#BOLOEGUARANÁ: Paraíso do Tuiuti completa 68 anos em um dos momentos mais importantes de sua história

Por Bernardo Pilotto:

Escola fundada em 05 de abril, o Paraíso do Tuiuti completa hoje 68 anos. Com origem no Morro do Tuiuti, no bairro São Cristóvão, a escola era, até 2018, desconhecida do grande público. O desfile do Tuiuti daquele ano fez com que a escola ficasse mundialmente conhecida. Até chegar ali, porém, ela já tinha muita história.

Existem registros de que o Morro do Tuiuti abrigava sambistas desde os anos 1930. No clássico livro “Escolas de Samba do Rio de Janeiro”, de Sergio Cabral, há uma passagem que traz um recorte do jornal O Globo, de 1933, no qual um compositor do morro é entrevistado sobre a confecção de uma cuíca, instrumento até então desconhecido do grande público. Nessa época também foi criada no morro a Unidos do Tuiuti, que chegou a conquistar um terceiro lugar no desfile de 1939. Em 1940, a Paraíso das Baianas também surgiu no morro.

Retrato do momento de fé, prévio ao desfile, de dois componentesda  histórica comissão de frente do Tuiuti no desfile de 2018. Foto: Erica Modesto.

A decadência dessas duas escolas não acabou com o samba no morro. Ao contrário, fez com que os sambistas se reorganizassem, se unissem e criassem o Paraíso do Tuiuti. Ao ser fundada em 1952, portanto, a escola trouxe consigo alguns anos de desfiles e de organização comunitária.

O primeiro desfile da nova escola foi em 1955, com o enredo “Apoteose a Edgar Roquete Pinto”. Com a divisão das escolas em mais de um grupo, a agremiação amarela e azul ficou nas divisões inferiores e assim foi indo durante os anos, alternando desfiles pelo segundo, terceiro e até quarto grupo.

A proximidade do Morro do Tuiuti com o Morro da Mangueira trouxe sempre um grande intercâmbio entre o Paraíso do Tuiuti e a Estação Primeira. Foi assim, por exemplo, com o carnavalesco Júlio de Mattos, que começou na escola do Morro do Tuiuti e depois esteve à frente de vários carnavais mangueirenses, conquistando cinco títulos pela verde e rosa. 

No começo dos anos 1980, a escola também teve grande destaque nos grupos de acesso, quando contou com a carnavalesca Maria Augusta, que havia feito inesquecíveis carnavais na União da Ilha alguns anos antes. 

“Tu és meu sonho, Tuiuti


Tens um destino a cumprir


É brilhar no carnaval


No desfile principal


Todo povo a te aplaudir”

(“Um Mouro no Quilombo” – César Som Livre / Kleber Rodrigues / David Lima / Cláudio Martins)

Depois de muitos anos desfilando nos grupos inferiores, o Paraíso do Tuiuti conquistou o título do Grupo de Acesso no ano 2000, chegando pela primeira vez ao Grupo Especial. Mas, no desfile de 2001, a escola não conseguiu se consolidar entre as maiores do carnaval e foi rebaixada. Foram mais uns anos nos grupos de acesso até que finalmente o prognóstico do samba-enredo do carnaval de 2001 começou a virar realidade.
Em 2014 chegou na escola o carnavalesco Jack Vasconcelos para fazer o carnaval do ano seguinte – e dos outros cinco anos seguintes. Ele propôs enredos com fortes cunhos cultural e histórico e esse caminho deu certo: a escola ficou em 5º lugar em 2015 e em 2016 ganhou o Grupo de Acesso, conquistando o direito de voltar ao Grupo Especial.
No primeiro ano na volta ao Grupo Especial, a escola não deu sorte e acabou ficando na última colocação. Mas, devido a acidentes ocorridos no desfile da própria escola e no desfile da Unidos da Tijuca, nenhuma agremiação acabou rebaixada.
E o Paraíso do Tuiuti não desperdiçou a nova chance. Com “Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão?” (uma referência ao samba “Sublime Pergaminho”, da Unidos de Lucas, de 1968), a escola apresentou um desfile comovente, com uma plástica extremamente visual, e politicamente crítico e engajado. Embalados pelo ótimo samba-enredo do Moacyr Luz, Claudio Russo e demais parceiros e uma comissão de frente emocionante, o Paraíso do Tuiuti ganhou o público na Sapucaí e na TV e saiu do desfile de domingo como uma das favoritas para ganhar o carnaval.
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O destaque vestido de vampiro no último carro do desfile do Paraíso do Tuiuti em 2018. Foto: Marcos Serra Lima | G1.

Foi um arrebatamento coletivo. Sob um cenário de retirada de direitos trabalhistas e golpe parlamentar, esse desfile apareceu como um grito contundente, para o mundo, da situação que o Brasil estava passando (e ainda passa).

De domingo até a abertura das notas na quarta-feira, a única dúvida era se o peso da bandeira ia contar na avaliação dos jurados. E o resultado também surpreendeu por isso: o Paraíso do Tuiuti foi acumulando notas 10 e chegou ao vice-campeonato, o maior resultado de sua história.

A mudança de patamar da escola trouxe novas responsabilidades e expectativas. Em 2019 e 2020, a escola voltou a apresentar bons desfiles, mantendo semelhante linha temática, ainda que sem a mesma aclamação de 2018. Para 2021, a escola resolveu inovar e vai contar com a presença do carnavalesco Paulo Barros.

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