Por Redação Carnavalize
Rebaixada para a Série Ouro no último carnaval, a São Clemente encerrou o primeiro dia de desfiles na Sapucaí apostando no estilo irreverente que a consagrou. A agremiação da Zona Sul partiu de uma premissa satírica em torno da “descoberta” da Europa pelos brasileiros, invertendo a clássica relação colonial. O enredo intitulado “O Achamento do Velho Mundo” foi assinado pelo carnavalesco Jorge Silveira, de volta à escola.
Na abertura do cortejo, a comissão de frente, comandada pelo coreógrafo Lucas Maciel, trouxe uma performance em que nossos nativos misturaram referências culturais distintas. A apresentação contou com a atuação do humorista e compositor Marcelo Adnet, que representou, em um número bastante descontraído, um europeu “recepcionando” os nativos de Pindorama em suas terras. A primeira parte teve mais dança, enquanto, na segunda, se viu uma interação com o elemento alegórico.
Em seguida, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Alex Marcelino e Raphaela Caboclo, optou por uma apresentação bem clássica, com doses de interpretação do enredo. Corretos em frente à primeira cabine, os dois ostentaram uma belíssima indumentária, nas cores preta e amarela da agremiação.
O enredo irreverente, bem-humorado, se mostrou ainda inteligente, com excelentes sacadas e soluções. Ele resultou em uma plástica leve. As fantasias apostaram justamente na leveza, com elementos como bermudas, regatas, dialogando com a proposta do enredo. A cromática foi evoluindo dos tons quentes até o azul no final do cortejo. O belíssimo tapete cromático foi favorecido pela luz do amanhecer. O conjunto alegórico apresentado pela escola teve bom acabamento, carros bem forrados. O único “porém” foi o formato repetido das alegorias, que eram “caixotes”.
Abre-alas nas cores da São Clemente (Foto: Thomas Reis) |
Ala de baianas ilustrando a beleza da cromática da escola (Foto: Thomas Reis) |
O samba-enredo interpretado por Leozinho Nunes passou bem na pista, mas talvez houvesse uma expectativa de que, por suas características, ele pudesse animar mais a passagem da agremiação. A Fiel Bateria da São Clemente foi mais uma que teve a missão de dar ritmo a um dos sambas mais tecnicamente questionados da safra da Série Ouro. Sob a batuta do Mestre Caliquinho, os ritmistas da escola deram o tom e andamento que também já são características do mestre que está há longos anos na frente da bateria. Mostrando muita versatilidade, executaram todas as bossas com muita precisão, com variações entre as marcações e o naipe de caixas fazendo a base para que tudo se encaixasse na melodia do samba. Tamborins e Chocalhos com desenhos bem legais merecem o destaque positivo da escola que fechou os trabalhos da primeira noite de desfiles na Marquês de Sapucaí.
A escola de Botafogo passou sem sustos, com uma evolução tranquila e bastante correta. Já a harmonia não foi propriamente decepcionante, mas também não significou um cortejo arrebatador e super empolgante.
Com uma apresentação consistente e com poucos erros, a São Clemente se colocou na disputa pelas primeiras colocações.