5x Beija-Flor: A sina milenar nilopolitana

por Leonardo Antan

No último dia 25 foi aniversária dela, a deusa da Passarela. A maior escola dos últimos quarenta anos, nas últimas quatro décadas todos os seus 15 títulos. A Beija-flor não é uma escola de meio termos, ou você ama ou odeia. Escolha seu lado. Bata no peito e mostre seu valor, ou pegue a fila para fazer suas reclamações. De todos os títulos, muitos enredos se destacam. A força africana deu a escola nilopolitana grandes momentos. Sem dizer os enredos CEP, como levantamos na última lista, foram aproximadamente sete desde 1998. Mas em todas as narrativas da escola, seja uma cidade, hábitos culturais ou até “um astro da comunicação” uma característica chama a atenção: a ancestralidade. Contar uma história na Beija-Flor é viajar através do tempo, buscar a origem inicial de tudo. 
Então o enredo é banho? Ótimo. Vamos descobrir o primeiro banho da humanidade. Cavalo? OK. Qual a origem milenar do animal? 
É a sina milenar da Deusa da Passarela. Por isso, nós separamos os cincos desfiles que a Beija-Flor foi ainda mais Beija-Flor e abusou do Egito, Fenícios, Gregos sabe-se lá mais o que em seus desfiles. Apertem os cintos, a viagem vai começar!

1986 – O Mundo é uma Bola

É milenar a invenção do futebol...”


Se podemos achar um culpado por essa sina ancestral, ele só pode ser um: Joãosinho Trinta. Esse revolucionário da folia transformou a escola nessa potência que ela é hoje. Lá em 1976, fez a inexpressiva agremiação de Nilópolis ganhar seu primeiro carnaval. No ano seguinte, ele já deu o tom ao contar a história do carnaval, começou nas antigas civilizações. Em 1986, a missão era contar a história do futebol em ano de Copa do Mundo. Apesar do futebol moderno só ter nascido (oficialmente) na Inglaterra no século XIX, o genial J30 afirmou “é milenar a invenção do futebol”. E fez um grande passeio pelos antecedentes do esporte mais amado pelos brasileiros. Passando pelo Ásia, Roma e a Idade Média. Com um desfile inesquecível, marcado pela forte chuva que molhou até os joelhos dos componentes, a escola fez aquela apresentação com a raça que só ela tem. Afinal, a Beija-Flor é raça. E o mundo é uma bola.

2006 – Poços de Caldas derrama sobre a Terra suas águas milagrosas. Do caos inicial à explosão da vida… Água – A nave-mãe da existência

“Do caos inicial a explosão da vida…”

Duvido que você tenta lido o nome do enredo até o final! Além da sina milenar, a Beija-Flor gosta de de um nome pomposo. E gigantesco. Vinte anos depois de cantar as origens milenares do futebol, a Beija-Flor fez outra longa viagem e, dessa vez, foi longe mesmo, até as origens do nosso planeta. O enredo que pretendia fazer uma homenagem a cidade mineira de Poços de Caldas, viajou milênios até o caos inicial a explosão da vida para louvar a água, nave-mãe da existência. Nesse rocambole teve Atlântida, rei Netuno, mensagem ecológica, muita pena de pavão e o luxo que lhe é peculiar. A confusão não deu muito certo e após o tricampeonato, a Deusa da Passarela amargou apenas a quinta colação.

2009 – No chuveiro da alegria, quem banha o corpo lava a alma na folia

“Lá no Egito começou o hábito de se banhar…”


Depois de mais um bicampeonato, a rainha de Nilópolis voltou aos nossos primórdios, agora atrás das origens do hábito de se banhar. O início não podia ser outro: o mítico Egito, com direito a abre-alas ostentação. Apesar do tom sempre sisudo, a Comissão de Frente foi um dos destaques por sua apresentação irreverente, que misturava uma pirâmide egípcia com uma deliciosa “farofa” num praia brasileira. O enredo seguiu seu tempo épico e viajou ao Oriente, à idade da trevas, às tribos indígenas, à França e terminou numa festa em louvação aos orixás ligados à água, naquela macumba deliciosa. Nada mais Beija-Flor. Orixás, Egito e muita riqueza.

2013 – Amigo fiel – Do Cavalo do Amanhecer ao Mangalarga marchador

“Venho de longe de uma era milenar”


O enredo era improvável: o cavalo Mangalarga machador. O desenvolvimento não poderia seguir outra linha. Dessa vez não foi Egito, mas também nem tão longe até a explosão inicial, ficamos ali pela pré-história mesmo, com os primeiros animais que se assemelhavam ao cavalos de hoje. Daí pro Mangalarga, a história seguiu, cumprindo umas escalas essenciais como Grécia, Idade Média, pra então desembarcar em terras brasileiras. O samba dizia “Se a memória não me falha chegou a hora de gritar é campeã”, com a ousadia e marra que só Nilópolis pode ter. Mas a morna apresentação, só garantiu o vice-campeonato.

2014 – O astro iluminado da comunicação brasileira

“E viajar no tempo, no som um sentimento…”


Logo depois de procurar a origem ancestral do Cavalo, o pacote de milhagem não acabou. Um simples enredo em homenagem ao Boni, figura fundamental para a televisão brasileira, que poderia ter gerado um divertido passeio pelas grandes produções globais, foi além. Mas muito além. Lá numa era milenar. O enredo virou a história da comunicação, algo grande demais para apenas oito setores  A viagem foi extensa e começou lá nos Assírios, Fenícios, passou como sempre pela Grécia, Egito, até nos últimos setores finalmente desembarcar na televisão brasileira. O samba dispensa apresentações e a colocação também, a pior da escola desde 1992.

Milenar, ancestral, valente, guerreira, nilopolitana. Seria a busca pela origem milenar uma tentativa pela afirmação da Beija-Flor? Como se a soberana precisasse disso. A azul e branco é uma das maiores escolas da nossa folia, um exemplo de competência e samba. A marca do carnaval é ela.

Bye bye. Evoé!

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