7×1 Carnavalize: Os lugares mais inusitados que já viraram enredo

por Léo Antan e Beatriz Freire




Logo no início do pré-carnaval, a Estácio de Sá anunciou um enredo curioso sobre Cingapura, um país asiático que também tem o leão como o símbolo. A promessa de patrocínio não foi firmada, então, a escola resolveu voltar atrás com a escolha. Com a crise, os enredos patrocinados deram um leve desaparecimento do cenário carnavalesco nos últimos tempos. O boom dos enredos CEPS foi na virada dos anos 90 para os 2000, desde então as escolas de samba passaram a cantar as belezas dos quatro cantos do Brasil, e do mundo. Das cidades mais famosas e as principais capitais, chegando até aos mais pequenos vilarejos e mais distantes países, alguns casos curiosos já foram contados em verso e prosa. 
Todo lugar dar um bom carnaval? Velho debate. Dos lugares mais inusitados e menos prováveis de serem enredos, alguns têm um bom desenvolvimento, mostrando lugares importantes e poucos conhecidos. A receita varia pouco no desenvolvimento dos enredos, mas uma das missão das escolas é realmente mostrar esses fatos inusitados e trazer novidade para o grande público, não é? Gerando bons desfiles ou não, listamos os enredos CEP mais inusitados dos últimos anos. Apertem os cintos que a viagem vai começar

7) Paracambi – Cubango 2007

Em 2007, a Acadêmicos do Cubango desfilou um enredo em homenagem à simpática Paracambi, cidade do centro-sul fluminense. A responsabilidade do desenvolvimento do carnaval ficou por conta de uma comissão de carnaval, que tinha Annik Salmon e Alexandre Louzada como integrantes. O enredo seguiu todas as premissas de um roteiro CEP tradicional, com a presença indígena, a chegada portuguesa e dos escravos, e posteriormente a dos imigrantes, terminando com um presente industrial com a presença da primeira indústria têxtil do lugar. O samba, por sua vez, foi embalado por Tiãozinho Cruz, de uma linda letra e melodia das mãos de Arthur Bernardes, Sardinha, Junior Duarte, Carlinhos da Penha e Edson Carvalho. Após a quarta de cinzas, a escola de Niterói terminou com o sétimo lugar do Grupo de Acesso A, uma posição acima do resultado do ano anterior, que muito desagradou a escola e principalmente o presidente Pelé. 


6) Coreia do Sul – Vila Maria e Inocentes 2013

Meu oriente é você! Na rota internacional, indo além das grandes potências culturais, a Coreia do Sul já virou tema de desfiles duplamente em 2013, quando se comemorou os 50 anos da imigração do país no Brasil. No Rio de Janeiro, a Inocentes de Belford Roxo fazia sua estreia no grupo especial depois de uma ascensão muito contestada. A tricolor anunciou a nação como tema na promessa do patrocínio, sendo desenvolvido pelo carnavalesco Wagner Gonçalves. No enredo chamado de “As Sete Confluências do Rio Han”, a Coreia do Sul se fez carnaval através de seu mais importante rio. O desfile não foi nenhum destrate, mas oscilou entre bons e maus momentos. 
Em São Paulo, onde a presença asiática bem é mais forte, as belezas e a cultura do país asiático foram cantadas pela Unidos de Vila Maria, com desfile assinado pelo experiente Chico Spinoza. “Made in Korea” fez uma viagem através do elementos da natureza atrelados a história do lugar. Tanto no samba como no desfile, a agremiação paulistana deixou bastante a desejar. Vale lembrar, aliás, que a promessa de patrocínio não veio para as duas escolas e ambas acabaram rebaixadas, deixando uma relação nada simpática da nação com a folia. 


5) Paulínia – Vai Vai 2014

No ano seguinte, Chico Spinoza rumaria a outro destino pouco usual, de volta à Vai Vai depois do seu último carnaval em 2009, a escola do Bixiga levou ao Anhembi uma homenagem ao município paulista com o enredo “Nas chamas do Vai-Vai, 50 anos de Paulínia”. Chiquinho surpreendeu ao conseguir desenvolver bem a história da cidade, o que parecia a sua tarefa mais difícil, e o desfile teve fortes pontos, como seu abre-alas de mais de 70 metros representada por uma estrada de ferro e um carro com mais de 10 metros de altura. A abordagem passou pelo cinema, pelo petróleo, poluição, bocha e indústria,  e surpreendentemente da cultura grega. (?) No microfone, Márcio Alexandre manteve o bom andamento do samba composto por Vagner, Mineiro, Loirinho, Marcinho Z. Sul e Edinho Gomes e a bateria da Escola do Povo cumpriu bem seu papel. Logo após o desfile, muitos acreditavam em bons resultados pra alvinegra , mas a terça da apuração trouxe apenas um nono lugar, uma das colocações mais baixas da agremiação em dez anos. 

4) Maricá – Grande Rio 2014

Em 2014, a Grande Rio levou para a Sapucaí a vida dessa grande cantora. Perdão, não podíamos deixar passar. Cidade do litoral fluminense entre a capital e a Região dos Lagos, Maricá surpreendeu ao virar enredo de escola do grupo especial, não menos que a badalada Grande Rio. Foi a estreia do carnavalesco Fábio Ricardo na agremiação de Caxias, assumindo a estadia após a saída do carnavalesco Cahê Rodrigues. Fábio contou com a ajuda de Leandro Vieira para desenvolver as alegorias e fantasias, que contaram a história da cidade atrelada a vida da cantora Maysa, que tinha uma casa de veraneio no município. Com o generoso patrocínio, a escola fez um belo trabalho nos quesitos plásticos, entretanto a história pouco rica da cidade ficou evidente no desenvolvimento do enredo que, apesar do fio-condutor, não fugiu das citações de um CEP mais tradicional. 


3) Avenida Brasil – Mocidade 1994

Enredo CEP não é só país e cidade, uma rua pode dar enredo. E deu. No auge da era Renato Lage na Mocidade, um dos principais logradouros do Rio de Janeiro se transformou em tema em 1994. Cortando o Rio da região Central à Zona Oeste, a avenida batizado pelo nome do nosso país é uma das maiores e mais importantes artérias da nossa cidade, passando por uma grande área e sendo atravessada por milhões de pessoas diariamente. Para o desfile, Renato Lage inovou na estética, apostando num visual bem urbano, abusando dos pneus, cones e faixas de trânsitos. O que poderia ser um desastre, como já havia sido no Império Serrano em 1991, deu muito certo com o estilo High-Tech que ele construía em Padre Miguel. A inovação não foi bem vista pelos jurados e com alguns problemas de pista, a agremiação acabou em oitavo lugar. 

2) Mangaratiba – São Clemente 2003

Mais um destino inesperado foi o cenário da Sapucaí em 2003: por Lane Santana, Mangaratiba foi o palco da São Clemente. A cidade do litoral fluminense foi a homenageada da vez, e começou o seu desfile com uma comissão de frente que representava os índios antropofágicos do Brasil colonial. No abre-alas, vinha Tupã com seu trovão todo iluminado em neon; mais atrás, um carro que reluzia na Avenida representava as pedras preciosas e num outro o tráfico negreiro teatralizado. O samba embalado por Anderson Paz gabaritou o quesito, assim como todos os outros segmentos, fazendo da São Clemente a campeã do Grupo de Acesso A. O resultado, no entanto, foi muito contestado pelas demais escolas e considerado sem emoção suficiente para alcançar a primeira classificação.

1) Suíça – Unidos da Tijuca 2015

Suiçaaaaaaaaa em sua história a inspiração. Rainha dos enredos CEP nos últimos anos, a Unidos da Tijuca apostou no país do chocolate, do paraíso fiscal e destino preferido dos políticos brasileiros, a Suíça, contada a partir do olhar do saudoso carnavalesco Clóvis Bornay, filho de pai suíço. A escola que fez seu primeiro desfile sem Paulo Barros depois de seus três campeonatos em 5 carnavais, contou com uma comissão de carnaval para contar a história do país na Sapucaí. Com chocolates, flocos de neve, dragões, castelos e relógios, a escola tijucana manteve-se compacta como sempre, uma verdadeira máquina de desfiles com muito destaque para sua evolução e harmonia, além de ótimas fantasias e boas alegorias. Como esperado, o enredo rendeu um samba fraco, conduzido pelo ótimo intérprete Tinga, mas que cumpriu, como de costume, seu papel de empolgar a arquibancada apesar da qualidade. O desfile quebrou o gelo e não apresentou grandes problemas, gerando um excelente quarto lugar para a escola na apuração, ficando, porém, à frente da Mocidade, escola à época comandada pelo ex-carnavalesco da Tijuca, Paulo Barros, que amargou um sétimo lugar.
Do Oiapoque ao chui, do oriente ao ocidente, é sempre bom lembrar que é ótimo embarcar para os mais distantes lugares com as nossas escolas. E não cabem restrições, com um bom desenvolvimento e criatividade, muitas coisas podem dar sambar. Da Suíça à Paracambi, seguindo pela Avenida Brasil, podemos chegar com o samba à Mangaratiba. E até á Lua! 

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5 respostas

  1. Tal como o México, a Coréia do Sul deu um azar danado…

    O samba de Paulínia (é ela, a estrela do meu carnaval) é legal, vai. Amo o de Paracambi. E como esquecer do clássico Maricá essa grande cantora imortalizado pelo Fabinho.

    Esse samba da Avenida Brasil acho chatíssimo a pampa, o então estreante Wander Pires no entanto cantaria coisa melhor como "Padre Miguel, olhai por nós" por exemplo.

    Pra ser bem sincero, o desfile de Mangaratiba foi bem meia boca. Embora role aquela história das 35 mil doletas… (ao menos, aquela apuração nos proporcionou o melhor vídeo da história do carnaval)

  2. Como esquecer da Tradição (sem beijo no coração) falando da REGIÃO DOS LAGOS em 2002?

    O México chegando em Niterói em 2010 foi temerário também. Uma cabeça assustadora de Viradouro brindou aquele péssimo desfile.

    OBS: Maricá 2014 se tornou um surpreendente ótimo desfile na Sapucaí.

  3. Ah, e deixo um espaço pra Imperatriz. Mais um grande momento de genialidade da Rosa.

    A Imperatriz recebeu um patrocínio forte de Cabo Frio em 2004. O bairro esperava ser a fonte de inspiração para o enredo. 'Maravirosamente', ela costurou o enredo e levou o fantástico Breazail pra avenida, abordando historicamente o pau Brasil.

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