por Beatriz Freire, Guilherme Peixoto e Vitor Melo
É impossível falar do brasileiro, da terra do samba e pandeiro, sem falar da grande paixão nacional: o futebol. Uma bola que move muito mais do que 22 jogadores, agita nações e milhões de apaixonados. E, nada mais apropriado, num domingo recheado de clássicos regionais e decisões de campeonatos estaduais, do que falar daquilo que rola nas quatro linhas. Numa lista que envolve alguns dos maiores times do nosso país, um inesquecível jogador e até mesmo a origem do esporte mais popular do Brasil, trazemos dez vezes que a bola rolou no compasso do samba. Desfiles e sambas que fazem valer a máxima do folclórico Dadá Maravilha: “não existe gol feio, feio é não fazer gol!”. E eles fizeram, de cabeça, de canela e de batuque. Confira nossa lista, caia no samba e esquente para as decisões de logo mais.
Beija-Flor 1986
No ano da Copa do Mundo do México, a Beija-Flor de Joãosinho Trinta botou a bola para rolar na Avenida. Misturando o costumeiro luxo à popularidade futebolística, a escola nilopolitana teve a ideia de comparar o mundo a uma enorme bola de futebol. Embalada por um samba de fácil letra, composto por Betinho e Jorge Canuto, a agremiação impressionou não somente por sua grandiosidade, mas também pela garra dos desfilantes, que cruzaram a passarela sob uma chuva torrencial. A abordagem do tema também despertou curiosidade: Joãosinho, autor do enredo, contou com a ajuda de Viriato Ferreira para relacionar em 30 alas a paixão brasileira que surgiu na Inglaterra do século XX a práticas milenares, passando pela Idade Média, Ásia e Roma. Apesar das dificuldades enfrentadas, a azul-e-branca garantiu um honroso segundo lugar e marcou um golaço ao entrar pra história com um grandioso desfile.
Estácio de Sá 1995
Se formos falar de massa, é inevitável citar o “mais querido”. A maior torcida do Brasil, com 40 milhões de apaixonados, carrega o sinérgico rubro-negro do Clube de Regatas do Flamengo. No entanto, em 1995, o manto sagrado vermelho e preto, que completava 100 anos à época, deu espaço a mais uma cor: o branco da Estácio de Sá. Com o enorme apelo popular do tema, a escola do morro de São Carlos levou nada mais, nada menos do que aproximadamente 5 mil componentes, comprometendo a evolução do desfile.
O empolgante e popular samba, que até os dias de hoje é cantado a plenos pulmões por apaixonados flamenguistas, cumpriu seu papel e animou bastante a apresentação do “Leão”. Com um conjunto alegórico e de fantasias um tanto quanto irregular, vale ressaltar o abre-alas preto, vermelho e dourado e a segunda alegoria, que abordava a origem do clube de regatas. Outro ponto alto do cortejo foi a comissão de frente formada por jogadores que carregavam uma grande bandeira nas cores do clube carioca dentro de uma coreografia que levantava o público. No apito do juiz, a escola terminou sua empolgante passagem pela Sapucaí deixando um gostinho de que podia mais. Com tantos problemas a apresentação acabou amargando o sétimo lugar na tabela.
Unidos da Tijuca 1998
No ano em que o Vasco da Gama comemorou seu centenário, a Unidos da Tijuca, escola com fortes ligações portuguesas, homenageou a história do clube que herdou o nome do navegador lusitano. Passando pela história do aventureiro português até os títulos que o time conquistara, o carnavalesco Oswaldo Jardim destacou também os 500 anos das expedições às Índias e a luta do clube de São Januário contra o racismo, bem como suas raízes operárias e sua trajetória. Ao longo da Avenida, personalidades e ídolos do clube marcaram presença, como Edmundo, no auge de sua carreira pelo Vasco, além do técnico Antônio Lopes e de Roberto Dinamite, que mais tarde se tornaria presidente do time da Colina. Com um samba que até hoje é entoado em jogos pela torcida vascaína, a Tijuca fez um desfile simpático e com certo nível de empolgação, ainda mais pelo teor popular conferido ao enredo. O calor da torcida, no entanto, não foi suficiente e resultou num 13º lugar para a agremiação tijucana, que acabou rebaixada ao Grupo A.
Tradição 2003
Multicampeão e acostumado a fazer centenas de gols nos campos da vida e no carnaval, não foi diferente. Ronaldo Luís Nazário de Lima, o “Fenômeno”, emplacou logo dois desfiles na história da folia momesca. O primeiro, na Sapucaí, em 2003, logo após ter sido um dos protagonistas na conquista do pentacampeonato mundial da seleção brasileira. Com o enredo “O Brasil é Penta, R é 9 – O Fenômeno iluminado”, a escola abordaria, além das conquistas do craque ao longo de sua trajetória, os cincos campeonatos mundiais da seleção. No entanto, o que se viu foi um desfile precário tanto visualmente, com direito a alas de “shortões de futebol”, quanto no que competia ao samba. A composição criticada veementemente era impraticável de ponta a ponta, deixando a situação da agremiação mais difícil do que já parecia. Parecendo prever tamanha “tragédia”, Ronaldo não deu as caras. O “Fenômeno” voltaria a ser enredo onze anos depois, pelos Gaviões da Fiel.
Gaviões da Fiel 2010
Em mais uma homenagem ao centenário de um clube, a Gaviões da Fiel, escola que nasceu da torcida corintiana, pisou no Anhembi com o enredo “Corinthians… minha vida, minha história, meu amor!”, assinado pelo carnavalesco Zilkson Reis. O desfile contou, em seis setores, toda a trajetória do clube, incluindo seus títulos, passando também pela Democracia Corintiana. Dentre os importante nomes homenageados, estavam Sócrates, Biro-Biro e Ronaldo, principal jogador do time à época. Como de costume, o samba interpretado por Ernesto Teixeira foi muito aclamado pelas arquibancadas, que vieram abaixo com a passagem da Gaviões.
Imperatriz Leopoldinense 2014
Galinho de Quintino, Rainha de Ramos. Em 2014, um dos mais importantes jogadores da história do futebol brasileiro, Zico, foi homenageado na Marquês de Sapucaí. Arthur Antunes Coimbra escreveu a história de sua vida em páginas rubro-negras e, durante pouco mais de 80 minutos, em verdes, brancas e douradas. O samba daquele ano, que tinha Elymar Santos como um dos compositores, continha belas referências ao “Galinho” e teve um bom rendimento na pista. Visivelmente rouco, o intérprete Wander Pires acabou salvo pela excelente atuação do veterano Preto Jóia, que integrava o time de cantores de apoio.
Em termos plásticos, o carnavalesco Cahê Rodrigues, que contou com o auxílio do até então desconhecido Leandro Vieira, foi muito feliz e obteve êxito na concepção das fantasias e alegorias misturando o estilo nobre da Rainha de Ramos com uma estética mais futebolística. A imponência dos carros atrapalhou um pouco a evolução, tanto que os componentes tiveram de apertar o passo para não estourar o tempo limite. Com o quinto lugar conquistado, a Imperatriz pôde reverenciar Zico também no Sábado das Campeãs.
Mancha Verde 2015
Em sua volta ao Grupo Especial do carnaval de São Paulo, a Mancha Verde, escola oriunda de uma torcida organizada do Palmeiras, homenageou o centenário do time com o enredo “Quando Surge o Alviverde Imponente… 100 Anos de Lutas e de Glórias”. A Mancha contou a história do alviverde com destaque para as raízes italianas do time, a mudança do nome de “Palestra Itália” para “Palmeiras” durante a Segunda Guerra Mundial, além de passear pelas conquistas dos títulos brasileiros, continentais, além do controverso Mundial de 1951. Entre os homenageados, estavam Evair, Ademir da Guia e Oberdan Cattani. O “santo-goleiro” Marcos, porém, não pôde comparecer ao desfile em virtude de uma infecção. Apesar dos lugares vazios, o Anhembi acabou contagiado pelo animado samba da escola, que teve seu clipe gravado no recém inaugurado Allianz Parque. Os jurados, no entanto, não ficaram satisfeitos e acabaram atribuindo a penúltima posição à agremiação, resultado que derrubou a Mancha para o Grupo de Acesso.
Acrésimos: Flu na Rocinha e “Grenal” no Porto Seco
O Fluminense foi outro grande clube carioca a ser homenageado na Marquês de Sapucaí. Em 2003, o Acadêmicos da Rocinha contou a história do tricolor e amargou a décima colocação do Grupo de Acesso. A apresentação da Borboleta Encantada foi uma das últimas do histórico intérprete Carlinhos de Pilares, responsável por puxar o samba da escola naquele ano. Em Porto Alegre, Internacional e Grêmio também foram temas de desfiles. A Imperadores do Samba foi campeã do Grupo Especial de POA em 2009 cantando o centenário do Inter. Em 2013, o Império da Zona Norte homenageou os ex-dirigentes colorados Fernando Carvalho e Vitório Píffero. Com um animado samba cantado por Sandro Ferraz, o Império terminou a apuração na quarta colocação. No mesmo ano, a Unidos de Vila Isabel abordou a história dos estádios do Grêmio, que naquele ano mudou de casa, deixando o histórico Olímpico e migrando para a moderna Arena do Grêmio. Intitulado “O sentimento não termina”, o enredo deu o nono lugar para a agremiação de Viamão.
3 respostas
Ótimo post, carnaval e futebol são inegavelmente as paixões principais dos brasileiros. Pra começar, "O Mundo é uma bola" dispensa quaisquer comentários. Desfile épico no meio de um temporal interminável.
Lá vai o chato do Carlos fazer uma correção: em 95, a Estácio ficou em sétimo, não em quinto.
Tal qual aquele pênalti claro, em 98 a Tijuca foi derrubada pro Acesso pelos motivos de um tal homem do charuto não dar pitaco nos desfiles. E o desfile da Tradição em 2003, bem… foi aquilo lá.
Muita gente apelida o samba da Rocinha de 2003 como "O hino do Fluminense em versão paraguaia"
Faltou Gaviões 1998, que é muito superior ao desfile de 2010.
Desfilaço da Unidos da Tijuca em 98 que, pra mim, merecia um sétimo lugar. Desfile da Mancha Verde faltou um pouco mais de luxo e o principal: que Paulo Serdan calasse a boca, uma queda bastante injusta, mas previsível. E Gaviões 98, um dos poucos trabalhos brilhantes do Roberto Szaniecki, tanto que a escola seria vice campeã se não perdesse tantos pontos por falta de baianas, acabou em quinto. Mas, o desfile da Mancha pra um palmeirense, foi histórico.