Por Redação Carnavalize
Primeira agremiação a desfilar na Marquês de Sapucaí em 2023, o Arranco do Engenho de Dentro retornou à segunda divisão do carnaval carioca após mais de uma década longe do Sambódromo. Celebrando os seus 50 anos, a escola decidiu abrir a Série Ouro com uma homenagem a Zé Espinguela, responsável pela criação do primeiro concurso de sambas. Líder religioso, Espinguela mantinha um terreiro na mesma rua onde hoje está a quadra da escola. Revisitar elementos atrelados à própria história é a aposta da azul e branco do Engenho de Dentro, através do enredo intitulado “Zé Espinguela – Chão do Meu Terreiro”, desenvolvido pelo carnavalesco Antônio Gonzaga.
Na abertura do cortejo, a comissão de frente, comandada pelo coreógrafo Fábio Batista, apresentou a relação do multifacetado homenageado com as ruas e morros, com o sagrado e o seu legado. Espinguela foi representado enquanto personagem central, envolvido em três distintos atos. O corpo de baile trouxe uma dança simples e bem feita. Vale destacar as belas estampas presentes em algumas indumentárias. Contudo, na altura do primeiro módulo, uma das bailarinas se apresentou com a saia estampada se desprendendo. Foi observado ainda um elemento alegórico de palha, decorado com fotos de bambas do samba. Dentro da estrutura, uma bandeira da Mangueira lembrou a relação de Espinguela com a verde e rosa.
Na sequência, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Yuri Souza e Gislaine Lira, representou “O Destino no Ifá” em trajes em tons terrosos. A indumentária se destacou pela beleza e pelo bom gosto. A coreografia apostou no tradicional, sem grandes ousadias. O casal ostentou segurança e entrosamento, com a ressalva de alguns desencontros pontuais. Infelizmente, foi registrada uma intercorrência no terceiro módulo, quando o pavilhão acabou enrolando. Outro ponto negativo foram os fogos soltos pela Comissão de Frente, que ofuscaram um pouco o casal.
Detalhes da bela indumentária da porta-bandeira do Arranco (Foto: Thomas Reis) |
A escola surpreendeu plasticamente. O conjunto alegórico passou acabado, apostando no uso de estampas criadas exclusivamente para o desfile. O trabalho cromático se destacou na tapete das fantasias, que apostaram em técnicas artesanais, como o uso de fitinhas de cetim e pintura de arte. O enredo, no geral, foi bem desenvolvido, contando a história do homenageado e a sua relação com o samba.
Com relação aos quesitos musicais, o elogiado samba-enredo passou bem na voz da dupla de intérpretes Diego Nicolau e Pamela Falcão. A bateria dos mestres Cabide e Marley também teve uma apresentação bastante satisfatória.
Ritmista da bateria do Arranco, que veio nas cores verde e rosa (Foto: Thomas Reis) |
A evolução foi marcada por alguns percalços, como abertura de buracos e problemas de alinhamento do abre-alas. Com relação à harmonia, a escola deixou a desejar no canto, fazendo um desfile mais morno.
Considerando o cortejo de altos e baixos, o Arranco briga para se manter no grupo, mas com chances reais de permanência, dependendo de como passarem as coirmãs.