Por Redação Carnavalize
No ano de 1990, em meio ao crescimento desenfreado das escolas de samba e à dinâmica dos bastidores do carnaval, a São Clemente desfilou o enredo “E o samba sambou” para falar sobre os rumos da festa. Hoje, vinte e nove anos depois, o carnavalesco Jorge Silveira tirou da estante aquele mesmo livro para dar continuidade a essa história em novas páginas e levantar, quase três décadas mais tarde, o tapete do carnaval para mostrar a poeira que ainda se esconde por baixo dele. Com muito bom humor, reverberou novamente aquele famoso grito: olha a crítica!
Estreando na agremiação, o experiente coreógrafo Junior Scapin comandou os bailarinos da comissão de frente clementiana, que representou os famigerados cartolas das escolas que tomam decisões sobre os rumos do carnaval em uma mesa de reuniões, contando com a presença da polêmica virada de mesa. Os personagens rendiam homenagem à elogiada comissão de vinte e nove anos atrás e interagiram muito com o público, arrancando aplausos. A ressalva fica por conta do tripé que era excessivamente grande e foi utilizado para a apresentação do grupo em frente aos módulos de julgamento, enquanto na passagem entre os setores foi adotada uma coreografia no chão. Muito bem vestidos, os cartolas sintetizaram o enredo e apresentaram a escola com acidez na medida certa e muita irreverência.
A comissão de frente da escola trouxe os cartolas de cada agremiação e encenou uma virada de mesa na sala de reuniões. |
Juntos pelo primeiro ano, o mestre-sala Fabricio Pires, que já está na agremiação há sete carnavais, recebeu como parceira a premiadíssima porta-bandeira Giovanna Justo, que está de volta à Sapucaí depois de um ano sabático. Defendido por guardiões vestidos de paparazzis, o casal representou os ícones do pop que substituem os sambistas; ele estava vestido de Michael Jackson, enquanto ela encarnou o personagem da cantora Madonna. Experientes, os dois apostaram em uma dança tradicional e sem coreografias, o que pode ser valorizado ou canetado pelos jurados.
No quesito alegorias, o conjunto se mostrou muito claro, objetivo e bem resolvido. O colorido e a fácil leitura foram aliados importantes ao bom acabamento e uso da volumetria. O trabalho de cor da escola era excelente e a abertura passou do amarelo e preto, tons do pavilhão, para o tom alaranjado que seguiu fazendo uma boa transição entre os setores. A ideia do uso de costeiros em algumas alas fez sucesso e o conjunto também tinha fácil leitura. O enredo era muito bem amarrado, com ápice no final da passagem da escola, em que a sua própria história era exaltada e a crítica ganhou tom emotivo com a presença dos carnavalescos na quinta e última alegoria, que passou apagada por algumas cabines de julgamento. O contratempo, porém, não foi suficiente para causar grandes preocupações, já que o público reverenciou o encerramento da escola com muitas palmas.
A segunda alegoria criticou os camarotes que tomam conta da Avenida. |
A Fiel Bateria de mestre Caliquinho deu um verdadeiro show e foi um dos grandes destaques ligados ao samba. As paradinhas no refrão do meio propiciaram uma boa resposta da escola, que começou com uma harmonia morna e depois melhorou a intensidade do canto. No microfone, Leozinho Nunes, que já era intérprete da agremiação, recebeu o reforço de Bruno Ribas e Larissa Luz. A passagem do trio foi apenas correta e não emocionou como poderia, já que tinham nas mãos a chance de brilhar com um samba que era uma das grandes apostas da agremiação, mas não o fizeram.
O quinto carro da escola arrancou aplausos com a presença dos carnavalescos da Série A. |
A evolução foi um quesito comprometido, já que o abre-alas se moveu vagarosamente e abriu um pequeno buraco, somado a outros clarões que foram abertos entre as alas. A fluidez da escola na pista foi irregular e até mesmo lenta.
De toda forma, numa dose perfeita de crítica e bom humor, a alegria clementiana deve garantir com folga a permanência no grupo e a briga por posições confortáveis na tabela. Desponta aqui, até o momento, como uma grata surpresa dos dois dias.