Por Redação carnavalize
Se algumas escolas tiveram como maior preocupação a crise financeira e identitária, o Salgueiro ganhou um presente de grego para chamar de seu: a instabilidade política dentro da agremiação ditou o ritmo dos meses que antecederam este dia. Depois de um imbróglio judicial com muitas idas e vindas, André Vaz assumiu a presidência da escola e a equipe, que já havia sofrido algumas alterações, des(fez) contratações. De toda forma, ainda sobre o comando do carnavalesco Alex de Souza, “Xangô” foi o enredo apresentado pela agremiação, o sonho de todo salgueirense, já que o orixá da justiça e do trovão é também o padroeiro da escola.
Em sua estreia pela alvirrubra, Sergio Lobato comandou a comissão de frente que saudou o sincretismo religioso e a associação de Xangô a São Jerônimo pelos negros escravizados que não podiam manifestar livremente sua crença. O grupo cumpriu bem a função de apresentar a escola e fazer uma conexão do orixá com o Morro do Salgueiro, e contou com a simpática participação de Eri Johnson, figura ligada à agremiação, que representou Xangô do Salgueiro. A execução, porém, não foi das melhores já que todo o trabalho braçal que os componentes tinham de empurrar o elemento alegórico gerou lentidão na apresentação não só da comissão, mas no andamento de toda a escola.
Depois da polêmica saída da escola após o anúncio da gravidez da porta-bandeira, Marcella Alves e Sidclei Santos retornaram ao cargo de primeiro casal com a nova direção e defenderam o pavilhão salgueirense pelo sexto ano. Vestidos com uma belíssima fantasia de cores quentes com tons de laranja e dourado, fizeram jus à coleção de notas dez que carregam com uma apresentação muito boa e sem preocupações.
Detalhes da parte frontal do abre-alas salgueirense. |
Esteticamente, Alex de Souza inovou ao realizar uma abertura toda branca em um enredo que fala sobre Xangô, que foge do lugar comum. O conjunto alegórico apresentou problemas tanto de concepção quanto de realização, com formatos que se mostraram repetitivos e no uso de volumes. A forração dos carros foi um ponto frágil, revelando um falta de preciosismo e riqueza de detalhes no acabamento para que fosse um conjunto de excelência. Por outro lado, a paleta de cores do desfile foi bem desenvolvida e os setores eram bem resolvidos individualmente, já que apresentavam diferenciação de uns para os outros. As fantasias oscilaram ao longo do desfile: as primeiras alas tinham soluções muito interessantes, mas a qualidade não se manteve até o final.
No quesito enredo, o primeiro bloco fez uma boa apresentação do orixá, mas a falta de uma referência explícita às três esposas de Xangô, citadas no samba, deixou a desejar. A amarração entre os setores também ficou comprometida, mas não deve gerar penalização à escola.
A quarta alegoria da escola rememorou o grandioso desfile de 1969, Bahia de Todos os Deuses, em que o professor Julio Machado incorporou Xangô. |
A Furiosa também passou sob novo comando: os irmãos Gustavo e Guilherme, crias da escola, ocuparam o cargo de mestres de bateria. Com a qualidade de sempre, os atabaques foram o diferencial da apresentação. No microfone, também houve estreia e reencontro. Emerson Dias, contratado ainda na gestão de Regina Celi, dividiu o microfone com Quinho, que saiu da agremiação e retornou com a ascensão de André Vaz à presidência. O samba explodiu e tanto a escola quanto as arquibancadas pipocaram na Marquês de Sapucaí com a força da letra que saudava o padroeiro.
No quesito evolução, a bateria localizada na parte da frente da escola somado à apresentação vagarosa da comissão de frente e do casal gerou alguns buracos ao longo da pista e a sensação de inchaço da escola, que chegou a ficar parada por minutos consideráveis. Por esse fato, em alguns momentos a harmonia não manteve o gás inicial, apesar do canto não ter sido seriamente comprometido.
Depois de tantas reviravoltas do pré-carnaval e pequenos contratempos na Avenida, o Salgueiro deve voltar com tranquilidade no sábado das campeãs.