ela ganhasse
simpatia e contrastavam com a opulência da Beija-Flor, então tricampeã
(1976/77/78) naqueles anos.  
Essa conexão imediata com o público facilitou com que os sambas-enredo
da escola ficassem conhecidos em todo o Brasil. Além da gravação deles por
dezenas de nomes importantes da MPB, as músicas passaram a ser cantadas em
rodas de samba e blocos de carnaval todos os anos. Sem a União da Ilha, a
música brasileira ficaria sem os já citados “Domingo” e “O Amanhã” e “É Hoje”
(de 1982), “Festa Profana” (de 1989) e “De Bar Em Bar, Didi Um Poeta” (de
1991). 
Além da criatividade e inovação dos enredos e a beleza dos seus sambas,
a bateria e o seu intérprete ajudaram a projetar a escola. Isso porque foi na
União da Ilha que grandes mestres de bateria, como Paulão e Odilon Costa, formaram-se;
e é também à frente do microfone na tricolor insulana que esteve, por mais 15
carnavais, Aroldo Melodia, uma das vozes mais marcantes do carnaval, criador de
segura a marimba e outros bordões inesquecíveis. 
Mesmo sem chegar ao tão sonhado título, é impossível não reconhecer que
a escola marcou seu espaço entre as grandes do carnaval. Depois da morte do
compositor Didi (autor da maioria desses dos sambas-enredo do período de auge
da escola) e do fim da carreira de Aroldo Melodia, a Ilha não conseguiu mais se
firmar entre aqueles que disputam o campeonato. 
Nos anos 2000, a escola amargou alguns anos na Série A, de 2002 a 2009,
quando foi campeã e retornou ao Grupo Especial. Seu melhor momento desde então
foi em 2014, com o enredo “É brinquedo, é brincadeira. A Ilha vai levantar
poeira!”, muito próximo das raízes da escola, quando fez um desfile que
fez a escola ser apontada por muitos como favorita para o carnaval. Acabou
ficando em 4º lugar. 



Resultado de imagem para uniao da ilha 2014
O abre-alas da Ilha em 2014. Foto: Marco Antônio Cavalcante / Riotur
Para o carnaval de 2020, a Ilha passou por uma grave crise, simbolizada
no fato da disputa de samba-enredo acontecer sem ter uma sinopse de enredo
elaborada. Com um conjunto fraco de alegorias e fantasias, um enredo confuso e
um samba que não empolgou, a agremiação amargou a última colocação, sendo
rebaixada novamente para a Série A. 

Os amantes do
carnaval certamente vão sentir falta da União da Ilha desfilando entre as
grandes escolas do Rio de Janeiro. Uma agremiação que tanto nos ensinou e
inovou merece resgatar sua história e voltar a figurar entre as gigantes do maior
show da terra
.
  

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