Estandarte de Ouro: as curiosidades e os grandes recordistas do Oscar do Samba

por Leonardo Antan com a colaboração de Vitor Melo

Além da classificação final do júri oficial organizado pela LIESA, outra premiação gera expectativa e é almejada pelos sambistas de carterinha. Promovido pelos jornais O Globo e Extra, o troféu celebra todo os anos as principais funções da folia desde 1972, quando foi criado por Heitor Quartin e Roberto Paulino. Dese então se firmou no imaginário carnavalesco como o “Oscar do Samba”. 
O então jovem carnavalesco Fernando Pinto recebeu o Estandarte pelo desfile do Império em 1972 no Chacrinha.
A primeira edição do prêmio já começou em alto nível, com os vencedores sendo premiados ao vivo no programa do Chacrinha, sucesso absoluto na época. No júri, sempre fazem parte grandes personalidades do samba e altamente gabaritadas no assunto. Nomes como Fernando Pamplona, Sérgio Cabral, José Carlos Rego, Albino Pinheiro, Maria Augusta, Roberto Moura e Moacyr Luz passaram pelo corpo de jurados. Atualmente estão presentes Aloy Jupiara (coordenador do júri), Argeu Affonso (presidente do júri), Bruno Chateaubriand, Felipe Ferreira, Haroldo Costa, Leonardo Bruno, Luís Filipe de Lima, Marcelo de Mello, Maria Augusta, Mestre Odilon e Rachel Valença. Além de Dorina e Alberto Mussa que ingressaram este ano.
Foto júri atual da premiação.
Ao longo dos últimos anos, a premiação se fixou como de fato uma via alternativa aos resultados do julgamento oficial. O júri busca olhar outros aspectos, que fogem das regras estabelecidas, como a emoção, a garra. Não são premiadas as mais tecnicamente perfeitas ou impecáveis, mas as grandes apresentações em todos os sentidos, que fogem ao técnico. Por isso, ganhar a premiação de “Melhor Escola” não é sinônimo de disputar o título de campeã na quarta-feira de cinzas. 
Grupo responsável pela premiação em 1976 com Haroldo Costa e Sérgio Cabral, entre outros. 
Basta analisar os dados da premiação, ao longo das suas 45 edições apenas 16 vezes a mesma escola faturou os dois troféus. Antes do último ano, com o consagrado desfile da Menina de Oyá na Mangueira, a última vez que isso tinha acontecido foi em 2010 com o histórico “É Segredo!”, da Tijuca. Sem contar às vezes que a vencedora do Estandarte de escola não faturou nem sequer uma boa colocação. Para citar alguns exemplos temos mais recentemente, a Imperatriz que ficou em sexto lugar em 2015, a Mangueira em 2013 com um modesto oitavo lugar, a Ilha que estava fora do julgamento em 2011. Na década passada, chamaram a atenção também a premiação do Salgueiro em 2003 e Império em 2004, quando ambas chegaram apenas na sétima e nona posição respectivamente. 

Vencedoras das vencedoras – As recordistas do prêmio



Ainda na categoria Melhor Escola, a principal, temos um empate técnico entre duas grandes tradições do carnaval. Ambas com sete estatuetas cada uma, a Mangueira e o Salgueiro lideram os recordes nessa categoria. A Academia era a campeã absoluta até o carnaval de 2016 e ostentava os títulos pelos desfiles de 1974 (Rei de França), 1993 (Ita), 1994 (Rio de lá pra cá), 2000 (Meu reinado é Brasileiro), 2003 (50 anos), 2009 (Tambor) e 2014 (Gaia). A Mangueira, entretanto, após a estreia apoteótica de Leandro Viera no grupo Especial em 2016, empatou. Além dele, as apresentações de 1975 (Jorge de Lima), 1984 (Braguinha), 1990 (Sinhá Olympia), 1998 (Chico Buarque), 2002 (Brazil com Z) e 2013 (Cuiabá) receberam a honraria. Em 2017, com buraco ou sem buraco, a Estação Primeira foi a melhor escola das duas noites pro júri do Estandarte e se isolou como maior campeã dessa categoria. Logo atrás das duas, a Beija-Flor acumula cinco vitórias. A maior curiosidade a cerca desta categoria fica por conta da Tijuca, a escola do Borel foi a que mais cresceu na última década. Ela tem quatro vitórias ao todo todas conquistadas após 2005, é o mesmo número de escolas tradicionalíssimas como a multi-campeã Portela e o Império Serrano. 
A grande campeã em títulos na história do carnaval é também a de melhores sambas pelo Estandarte de Ouro.
Já em Melhor Samba-Enredo, o recorde absoluto fica entre Oswaldo Cruz e Madureira. A Portela é líder isolada da categoria com nada menos que nove obras louvadas pelo júri. Entre elas, clássicos do gênero como 81 (As maravilhas do mar), 95 (Gosto que me enrosco), 91 (Tributo à vaidade) e mais recentemente o tão antológico quanto “Madureira sobe o Pelô”, de 2012. Além deles, os sambas de 1975, 1979, 1987, 1998 e 2016 já receberam a honraria. Enquanto a Portela assume a ponta, a briga pelo segundo lugar da categoria é das mais disputadas, nada menos que três escolas estão empatadas com o mesmo número de estatuetas: 6. São elas a Vila Isabel, a Imperatriz e o Império. No bairro de Noel foram obras para lá de clássicas como 1980 (Sonho de um sonho), 1984 (Para tudo acabar na quarta-feira), 1988 (Kizomba), 1993 (Gbala), 1994 (Pode me chamar de Vila) e 2013 (Festa no Arraiá). Já em Ramos, que possuí uma das melhores discografias do carnaval, o recorde é mais recente. Se consideramos apenas os últimos dez anos, ela é a vencedora absoluta com destaque em 2008 (Marias e João), 2010 (Mar de fiéis), 2011 (Medicina) e 2015 (Mandela Mandela). Antes deles, os clássico “Liberdade Liberdade” de 89 havia sido premiado e a obra sobre a imperatriz Leopoldina em 96. Por fim, mesmo fora da elite há muitos carnavais, o Império Serrano segue aclamado com vitórias em 1982 (Bumbum), 1983 (Mãe baiana), 1986 (Eu quero), 2001 (Rio corre pro mar), 2004, 2006 (Império do Divino). O de 2004 vale dizer foi uma homenagem especial dada a reedição de Aquarela Brasileira, visto que em 1964 quando o clássico de Silas de Oliveira foi originalmente apresentada o Estandarte ainda não existia. A vencedora do último ano, 2017, foi a azul e branco de Nilópolis. A Soberana ostenta 4 premiações nessa categoria sendo uma só antes dos anos 2000: 1999 (Araxá), 2005 (Sete missões de amor), 2007 (Áfricas) e 2017 com a virgem dos lábios de mel, Iracema. 
A Academia dá aula quando o assunto é bons enredos. (Divulgação: Ouro de Tolo)

Em Melhor Enredo, há outra marca invejável, o Salgueiro, responsável por um revolução temática comandada por Fernando Pamplona, é de longe a escola mais ligada à temas que encantaram o corpo de jurados. Em nove vezes, o enredo da Academia foi louvado. Entre eles 1973 (Eneida), 1974 (Rei de França, do genial J30), a dupla 1990 e 1991 ambos de Rosa Magalhães, 1993 (Ita). Na Era Lage, a honraria veio em 2006 (Microcosmos), 2009 (Tambor), 2013 (Fama) e mais recentemente 2016 (Malandros), vale lembrar que os enredos de Renato Lage têm sido desenvolvidos pelo departamento cultural da escola, que assina as sinopses e defesas do tema. Logo na cola da vermelho e branco da Tijuca, mesmo sem repetir o feito há 16 anos, uma revolucionário com alma de vanguardista honra esta sua fama com oito títulos de Enredo. A Mocidade faturou em 1975 (Uirapuru), 1978 (Brasiliana), 1979 (Descobrimento), 1983 (Xingu), 1987 (Tupinicópolis), 1995 (Padre Miguel), 1996 (Criador) e 1999 (Villa-Lobos) com desfiles geniais assinados pelos grande Arlindo Rodrigues, Fernando Pinto e Renato Lage. Renato, inclusive, é o recordista se considerarmos o profissional e não a escola. Como já dito, foram 4 estatuetas em sua passagem pelo Salgueiro e três na Estrela de Padre Miguel, totalizando 7 estandartes. Na dobradinha da Rosa, a campeã de 2017 foi a São Clemente com o tema “Onisuáquimalipanse”, que também havia vencido em 2015, com uma homenagem da professora a seu professor, Fernando Pamplona. Em outra ocasião, a preto e amarelo da Zona Sul faturou mais um prêmio, 1985 com o enredo “Quem casa quer casa”.

“Salve o mestre do Salgueiro” – Louro é recordista em Bateria.
Permanecendo no morro do Salgueiro, a próxima categoria também é liderada por ela. Trata-se de Melhor Bateria. A grande orquestra da Academia tem nada menos que nove títulos, em 1973, 1975, 1984, 1993, 1998, 2000, 2003, 2008, 2014. Às honras vão todos para o grande Mestre Louro, que liderou por anos a bateria furiosa e garantiu os prêmios para a agremiação. Na cola da vermelho e branco, o enorme Império Serrano iguala a marca no quesito. Conquistados em 1982, 1983, 1987, 1994, 1997, 2002, 2004, 2007, 2009. Na segunda posição outro empate, as tradicionais Mocidade e Portela tem ambas cinco títulos cada uma, honrado o apito dos mestres antológicos como André e Marçal. Das principais escolas da festa, chama a atenção a falta de premiação da Beija-Flor nesse quesito, o primeiro troféu de Nilópolis na categoria foi conquistado apenas em 2016. Para saber mais de grandes mestres de bateria confira aqui nossa lista sobre o tema. A Baterilha, sob o comando do mestre Ciça, foi a premiada de 2017. 
Fábio de Mello: o maior quando o assunto é Comissão de Frente.
Em Melhor Comissão de Frente não há surpresas, o revolucionário grupo liderado por Fábio de Mello na Imperatriz fizeram da Certinha da Leopoldina a grande recordista com nada menos que seis troféus garantidos em 1993, 1995, 1997, 2000, 2006 e 2015 (assinado no retorno dele). Mais dois prêmios em 1983 e 1986 totalizam a marca de 8 estatuetas Em segundo lugar, fica mais uma vez o Salgueiro com seis vitórias em 1990, 1996, 2003, 2005, 2013 e 2016. Como em bateria, a premiada do ano de 2017 foi a União da Ilha, coreografada por Carlinhos de Jesus, que optou por uma forte apresentação de chão sem elementos cenográficos.
As premiadas baianas de 2000 assinadas por Rosa Magalhães.
A Imperatriz acumula ainda outros recordes em duas categorias, a primeira em Ala das baianas com oito grupos, a maioria deles assinada pela gigante Rosa Magalhães em 1993, 1994, 1995, 1997, 1998, 2000 e 2003. Além de um último em 2011. Na categoria de Melhor Ala, Ramos também segue nas primeiras posições graças a criatividade e genialidade de Rosa com prêmios em 1972, 1992, 1998, 2000, 2004, 2007 e 2009, totalizando sete ao todo e o segundo lugar da categoria. A ponta fica mesmo com a Beija-Flor, escolhida pelo júri nada menos que 10 vezes como destaque. Muitas delas graças ao gênio Joãosinho Trinta como em 1977, 1978, 1985 e 1987. Depois, o feito foi repetido em 1994, 1997, 1999, 2002, 2003 e 2006. Além das duas, a União da Ilha com seu estilo leve e colorido segue na terceira posição, com cinco vitórias. Em 2017, a escrita não se confirmou. Na premiação das mães do samba, a ala de melhor baiana ficou lá em Caxias com a Grande Rio. Já a melhor ala de todas repousou em chão de Mangueira e ficou lá na Estação Primeira.
O eterno intérprete acumula recordes em sua carreira histórica. 
Indo para as categorias que envolve diretamente profissionais em si, como intérprete e os casais de mestre-sala e porta-bandeira, temos o eterno Jamelão campeã cinco vezes na categoria que premia a grande voz da folia. Somando ainda o de Destaque Masculino em 1974, fazem dele um dos maiores vencedores da história do prêmio. É o mesmo número de estatuetas que tem a grande Selminha Sorriso, de longe, a campeã no quesito Porta-Bandeira, e Claudinho, o mestre-sala líder absoluto com a mesma marca da parceira. Um casal que juntos tem nada menos que 12 prêmios, que fazem deles um dos maiores casais de bailarinos da nossa folia. 
Selminha e Claudinho somam 12 prêmios, seis cada um.
Na contagem por escola, a líder nas categorias referentes aos defensores do pavilhão é a Mangueira com 11 prêmios em Porta-Bandeira, louvando o trabalho de nomes históricos como Neide, Mocinha, Giovanna, Marcella Alves e Squel. (Para saber mais da história de algumas dessas porta-bandeiras confira nossa matéria clicando aqui). Do lado dos mestres-sala, a Beija-Flor segue na ponta com dez premiações, a maioria dela graças ao já citado Claudinho, sendo seguida pela Vila Isabel que tem oito estatuetas, a maioria dela pelo excelente bailado de Julinho, também destaque pelo número de premiações sendo quatro delas seguidas entre 2009 e 2012.
O enorme pantheon de baluartes da Velha Manga faz dela campeã em Personalidade.
Outros números que chamam a atenção na contagem é a impressionante marca de 10 prêmios ganhos pela Mangueira na categoria Personalidade. Onde foram premiadas grandes baluartes da Estação Primeira como Nelson Sargento, Leci Brandão, Beth Carvalho, Xangô da Mangueira e Elmo dos Santos. Outra marca é a liderança do Império Serrano nas categorias do grupo de acesso, já são cinco prêmios de melhores samba no segundo grupo da folia, um a menos do que o Reizinho tem no especial. Na categoria Melhor Escola, o recorde é maior no acesso, sendo quatro no segundo grupo e apenas três na elite da folia.  
Para finalizar, fizemos uma contagem geral contando todos os prêmios ganhos por todas as escolas nas demais categorias também. Criando um ranking geral das maiores vencedores, a Estação Primeira assume a ponta absoluta como maior recordista. Ficando assim: 
1) Mangueira – 88 estandartes de ouro
2) Salgueiro – 79 
3) Império Serrano – 66 
4) Beija-Flor – 61
5)Portela – 58

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