por Leonardo Antan
Contar a história de uma agremiação é sempre tarefa difícil, algumas tem décadas e mais décadas de vida, como dar conta de tantos desfiles marcantes? A missão não é fácil, mas nós do Carnavalize não fugimos da raia, por isso na nossa coluna “5x” vamos nos propor a contar as histórias das principais agremiações da folia brasileira através de cinco desfiles marcantes. Veja bem, não estão em pautas aqui sambas, beleza, luxo e/ou esplendor, mas sim a importância daquela apresentação dentro da trajetória daquela agremiação.
Para começar escolhemos homenagear uma escola simpática, marcada por sua alegria. Mas muito mais que uma “prima pobre” do carnaval, a União da Ilha marcou seu espaço ao se opor as lógicas dos desfiles espetacularizados e luxosos, no seu já emblemático “bom, bonito e barato”. É verdade que a tricolor teve muitos altos e baixos durante sua história e não estamos aqui para escondê-los. Então pegue sua fantasia e vem descendo a serra cheio de alegria para saber mais da “escola do meu coração e de vocês também”, segura marimba!
1977 – Domingo
“Vem amor, vem a janela ver o sol nascer…”
O ano era 1977, Joãosinho Trinta tinha acabado dar o primeiro título da Beija-Flor, provocando uma verdadeira revolução ao levar temas complexos e históricos para a avenida, com um visual luxoso que transbordava riqueza. Porém, uma outra discípula de Pamplona chegou na então inexpressiva União da Ilha virando tudo de cabeça para baixo. O enredo não poderia ser mais simples “domingo”, um tom crônico, absolutamente banal, sobre o que a população fazia nesse dia da semana. O visual era leve, colorido, simples e o samba de uma beleza lírica poucas vezes vista… Foi um terceiro lugar com sabor de vitória, eternizado na memória carnavalesca. Era o luxo do brilho contra o luxo da cor.
1980 – Bom, bonito e barato
“Colori com toda minha simpatia, um visual de alegria…”
Uma temática cotidiana, abstrata, um tom informal, um samba belíssimo e fácil, fantasias leves para deixar o folião brincar a vontade, um letreiro abrindo alas. Esses eram os ingredientes dos desfiles assinados por Maria Augusta na agremiação insulana. O casamento durou apenas dois anos mas é um dos mais marcantes da história do Carnaval. Depois de “Domingo” e “O Amanhã”, a artista se despediu da tricolor mais deixou seu discípulo Adalberto Sampaio, que seguiu a mesma cartilha. A forma única marcou tanto que apenas três anos depois foi tema da escola, num enredo autobiográfico ousado, para uma agremiação ainda nova, que louvava seu próprio estilo. O resultado foi um segundo lugar, é bem verdade que foram três campeãs e três vices empatados naquele ano, mas não há o que discutir é a melhor classificação da história da Ilha.
1989 – Festa profana
“O rei mandou cair dentro da folia e lá vou eu…”
Depois de uma década de 1970 gloriosa, os anos 80 foram de altos e baixos na história da agremiação. Equilibrando apresentações divertidas e ao estilo da escola, como em 1986 com o enredo “Assombrações”, do mestre Arlindo Rodrigues, com outras outras que não merecem entrar em nenhuma antologia. Mas o que importa é que o último carnaval desta década foi marcante em todos os sentidos na história da tricolor. Um sambão num enredaço que contava a história da folia desde os tempos mais remotos. O único senão foi a falta de sorte de disputar a atenção com a eterna disputa entre os ratos da Beija-Flor e a liberdade da Imperatriz… Mas não fazendo feio, ela garantiu logo o terceiro lugar… Senão fossem tais apresentações, quem sabe a Ilha até beliscaria o título.
2010 – Dom Quixote de La Mancha, o cavaleiro dos sonhos impossíveis
“A Ilha vem cantar, mais um sonho possível sonhar…”
Depois do maravilhoso desfile de 89, a Ilha voltou a hibernar e passar longe da disputa pelo título. Mesmo com sambas que se fixaram no imaginário como o eterno “Hoje eu vou tomar um porre”, na década de 1990 a escola apresentou resultados irregulares. Logo no início dos anos 2000, amargou um rebaixamento depois de quase trinta anos de especial. O período no segundo grupo durou de 2002 a 2009, quando subiu de maneira um tanto questionável no desfile sobre viagens. Mas para garantir a vaga de vez entre a elite da folia a aposta foi em ninguém menos na Deusa Rosa Magalhães, que saia da Imperatriz após um casamento de dezoito anos. O enredo sobre a obra clássica da literatura espanhola teve a marca da professora, barroquérrimo e com uma intensa pesquisa, em contraposto, ao samba que era animado, marcando uma apresentação super simpática que garantiu a permanência da escola. Uma tequila pra comemorar!
2014 – É Brinquedo, é brincadeira. A Ilha vai levantar poeira!
“Hoje a Ilha vem brincar, amor, vem comigo cirandar…”
O casamento com a professora durou apenas um ano, mas logo surgiu um novo amor para a “segunda escola do coração” de todos. Alex de Souza soube juntar seu estilo mais moderno e requintado a leveza e alegria da tricolor insulana. Num casamento tão marcante para a escola quanto a passagem de Augusta por lá, o artista soube trazer de voltar a marca da escola, mas sem perder sua assinatura. O ápice desse encontro foi o inesquecível desfile de 2014, uma grande apoteose a infância no melhor jeito Ilha de ser. Um desfile tão contagiante que conquistou um surpreendente quarto lugar, marcando a melhor posição da agremiação desde 1994.
Uma escola marcada por grandes sambas, por isso, com certeza faltaram muitos carnavais nessa lista, mas optamos por aqueles que acreditamos representar mais substancialmente a história da agremiação, para procurar assim entender a importância da tricolor e sua grande contribuição para a história da folia. Mesmo sem um título, a União da Ilha é uma das maiores escolas cariocas. Dona de uma identidade inconfundível que merece ser eternizada. Que lindo, que lindo.