#BOLOEGUARANÁ: Aniversariante do dia, Imperatriz está de volta ao Grupo Especial após gabaritar na Série A

Por Bernardo Pilotto:


Há um ano atrás, a Imperatriz Leopoldinense teve um dos aniversários
mais doídos de sua história. Após um desfile que não honrou suas tradições, a
escola foi rebaixada para a segunda divisão do carnaval carioca. Hoje, ao
completar 61 anos, o clima é outro: a agremiação acaba de voltar ao Grupo Especial,
com a pontuação máxima obtida em seu desfile na Série A.
Depois de ter ganhado fama por desfiles chamados de técnicos, o
rebaixamento em 2019 acabou sacramentando uma má fase da escola, que já vinha
de alguns carnavais. A queda, junto ao alegre desfile de 2020, pode ajudar a
tirar esse estigma da agremiação. Ao pesquisar a história da Imperatriz, vemos
que ela é bem maior do que isso. 
“A festa vai começar, eu vou mostrar
Que faço samba também, vem ver meu bem
Se você fala de mim, não sabe o que diz
Muito prazer! Eu sou a Imperatriz!”
(“Imperatriz… Só quer mostrar que faz samba também!” – Carlos
Kind / Di Andrade / Jorge Arthur / Josimar / Valtenci)
Em 2009, quando completou 50 anos, desfilou com uma auto-homenagem. Já
no refrão, trazia uma provocação, dialogando com os versos de Noel Rosa para
reafirmar o caráter bamba do bairro de Ramos. A escola parecia estar engasgada
com a tal fama de uma organização tecnocrática, que tanto a perseguiu nos anos
1990. 
Ainda que de fato alguns de seus desfiles tenham sido mais técnicos do
que empolgantes, o carimbo para cima da Imperatriz foi injusto, tanto porque
várias escolas foram campeãs sem necessariamente cativar o público, quanto pelo
fato de terem passado pela Imperatriz vários sambistas importantes para o
carnaval.
Imperatriz levou bonde da alegria à Sapucaí com Zé Catimba e Elymar Santos Foto: Diego Martins Mendes / Agência O Globo
Zé Katimba, à esquerda, e Elymar Santos, à direita, no desfile da Imperatriz de 2020. Foto: Diego Mendes / O Globo 

Um desses personagens é José Inácio dos Santos, o Zé Katimba. Fundador
da escola, ele segue compondo sambas-enredo até hoje, aos 87 anos. São de sua
autoria alguns dos mais importantes hinos da Imperatriz, como os sambas de
1972, 1981 e 2016. Ao todo, a agremiação foi para a avenida com sambas de Zé
Katimba em 10 ocasiões. Além dele, a escola já contou com nomes como
Dominguinhos do Estácio, Preto Joia e Niltinho Tristeza e também de vários
sambistas ligados ao grupo Fundo de Quintal e ao bloco Cacique de Ramos. 
“Nos carnavais ranchos e blocos vão mostrar
Que em nossas veias correm notas musicais
Trazendo paz e harmonia, paixão e razão de viver
Maestro e menestréis vem conhecer”
(“Imperatriz… Só quer mostrar que faz samba também!” – Carlos
Kind / Di Andrade / Jorge Arthur / Josimar / Valtenci)
A fundação da escola em 06 de março de 1959 foi fruto de um caldo de
cultura bem importante na Zona da Leopoldina, especialmente no bairro de Ramos.
Por lá existiam, desde o começo do século XX, blocos e clubes carnavalescos.
Pela própria localização do bairro, construído em torno à linha férrea, havia
um intercâmbio muito grande com sambistas de outros locais. Há registros, por
exemplo, da presença de Pixinguinha, Heitor dos Prazeres, Bide e Marçal nos
carnavais do bairro.
Em 1931, foi fundada a escola de Recreio de Ramos. Ainda que tenha sido
a grande campeã do carnaval de 1934, a escola acabou se enfraquecendo e foi
extinta. Foram os sambistas órfãos dela que, em 1959, liderados pelo
farmacêutico Amaury Jório, fundaram a Imperatriz Leopoldinense. 
Depois de alguns anos desfilando nas divisões inferiores do carnaval, a
Imperatriz chegou ao grupo de elite do carnaval em 1965, de onde saiu poucas
vezes. Em 1972, a escola começou a ganhar destaque nacional, visto que o
samba-enredo apresentado aquele ano (“Martim Cererê”) foi trilha sonora da
novela Bandeira 2. 
“Linda, majestosa tão querida
Ela se agiganta e encanta a avenida
Verde e branco meu cantar,minha vida,meu pulsar
Sei que é preciso cultivar a flor
Que é preciso sempre amar você e sempre falar de amor”

(“Rainha de Ramos” – Preto Joia / Toninho Geraes / Guga)
Em 1980, ganhou o primeiro de seus 8 títulos do carnaval. Após vencer
também em 1981 e 1989, a Imperatriz teve seu auge nos meados dos anos 1990 até
2001, quando ganhou 5 títulos (1994, 1995, 1999, 2000 e 2001). Liderada pela
carnavalesca Rosa Magalhães, apresentou enredos sobre diferentes fatos da
história do Brasil com bastante densidade, com desfiles que ficaram conhecidos
pela correção de suas apresentações. 

Rosa Magalhães na Imperatriz, em 1997. Foto: Wigder Frota 

Mesmo com Rosa Magalhães permanecendo na escola até 2009 (foram 18
carnavais consecutivos na Imperatriz), a Rainha de Ramos não conquistou mais
títulos após o tricampeonato da virada do século. Depois da saída da professora,
a agremiação viveu altos e baixos, chegando a um impensável 10º lugar em 2012 e
ao trágico rebaixamento em 2019. 
Com a reedição do enredo e do samba campeões em 1981, sob a
responsabilidade do carnavalesco Leandro Vieira, a Imperatriz apresentou um
grande desfile na Série A em 2020, sendo considerado por alguns o melhor
desfile do ano da Sapucaí. Com a nota máxima em todos os quesitos, voltou de
cabeça erguida para a elite do carnaval carioca.




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