Por Beatriz Freire e Leonardo Antan
Em mais uma lista da Série Enredos, hoje embarcaremos rumo ao nordeste do Brasil! O Carnavalize preparou uma seleção de temas desbravadores do local, contando as dores e tradições dos seus ricos estados e histórias. Uma enorme diversidade nos convida, a partir de agora, a repousarmos numa rede e vermos um pouco mais dessa querida região! Antes de começarmos nossa viagem, não se esqueça: para ouvir os sambas, acesse nossa playlist do Spotify, ao final do texto.
“Seca no Nordeste” – Tupy de Braz de Pina (1961)
A então pequena Tupy de Braz de Pina colocou seu nome na história ao desfilar com o enredo “Seca no Nordeste”, em 1961. O samba, que contou com lirismo e poesia as dificuldades da terra seca nordestina, se tornou um dos mais belos sambas de todos os tempos. Jamelão, o maior intérprete do carnaval, dizia ser seu samba favorito. A obra foi regravada por grandes nomes da música brasileira, como Clara Nunes, Fagner e Ivan Lins.
Nordestino, o então jovem carnavalesco Fernando Pinto fez sua estreia no Império Serrano com um samba cantando todas as belezas de sua região de origem. O enredo fazia uma grande celebração ao povo e a cultura da região, passeando pelos fabangos, os maracatus e os carnavais. O desfile contou com um visual simples, sem a explosão tropicalista que marcaria Fernando no ano seguinte. A apresentação tímida, mas aguerrida, faturou um honroso terceiro lugar pra Serrinha.
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”, disse Euclides da Cunha, romancista que escreveu sobre a Guerra de Canudos, que aconteceu no final do século XIX. Embalada pelos contos do movimento messiânico do interior da Bahia que marcou a história sob liderança de Antônio Conselheiro, a Em Cima da Hora levou aos foliões o antológico “Os Sertões”, um dos maiores sambas de enredo de todos os tempos. Na letra, de tudo um pouco da dura realidade interiorana: a seca que assola aquela terra, a improdutividade rural, a miséria, a fé que leva a lugares inimagináveis – até mesmo ao fanatismo – e às mortes de quem lutou no Arraial. A escola de Cavalcante, apesar de ter presenteado o carnaval e a música brasileira com uma verdadeira pintura, acabou rebaixada naquele ano, acometida por uma forte chuva que prejudicou a apresentação.
“Mais vale um jegue que me carregue, que um camelo que me derrube… lá no Ceará!” – Imperatriz Leopoldinense (1995)
Seguindo a viagem por terras nordestinas agora, convidamos a todos para embarcarem nos jegues escondidos na história. Num dos enredos mais originais da lista, não poderíamos esquecer a incursão de Rosa Magalhães na região nordestina. A história da expedição científica ao Ceará que importou camelos da Argélia é um achado da cultura brasileira. Como diz o samba, “balançou, não deu certo”, os dromedários não deram certo em terras nordestinas e o enredo terminou por exaltar o jegue, produto legítimo brasileiro. O tema ganhou ainda o “Ceará” no título após a confirmação de patrocínio do estado.
“Brazil com Z é pra cabra da peste, com S é nação do nordeste” – Mangueira (2002)
Foto: Widger Frota. |
E com a verde-e-rosa a gente vai juntinho invadir o Nordeste! O grande campeonato da Estação Primeira de Mangueira brindou a garra e a alegria nordestina no Sambódromo, com o enredo “Brazil com Z é pra cabra da peste, com S é nação do Nordeste”, desenvolvido por Max Lopes, o mago das cores. Ao longo da Marquês, histórias das invasões, da miscigenação, a lida dura de uma vida difícil, personagens do rico folclore e, claro, a alegria, as festas e a libertação de um povo que é protagonista de sua própria história. O baião de Gonzagão e o xaxado se misturaram ao surdo de primeira e brindaram a escola com o primeiríssimo!
Um bom exemplo de enredo que não cantou a região diretamente, mas não deixou de exaltá-la por meio de sua cultura foi “Cordel branco e encarnado”. O tema foi um ideia original do departamento cultural da Academia, desenvolvido em parceria com os carnavalescos Márcia e Renato Lage. O desfile passeou pela história do Cordel e toda sua ligação com a região do nordeste, seus hábitos, lendas e magias, conquistando o vice-campeonato.
Já a União do Parque Curicica levou à Sapucaí o enredo “Corações Mamulengos”, desenvolvido por Marcus Ferreira. Os mamulengos, na verdade, são típicos fantoches do nordeste brasileiro, com grande destaque no estado de Pernambuco. O teatro dos bonecos é ditado pelo improviso, que apresenta, por meio dos mamulengueiros, situações muito próximas as do cotidiano dos regionais; a Caravana Curicica abriu o desfile e convidou o grande público a mergulhar com alegria e emoção na história. Infelizmente, a escola não conseguiu levar uma das alegorias à Sapucaí por problemas mecânicos, o que acarretou no amargo 11º lugar.
São Paulo é a cidade do Brasil que mais recebe nordestinos que saem de suas casas para tentar uma vida melhor no maior centro econômico do país. Pensando na sua comunidade, a Dragões da Real se inspirou no Velho Lua, Luiz Gonzaga, e na clássica música Asa Branca para contar a história de quem sonha em alçar voos mais altos. Da decisão de deixar sua terra e seus amores, passando pela viagem no pau de arara e chegando à grande cidade, a escola emocionou o Anhembi em um dos desfiles mais bonitos do carnaval paulista, com um samba que preenchia o coração de quem por catarse se auto-reconhecia naqueles versos. Assim, a tricolor garantiu um vice-campeonato no carnaval de 2017.
Ouça a playlist especial: