Coluna do Vitô | Uma viagem sem fim que quase terminou…
Não é de hoje que eu digo que a dispersão é meu lugar cativo na Marquês de Sapucaí e será nela d’onde tirarei a inspiração e, de fato, as memórias que escreverei. É na dispersão que todo o trabalho, ano, desfile é levado ao êxito – no caso de um baita desfile. Mas também às lágrimas, quando alguma coisa não sai como o esperado. Essas, aliás, serão muito citadas por aqui hoje. Já vou parando com a enrolação, hoje vou falar sobre a escola que mexe com o âmago de qualquer um, costumo dizer que não existe um “carioca” (as aspas pois considero todos cariocas por amarem tanto quanto nós o maior espetáculo de nossa cidade, do país e DO MUNDO) que o coração bata mais forte quando escute um dos, e olha que não são poucos, hinos da azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira. Não há. Garanto-lhes.
Já ficou claro que falarei da tradição, da maior campeã de todos os tempos, da nossa Águia altaneira. “Tá bom, Vitor, já pode parar com a enrolação”. Ok, perdoem-me, mas é que “se eu for falar da Portela não vou terminar”. Eu tenho azul e branco no coração e, cada vez mais, sinto que é a segunda escola dele. Sim, já enrolei muito, vamos ao que interessa! Já ficou claro pelo título que vamos falar de 2016, né? Não!? Vish… Assim que foi anunciada a contratação do genial Paulo Barros para comandar o carnaval portelense nesse ano, eclodiram dúvidas de como seria esse casamento. Até eu fiquei meio receoso – admito. O transgressor, inovador, badalado carnavalesco estava indo para nada mais nada menos que a Majestade do Samba, onde o ar exala tradição, onde não se tolerava um pingo fora dos “îs”.
Não estou aqui para falar do pré-carnaval. Vamos aos desfile, em si, conquanto não esteja pra falar principalmente dele também. Sobre o casamento de Paulo Barros e Majestade do Samba, deixo para quem tem mais autoridade que eu quando se trata de Portela. Soou a sirene da Sapucaí e iniciara o desfile da azul e branco, de cara veio aquela polêmica, mas grandiosa comissão de frente, aquele elemento que mais parecia um abre-alas de causar inveja em certas escolas… O desfile da Portela, em si, dispensa comentários, foi um show. Por mais que em algumas alegorias houvesse reciclagens de ideias, foi um show. Até as criticadas baianas, davam um interessante visual ao evoluírem. O navio que balançava. O “Gulliver”, que mesmo não tão bonito visualmente, impressionava. Os dinossauros comendo as menininhas, a briga pelo Eldorado. Até a Águia bem peculiar, ao meu gosto, não tira a magia desse desfile fantástico para mim. Que senão venceu, deveria estar em segundo lugar na apuração. Isso, todavia, não vem ao caso, já passou.
O desfile passara pelo módulo 3, onde eu estava, e fui correndo pra dispersão, não poderia perder a saída do meu desfile, até então, predileto do carnaval 2016. Chegando lá, ainda falta bastante escola pra passar, uns 20 minutos se me lembro. Aquele ótimo samba era cantado tão alto por aquelas arquibancadas mais recuadas que até um desses críticos ao carnaval, apaixonar-se-ião. Era lindo, foi lindo. Aliás, é lindo. Pois não esquecerei nunca o que foi a dispersão naquele dia. Os dirigentes choravam, mas choravam de molhar a pista mais até do que aquele infame Posseidon – perdoe-me a piada. Eles se olhavam, abraçavam-se e a única coisa que se ouvia era “Chegou nossa vez”. Não haveria algum maluco que ousasse a discordar. Era emocionante até pra mim que não sou “diretamente portelense”. Eu que estava com minha camisa de linho e meu chapéu Panamá – pelo enredo salgueirense – aproveitei para me infiltrar, os diretores estavam com roupas que lembravam, até certo ponto, a minha. Agradecia e parabenizava a todos que passavam por mim. “Belo desfile, meu irmão”. “Chegou nossa vez!”. E acho que nunca senti emoção parecida com a que pulsava em meu peito igual aqueles minutos – me arrepio, só de lembrar cada abraço caloroso e intenso que recebia de diversos integrantes… De baianas a ritmista. Dos diretores às passistas! Foi fantástico e único.
As arquibancadas àquela altura já estavam enlouquecidas e começavam a gritar “É campeã… É campeã!” ao aproximar do batuque inconfundível que só a Tabajara do Samba possui. Cantando em plenos pulmões o sambaço da azul e branco ia moldando um filme que nunca esquecerei. E eu? Eu já nem voz mais tinha, mas ainda estava por lá, não sairia de um dos momentos mais mágicos que presenciei no carnaval assim tão facilmente. Aos poucos, o mar azul e branco se dispersava, e eu que voltava pro setor 8 onde estava, pensava “É… Finalmente acabará o jejum de Oswaldo Cruz e Madureira”, não há quem discordasse àquela altura, mas aí veio a Menina dos olhos de Oyá e todos já sabemos o que aconteceu… Enquanto vinte e uma estrelas brilharem em meu olhar, eu, em toda minha vida, estou fadado a lhe amar! Salve a Portela, salve a Águia altaneira de Oswaldo Cruz e Madureira!
Espero que gostem desse relato de um dos momentos mais mágicos que vivi, tomara que tenha conseguido sintetizar o mix de sentimentos e lembranças que me passaram pela cabeça. O vídeo abaixo foi gravado por mim no momento que a Tabajara chegava à dispersão. O som está meio estourado (até hoje não sei o porquê), mas ainda dá pra ouvir as arquibancadas saudando a Majestade com os gritos de “É campeã!”.
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2 respostas
Belíssimo texto, sobrinho!
Parabéns!
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