Nas raízes desta cidade estão a magia e o amor, sobre eles construíram-se as casas e a vida do povo. Num dia qualquer entre os anos de 1510 e 1511 (os historiadores não sabem ao certo) um português naufragou em frente à costa da Bahia. Bom nadador, escapou da morte no mar e ainda conseguiu, salvar o mosquetão e, assim armado, alcançou a terra. Chamava-se Diogo Álvares e os naturais do lugar, Índios Tupinambás que eram antropófagos saudaram com entusiasmo sua chegada.
Vendo-se o luso em grande aperto, lançou mão da arma providencialmente salva e fez fogo contra um pássaro no azul do céu, abatendoo com tiro certeiro. O clarão deslumbrou os índios, o pássaro morto lhes ensinou o medo.
Caramuru! Caramuru! gritaram, saudando o filho do trovão, o pai do fogo e da morte, o ser estranho e colérico vindo das ondas. Trouxeram-lhe frutas, prestaramlhe homenagens, conferiram-lhe honrarias. Para velar seu sono, para aquecer seu dormir, deram-lhe a índia Paraguaçu, filha do cacique.
Caramurú ao ver tão bela índia por ela se apaixonou. Conta que Moema, a irmã de Paraguaçu, também nutria um imenso amor por Caramurú, e quando este embarcou com sua mulher para uma viajem à Europa, Moema se jogou ao mar e nadou léguas atrás do navio, atrás do seu amor. Mas, deixemos Jorge Amado concluir:
“Veio a lua e cobriu as águas de ouro e prata. Na distância se apagava a luz
do barco, perdida no céu de estrelas. Moema a nadar, Moema a se afogar.
Quando a luz derradeira da nau desapareceu na noite e na lonjura, quando
toda a esperança se finou, então lhe faltaram as derradeiras forças e
Moema se entregou à morte, sem Diogo não queria viver. Mergulhou nas
ondas com seu acompanhamento de peixes e luar, seu véu de noiva. Desde
então e para sempre o amor ilumina o mar e a terra da Bahia”.
Não se pode contar a história da cidade de Salvador como se conta a história de outra cidade. Porque ela é diferente… porque suas lendas, seus mitos e mistérios facilmente se misturam com a realidade dos fatos.
O fato real é que Diogo Alvares, um dos mais importantes personagens de nossa história, levou sua esposa, para ser apresentada à corte francesa. Paraguaçu causou furor na corte, se converteu ao Cristianismo, foi batizada com o nome de Catarina do Brasil, e com Diogo oficialmente se casou.
É considerada a mãe biológica de boa parte da nação brasileira, um dos maiores símbolos femininos da história do país, por ter exercido um papel fundamental na integração das raças que formaram o povo brasileiro. A visão que os marinheiros portugueses tiveram desta baía era a de um verdadeiro paraíso e neste paraíso eles vieram construir uma cidade inesquecível!
Segundo setor: A formação de um povo
Foi na Cidade do Salvador que se deu início a árvore genealógica da família brasileira. O índio que aqui já vivia, se misturou com o branco oriundo da Europa (portugueses, galegos, italianos, holandeses, ingleses e franceses) e com o negro que veio trazido como escravo da África. O tráfico de escravos, o comércio infame, foi uma tragédia sem medida.
O negro levou nos ombros o fardo da escravidão, mas levantou a cabeça e apesar dos grilhões e dos pelourinhos, não se esqueceu de sua origem e de sua grandeza. Soube rir e lutar contra sua condição, e não abriu mão de preservar sua cultura, o canto, a dança, seus deuses, mistérios e rituais.
Sua resistência foi fundamental para a formação das peculiaridades e do caráter deste povo. Assim foram se misturando sangues e culturas nesse caldeirão de raças, para que surgisse daí o “baiano”, um ser gentil e cordial, valente, de boa prosa e melhor riso, malicioso e sensual, de gula e de dengo, com imaginação pra dar e vender, e, com uma alegria infinda.
Salvador se tornou uma cidade de “fortes”, não apenas por causa das fortalezas construídas para defendela, mas principalmente pela força, coragem e heroísmo de sua gente que por inúmeras vezes, bravamente defendeu o solo brasileiro e sua soberania, dando seu sangue em revoltas, na busca de justiça, independência e liberdade. A mais importante data cívica de Salvador e da Bahia faz referência ao dia 2 de julho (1823), data em que aconteceu a verdadeira independência da Bahia e do Brasil, conquistada com a vontade, o suor e o sangue do exército baiano auxiliado por gente do povo (índios, negros e os sertanejos) que, cerca de dez meses após o Grito de Independência ou Morte, dado por D. Pedro I, tiveram que pegar suas armas e lutar para realmente expulsar os portugueses de Salvador e do Brasil.
Neste capítulo de nossa história despontam o heroísmo de três corajosas mulheres: Maria Quitéria, que fingiu ser homem para engrossar as fileiras do exército brasileiro, se tornando a primeira mulher brasileira a entrar num campo de batalha, Madre Joana Angélica, que foi assassinada na porta de seu convento, impedindo que os portugueses lá se refugiassem, Maria Felipa, uma negra, trabalhadora braçal, pescadora e marisqueira, que liderou outras mulheres negras, índios tupinambás e tapuias em batalhas contra os portugueses que atacavam a Ilha de Itaparica, queimando 40 embarcações portuguesas que estavam próximas à Ilha.
A grande festa de 2 de julho se inicia com o cortejo que traz as imagens do Caboclo e da Cabocla. O Caboclo é a síntese do povo baiano (miscigenado), símbolo de sua eterna luta pela liberdade. A Cabocla foi inserida posteriormente no cortejo inspirada na figura terna da índia Paraguaçu, simbolizando a conciliação entre portugueses e brasileiros através do parentesco e a valorização desta mistura na formação do povo.
É ele que rege e que vai à frente do desfile, aclamado. É nos pés dele que o povo deposita seus pedidos, e preces. É pra ele que os terreiros de candomblé de Angola (nação banto), e de origem cabocla batem seus tambores nas noites do 2 de Julho, em toda a Bahia. Como diz o Hino ao 2 de julho:
“Nunca mais o despotismo
Regerá nossas ações
Com tiranos não combinam
Brasileiros corações”
Terceiro setor: Um povo de fé
Certamente forças espirituais conduziram a nau de Américo Vespúcio fazendoo chegar naquele lugar no dia de Todos os Santos, inspirandoo assim a batizar o lugar como Baía de Todos os Santos. Em Salvador, como em nenhum outro lugar do Brasil, cultuamse todos os Santos, nesta terra o povo resistiu às imposições e vontades dos colonizadores e dos governantes ao longo dos tempos, e conquistou o direito de manifestar sua fé, cumprir seus ritos com respeito e liberdade, e, com liberdade, o povo dança suas danças, canta suas canções e faz suas festas.
As festas religiosas, manifestações populares de fé, são a cara de Salvador. Um calendário extenso, de festas e celebrações sempre acompanhadas da deliciosa culinária baiana, atraem milhares de fiéis e turistas. Além de sua própria festa, Nossa Senhora da Conceição também participa da Festa de Bom Jesus dos Navegantes. Sua imagem sai da igreja para se juntar à imagem do seu filho. Juntos numa Galeota eles navegam numa espécie de procissão marítima da Igreja da Conceição até a Igreja da Boa Viagem. A origem da devoção pertence aos marinheiros que pediam proteção para enfrentar os desafios do mar.
Em 27 de setembro, dia consagrado a São Cosme e Damião, os devotos do Candomblé oferecem animadas festas, servindo o caruru. Cosme e Damião para os católicos são adultos, médicos.
No candomblé são crianças, são ibejis, santo que não é incorporado, mas eles tem intimidade com os orixás, e, não há orixá que não ouça o canto de um menino. É uma manifestação bela que consegue nos lembrar de forma mágica e lúdica o quanto a infância é sagrada, pura, alegre e forte o bastante para nos fazer esquecer, pelo menos por alguns momentos, das agruras do diaadia. Passado o Carnaval, o som que embala os dias do povo em Salvador é o forró. Tudo pra já entrar no clima das festas Juninas em louvor a São João e Santo António. É comum a organização de novenas regadas à boa comida baiana, nos lares do povo, onde se preparam originais altares em homenagem ao santo.
Dia 02 de fevereiro é o dia de levar os presentes para Iemanjá, a Rainha do Mar. Os presentes são colocados em grandes balaios que são levados para o alto mar de onde são lançados para ela, juntamente com os pedidos dos fiéis que nas areias do Rio Vermelho, cantam e dançam com muito samba de roda, capoeira, além de giras de Orixás e Caboclos. A caverna de ouro, como é chamada a Igreja de São Francisco na Praça do Pelourinho, é motivo de orgulho e devoção na cidade. Seu requinte e esplendor em ouro é a mais completa tradução do barroco baiano, que buscava conjugar devoção e riqueza.
Deste caldeirão de fé surgiu o sincretismo religioso, especialmente do catolicismo com o candomblé, por isso vemos com frequência o povo entrando pelas portas das igrejas e saindo pelas portas dos terreiros de candomblé. Nenhuma festa religiosa demonstra melhor este sincretismo afrobaiano, como a Festa do Senhor do Bonfim. Nela se festeja ao mesmo tempo aquele que é na devoção do povo, o maior santo católico, Senhor do Bonfim, e o maior dos Orixás, Oxalá, o pai de todos.
Juntos, as baianas, católicos, mães e filhos de santo e grupos de afoxé, participam de uma enorme procissão que parte da Conceição até a Colina Sagrada, onde fica a Igreja do Bonfim. Lá chegando as baianas lavam as escadarias, num ato de renovação da fé de um povo, numa festa sagrada e profana, que é a cara da Bahia. A Mansão da Misericórdia, como é carinhosamente chamada a Igreja do Bonfim, reafirma sua essência e missão secular, de a todos acolher sem distinção.
A força espiritual da cidade do Salvador fica ainda mais evidente quando destacamos a trajetória de três ícones religiosos, exemplos de perseverança e fé: Mãe Menininha do Gantois, o rosto da bondade e a voz da experiência! A mais famosa Iyalorixá da Bahia, tornouse conhecida e respeitada por todos por sua luta pela legalização do culto aos Orixás, (o candomblé), e sua consequente integração na sociedade nacional. Como diz a canção:
“Olorum quem mandou essa filha de Oxum, tomar conta da gente e de tudo cuidar
Olorum quem mandou ô ô, ora iê iê ô”
(Música Oração à Mãe Menininha/Dorival Caymi)
Irmã Dulce, o anjo bom da Bahia, que dedicou sua vida ao atendimento de pobres e necessitados. Sobre seus frágeis ombros ela deixou recair a responsabilidade por milhares de vidas. Tijolo por tijolo ergueu um império de amor e solidariedade. Atendeu a todos, porque como ela mesma dizia: “Esta é a última porta, por isso eu não posso fechala”.
A luta foi seu milagre, um milagre que até hoje acontece. Divaldo Franco, o embaixador da paz, um verdadeiro apóstolo do espiritismo, que com suas palavras e livros leva conforto e esperança ao povo, e, com seu projeto educacional transforma a vida de milhares de crianças excluídas das periferias de Salvador. Estes três seres são como simbólicos faróis (tão marcantes na paisagem de Salvador, sinalizando com sua luz o caminho do bem).
Quarto setor: As marcas de um povo
A figura da baiana é muito mais que um traje típico, é um símbolo desta terra, reconhecido em qualquer lugar do mundo. Foram estas mulheres que resgatando algumas de suas tradições africanas criaram uma culinária genuinamente baiana (outra marca do lugar) onde brilham o dendê, o leite de coco, a pimenta, o coentro e os frutos do mar.
A capoeira veio de Angola nos navios negreiros. É uma luta única no mundo, luta na qual a agilidade comanda e os pés e cabeça são decisivos. Perseguida e condenada, a capoeira, para sobreviver teve que acobertar-se nas sombras da música dos berimbaus, ser ao mesmo tempo luta e balé. E que balé! Que graça, que força, que elegância nos movimentos dos lutadores! Foi assim que ao som dos berimbaus de capoeira, os negros puderam preservar sua luta, e, ao transformá-la, fizeram-na baiana e brasileira!
“Um velho calção de banho, o dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho e um arcoíris no ar
Depois na praça Caymmi, sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime beber uma água de coco
É bom, passar uma tarde em Itapuã, ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã, falar de amor em Itapuã”
(Música Tarde em Itapuã/ Vinícius de Moraes e Toquinho)
As praias de Salvador foram eternizadas em canções e poemas. Suas belezas foram também retratadas nas telas, e, em cores vibrantes pudemos ver o mar, as areias claras deste litoral, as jangadas, os coqueiros e os pescadores com suas redes, todas marcas desta cidade solar. Em Salvador, o conceito de cultura ultrapassa o limite de qualquer definição e compreende um universo inesgotável de riquezas, que podemos considerar como os tesouros deste povo.
Na literatura, na música, na fotografia, e no cinema os filhos legítimos da cidade e os adotivos também, declararam o seu amor a esta terra, e, deste saboroso caldeirão das artes eis que surge a Tropicália, movimento cultural revolucionário que chegou cantando:
“Viva a banda, da, da
Carmem Miranda, da, da, da, da
Viva a banda, da, da
Carmem Miranda, da, da, da, da”
(Música Tropicália/Caetano Veloso)
Hoje não só a música baiana mas toda a música brasileira é marcada pelos ritmos do povo dessa cidade: os ritmos do candomblé, do samba de roda, da capoeira. Das músicas dos afoxés e das rodas de berimbau se alimentaram os moços da bossa nova. Dessa água vem todos beber!
A arquitetura também é uma marca da cidade que foi criada, construída e mantida por seu povo. Das pedras negras no chão do Pelourinho que no passado foram encharcadas com o sangue dos escravos, hoje brota cultura em um dos mais belos conjuntos arquitetônicos brasileiros, considerado um patrimônio da humanidade. O Pelourinho é um deslumbramento! Todos os cantos do Pelô parecem estar ali para nos fazer voltar no tempo e para não nos deixar esquecer de nossa nobre matriz negra que teve suas heranças preservadas pela resistência de um povo. Ah, não há como negar… Esta cidade deixa marcas na gente…
“Deixa ver, com meus olhos de amante saudoso a Bahia do meu coração
Deixa ver, baixa do Sapateiro Charriou, Barroquinha, Calçada, Tabuão!
Sou um amigo que volta feliz pra teus braços abertos, Bahia!
Sou poeta e não quero ficar assim longe da tua magia”
(Música Bahia com H/ Denis Brean)
Quinto setor: A alegria do povo – O Carnaval da Bahia
Este povo, que não tem medo de inovar e de tudo misturar, tão rico de alegria de viver, de gentileza e de graça, ainda faz uma das maiores festas populares de rua do mundo: o Carnaval Baiano. Foi no carnaval de 1950, um tempo onde o povo apenas assistia o desfile dos corsos e das sociedades, um desfile carnavalesco nos moldes europeus, com pessoas fantasiadas com fantasias clássicas (pierrô, colombinas e arlequins), que pela primeira vez foi para rua a inesquecível Fobica, que mudaria para sempre o carnaval da Bahia.
Apaixonados pelo frevo, Dodô e Osmar resolveram criar uma versão eletrônica do ritmo utilizando sua invenção, o pau eletrificado, precursor da guitarra baiana. Para entrar no cortejo eles transformaram um velho calhambeque, um Ford 29, que apelidaram de Fobica, instalando nele auto falantes e com seu frevo eletrificado puseram todo o povo pra dançar! Uma canção de Moraes Moreira revela como tudo aconteceu:
“Varre, varre, varre vassourinhas, varreu um dia as ruas da Bahia
Frevo, chuva de frevo e sombrinhas, metais em brasa, brasa, brasa que ardia
Varre, varre, varre vassourinhas, varreu um dia as ruas da Bahia
Abriu alas e caminhos pra depois passar o trio de Armandinho, Dodô e Osmar
E o frevo que é pernambucano, ui, ui, ui, ui
Sofreu ao chegar na Bahia, ai, ai, ai, ai
Um toque, um sotaque baiano, ui, ui, ui, ui
Pintou uma nova energia, ai, ai, ai, ai
Desde o tempo da velha fobica, hahahahaha, parado é que ninguém mais fica
É o frevo, é o trio, é o povo, é o povo, é o frevo, é o trio
Sempre juntos fazendo o mais novo Carnaval do Brasil”
O Carnaval em Salvador é também lugar de expressão de raiz! Foi na resistência, na luta pelo resgate e valorização de sua ancestralidade e negritude que os afoxés e blocos afros foram pra ruas e mostraram a beleza da raça e a força de seu batuque.
“Filhos de Gandhi, Badauê
Ilê Alê, Malê de Balê, Ojú Obá
Tem um mistério que bate no coração
Força de uma canção que tem o dom de encantar”
(Música Ijexá/Edil Pacheco)
Da mistura da ideologia de Mahatma Gandhi, pela não violência e paz com o culto aos orixás surgiu o Afoxé Filhos de Gandhy. O “tapete branco da paz” como é conhecido cultua a tradição da religião africana ritmada pelo agogô, e com seus cânticos na língua Ioruba, “traz pra você o novo som Ijexá”.
“O Araketu, o Araketu quando toca
Deixa todo mundo pulando que nem pipoca…”
(Música Pipoca/Alain Tavares, Clóvis Cruz, Carlos Tavares e Gilberto Santos)
O blocoafro Ara Ketu ou Povo de Ketu, foi fundado por moradores do subúrbio ferroviário de Periperi em Salvador, com um balanço irresistível o bloco foi além, se reinventou, experimentou outros tipos de som (samba e axé) e deixou a todos “mal acostumados” esperando sua passagem. A música do Olodum é a música das ruas, do Carnaval, da luta contra o racismo, um trabalho que ao mesmo tempo que transmite conhecimento, gera um sentimento de identidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural. Sua cultura percussiva se uniu a canções temas especialmente compostas para seus desfiles e apresentações.
“Que mara, mara, mara maravilha eh, Egito, Egito eh”…
Em 2017 a canção “Faraó Divindade do Egito” (Luciano Gomes) completará 30 anos. Mais que apenas um tema exótico, o Olodum além de valorizar a cultura egípcia, mostrou aos negros e afro descendentes a grandeza de seus ancestrais na história da humanidade.
“Eu falei Faraó
Eh Faraó, Eh Faraó
Eu clamo Olodum Pelourinho
Eh Faraó, Eh Faraó”
Que seus tambores continuem a bailar no alto, e que seu som continue a ecoar pelo mundo afora! Quando “o mais belo do belos” despontou na avenida, revelou o Mundo Negro para o Carnaval de Salvador. O Ilê Aye teve axé e coragem para ir contra a ordem estabelecida, e com seu trabalho sócio cultural e suas apresentações se tornou uma das maiores referencias de resistência, preservação da cultura de origem africana e afirmação da negritude como forma irrepreensível de garantir a Consciência Negra. Como diz a canção:
“Quem é que sobe a Ladeira do Curuzu
É a coisa mais linda de se ver, é o ilê Aye”
Carlinhos Brown, se tornou um dos filhos mais ilustres desta terra, com sua expressão percussiva, sua inquietude criativa, sua consciência social e muita atitude, promoveu o milagre do Candeal, bairro pobre da Salvador, onde nasceu. O músico criou vários projetos, programas e grupos musicais que modificam até hoje a vida de crianças e jovens carentes. Extremamente ligado à cultura afrobrasileira e ao carnaval da Bahia, Brown promove o respeito à ancestralidade africana ao mesmo tempo que defende a mestiçagem, das raças, das culturas, dos ritmos e dos sons. Exatamente por isso é chamado de Cacique do Candeal. (Brown) Ao reinventar a sonoridade do timbau, reuniu um grupo de percursionistas criou o Timbalada, que com seus corpos pintados, e nas “Asas de um Passarinho” levam seus sucessos e fazem soar seus timbaus nos quatros cantos do mundo.
Mas, o baiano quer e pode mais! Criou uma música genuinamente baiana, um som híbrido inspirado em outros tantos gêneros musicais e a chamou de Axé Music. Hoje o Carnaval baiano, com seus trios cada vez mais elétricos, lança suas estrelas ao mundo e em seu caldeirão de alegria, mistura todas as tribos e todos os sons.
Salvador é assim uma terra única, que desperta em nós uma genuína paixão, é por tudo isto que a Peruche, no Carnaval 2017, também faz soar seus tambores e rgulhosamente anuncia: Salve Salvador! Salve a Bahia! E que Salvador nos dê muito axé para que façamos mais um maravilhoso espetáculo na maior festa popular do mundo, o Carnaval Paulistano.