5x Mangueira: A grande vocação verde-e-rosa

por Léo Antan e Vitor Melo

Todo mundo a conhece ao longe pelo som do seus tamborins e o rufar do seu tambor. Tão grandiosa que não cabe explicação. Falar da Estação Primeira de Mangueira é abusar do superlativo, carregar nos adjetivos grandiosos e, talvez, mesmo assim não dar conta na descrição do tamanho e da força de uma maiores potências do nosso samba. Ao longo destes 85 anos de desfiles, a verde-e-rosa alcançou algumas marcas impressionantes. É dela o título do primeiro concurso entre escolas de samba organizado pelo jornal Mundo Esportivo em 1932. Também é dela o feito de ter sido campeã em todas as décadas. Nos seus dezoito títulos conquistados, todos com garra, energia e muito samba no pé, se destaca uma grande vocação da escola de Cartola: as homenagens. As maiores foram sobre nomes da músicas, mas autores da nossa literatura também caíram no samba mangueirense. Nós separamos nada menos que cinco campeonatos de enredos biográficos sobre nomes da nossa cultura. Vem, no vira da Mangueira, vem sambar…


1967 – O mundo encantado de Monteiro Lobato


“Na escritura emocionante/Com seus contos triunfais/Com seus personagens fascinantes/Nas histórias tão vibrantes/Da literatura infantil/Enriquecem o cenário do brasil” 

Para quem acha que as homenagens da velha Manga começaram apenas nos anos de 1980, basta voltar duas décadas atrás. Considerado por alguns o primeiro samba-enredo a fazer sucesso nacional, a obra louvando o nosso maior escritor infantil contribuiu para a popularização do samba fora dos limites da avenida. A obra foi regravada por grandes nomes da nossa música, como Beth Carvalho. A plástica foi assinada pelo grande Júlio Mattos, responsáveis por mais de cinco títulos na verde e rosa. Nós já contamos a trajetória desse artista, confira aqui.

1984 – Yes, nós temos Braguinha

“Canta!/A mulata é a tal/Salve a lourinha/Dos olhos claros de cristal”


O ano de estreia da passarela definitiva do carnaval sintetizaria a história da folia até ali. No campeonato dividido em dois dias, as duas maiores escolas da festa ganhariam os dias de disputa com dois sambas antológicos. A Portela, domingo, e a Mangueira, segunda. A verde-e-rosa renderia uma bela homenagem ao grande compositor Braguinha. Assinado por Max Lopes, o desfile contou a trajetória do músico em três setores: Bela Época, Festa Junina e Carnaval. A alegria e a garra dos componentes fizeram história, num momento inesquecível, quando chegou a Praça da Apoteose, a escola deu meia volta e retornou na Sapucaí no sentindo inverso, com a invasão de pessoas da arquibancada na pista. No sábado das campeãs, o furacão se repetiu e a Manga seria coroada a única Supercampeã da maior festa da cultura popular. 

1986 – Caymmi, Mostra ao Mundo o que a Bahia e a Mangueira Têm

“Tem xim-xim e acarajé/Tamborim e samba no pé”

Depois de uma apresentação problemática em 1985 em homenagem a outro nome da música, Chiquinha Gonzaga, a aposta foi  no retorno do carnavalesco Júlio Mattos. A linha musical permaneceu e a homenagem ao grande Dorival Caymmi embalou mais um dos desfiles inesquecíveis da agremiação do mestre Jamelão. O samba defendido pelo maior dos nossos intérpretes se fixou no imaginário carnavalesco pelo seu alto astral. O enredo desenvolvido pelo maior dos carnavalescos verde-e-rosa contou com a simplicidade e singeleza que lhe são característicos e exaltou. além do homenageado, as belezas e tradições da lendária Bahia. Não teve para ninguém.

1998 – Chico Buarque da Mangueira

“Ô iaiá… Vem pra avenida/Ver “meu guri” desfilar/Ô iaiá… é a Mangueira/Fazendo o povo sambar”

Sem esquecer Carlos Drummond em 1987, pulamos para a década seguinte buscando abranger uma trajetória maior das homenagens. É bem verdade que nos anos de 1990, viriam outros enredos musicais, mas nem tão bem sucedidos assim, como a louvação a Tom Jobim (92), Doces Bárbaros (94) e o Século do Samba (99). Nessa lista destoou apenas o tributo a Chico Buarque, que entrou na história da agremiação faturando mais um título da escola. Tudo começou quando o homenageado entoou os versos de seu “Vai Passar”, ainda no esquenta, levando ao público à loucura. A escolha do samba que foi bastante criticado na época, por ser assinado por compositores paulistas, rendeu de maneira impressionante. O desfile assinado por Alexandre Louzada teve alguns problemas plásticos, mas a garra falou mais alto. O resultado foi um inusitado empate com a Beija-Flor, polêmico até hoje. 

2016 – A menina dos olhos de Oyá

“Vou no toque do tambor… ô ô ô/Deixo o samba me levar… Saravá!/É no dengo da baiana, meu sinhô/Que a Mangueira vai passar”

Foto: Michele Iassanori
O saldo para a velha Manga não era favorável, a escola amargava posições ruins fazia alguns anos, sem voltar nas campeãs há quatro carnavais. No ano anterior, havia enfrentado um desfile com forte chuva e terminou na décima posição. Além disso, a escolha pelo carnavalesco foi ousada, tratava-se de um jovem inexperiente, que tinha assinado apenas um desfile no grupo de acesso. O jovem artista, entretanto, soube fazer jus a grande vocação da escola. Com a escolha por uma belíssima homenagem a grande Maria Bethânia que completava 50 anos de carreira. Com um samba que não era destaque da safra, mas levou a Sapucaí a baixo e um trabalho plástico original e requintado, a Mangueira arrastou a Sapucaí como há anos não fazia e surpreendeu a todos com um belíssimo e merecido campeonato. Ratificando a sinergia verde e rosa e mostrando toda a força da primeira estação do samba, assim como em 1984, tanto no dia oficial do desfile como no sábado das campeãs, o “povão”, que estavam nas frisas e nos camarotes à beira da pista, seguiram a Estação Primeira. Rezando a lenda e reafirmando o poder que o samba tem… Atrás da verde e rosa, realmente, só não vai quem já morreu!

Foto: Vitor Melo
Valiam muitas outras grandes homenagens que a Mangueira fez nessa lista, mas resolvemos optar por cobrir a maior abrangência de décadas e não nos restringir a nomes da música, mesmo que seja essa a maior quantidade de homenagens. Seja na literatura, na música, na Bahia, ou no Nordeste, outros temas que costumam dar sorte a verde e rosa; Ela sempre arrebenta, até mesmo quando parece estar adormecida – não é mesmo, menina dos olhos de Oya? Não é à toa que é a mais dionisíaca das escolas, muito menos chamada de “maior escola de samba do planeta” pelo eterno Luizito.


Salve o samba…
 Salve a Estação Primeira! 



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