#Carnaval2019 – Evolução compromete saudação a Xangô, mas Salgueiro briga pelo sábado das campeãs

Por Redação carnavalize
Se algumas escolas tiveram como maior preocupação a crise financeira e identitária, o Salgueiro ganhou um presente de grego para chamar de seu: a instabilidade política dentro da agremiação ditou o ritmo dos meses que antecederam este dia. Depois de um imbróglio judicial com muitas idas e vindas, André Vaz assumiu a presidência da escola e a equipe, que já havia sofrido algumas alterações, des(fez) contratações. De toda forma, ainda sobre o comando do carnavalesco Alex de Souza, “Xangô” foi o enredo apresentado pela agremiação, o sonho de todo salgueirense, já que o orixá da justiça e do trovão é também o padroeiro da escola. 
Em sua estreia pela alvirrubra, Sergio Lobato comandou a comissão de frente que saudou o sincretismo religioso e a associação de Xangô a São Jerônimo pelos negros escravizados que não podiam manifestar livremente sua crença. O grupo cumpriu bem a função de apresentar a escola e fazer uma conexão do orixá com o Morro do Salgueiro, e contou com a simpática participação de Eri Johnson, figura ligada à agremiação, que representou Xangô do Salgueiro. A execução, porém, não foi das melhores já que todo o trabalho braçal que os componentes tinham de empurrar o elemento alegórico gerou lentidão na apresentação não só da comissão, mas no andamento de toda a escola. 
Depois da polêmica saída da escola após o anúncio da gravidez da porta-bandeira, Marcella Alves e Sidclei Santos retornaram ao cargo de primeiro casal com a nova direção e defenderam o pavilhão salgueirense pelo sexto ano. Vestidos com uma belíssima fantasia de cores quentes com tons de laranja e dourado, fizeram jus à coleção de notas dez que carregam com uma apresentação muito boa e sem preocupações. 
Detalhes da parte frontal do abre-alas salgueirense.
Esteticamente, Alex de Souza inovou ao realizar uma abertura toda branca em um enredo que fala sobre Xangô, que foge do lugar comum. O conjunto alegórico apresentou problemas tanto de concepção quanto de realização, com formatos que se mostraram repetitivos e no uso de volumes. A forração dos carros foi um ponto frágil, revelando um falta de preciosismo e riqueza de detalhes no acabamento para que fosse um conjunto de excelência. Por outro lado, a paleta de cores do desfile foi bem desenvolvida e os setores eram bem resolvidos individualmente, já que apresentavam diferenciação de uns para os outros. As fantasias oscilaram ao longo do desfile: as primeiras alas tinham soluções muito interessantes, mas a qualidade não se manteve até o final. 
No quesito enredo, o primeiro bloco fez uma boa apresentação do orixá, mas a falta de uma referência explícita às três esposas de Xangô, citadas no samba, deixou a desejar. A amarração entre os setores também ficou comprometida, mas não deve gerar penalização à escola.
A quarta alegoria da escola rememorou o grandioso desfile de 1969, Bahia de Todos os Deuses, em que o professor Julio Machado incorporou Xangô.
A Furiosa também passou sob novo comando: os irmãos Gustavo e Guilherme, crias da escola, ocuparam o cargo de mestres de bateria. Com a qualidade de sempre, os atabaques foram o diferencial da apresentação. No microfone, também houve estreia e reencontro. Emerson Dias, contratado ainda na gestão de Regina Celi, dividiu o microfone com Quinho, que saiu da agremiação e retornou com a ascensão de André Vaz à presidência. O samba explodiu e tanto a escola quanto as arquibancadas pipocaram na Marquês de Sapucaí com a força da letra que saudava o padroeiro. 
No quesito evolução, a bateria localizada na parte da frente da escola somado à apresentação vagarosa da comissão de frente e do casal gerou alguns buracos ao longo da pista e a sensação de inchaço da escola, que chegou a ficar parada por minutos consideráveis. Por esse fato, em alguns momentos a harmonia não manteve o gás inicial, apesar do canto não ter sido seriamente comprometido. 
Depois de tantas reviravoltas do pré-carnaval e pequenos contratempos na Avenida, o Salgueiro deve voltar com tranquilidade no sábado das campeãs.

Comente o que achou:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja mais

Posts Relacionados

Projeto “Um carnaval para Maria Quitéria” valoriza a folia e conta com ilustrações de carnavalescos renomados

Projeto “Um carnaval para Maria Quitéria” valoriza a folia e conta com ilustrações de carnavalescos renomados

 A Jac Produções lança o projeto "Um carnaval para Maria Quitéria", que desenvolveu um estudo de desfile de escola de samba em homenagem a essa heroína da nossa independência. O

O aroma que vem da Glória: a alegria da MUG ao sabor de um samba inesquecível

O aroma que vem da Glória: a alegria da MUG ao sabor de um samba inesquecível

Arte de Julianna LemosPor Adriano PrexedesSejam bem-vindos de novo! Desta vez, nossa aventura sambística nos levará para outro destino: vamos até o Espírito Santo para conhecer a trajetória de uma

#Colablize: A infraestrutura do carnaval carioca hoje – o que precisa ser feito

#Colablize: A infraestrutura do carnaval carioca hoje – o que precisa ser feito

    Arte de Lucas MonteiroPor Felipe CamargoJá se tornou algo que os amantes do Carnaval carioca debatem e mencionam todos os anos. Com um misto de esperança, medo e reclamação,

A locomotiva azul e rosa: São Paulo nos trilhos do sucesso da Rosas de Ouro

A locomotiva azul e rosa: São Paulo nos trilhos do sucesso da Rosas de Ouro

Arte de Jéssica BarbosaPor Adriano PrexedesAtenção! Vamos embarcar numa viagem carnavalesca pela cidade que nunca para. Relembraremos uma São Paulo que, durante a folia, se vestia de cores vibrantes. De

ROSA X LEANDRO: Quando os carnavalescos ocupam as galerias de arte

ROSA X LEANDRO: Quando os carnavalescos ocupam as galerias de arte

 Arte por Lucas MonteiroTexto: Débora Moraes Rosa Magalhães e Leandro Vieira são os carnavalescos que mais tiveram seus trabalhos exibidos em exposições em instituições de arte. Além de colecionarem esse título,

A Lição da Mancha Verde: uma passagem pela história de persistência da escola e por um de seus desfiles históricos

A Lição da Mancha Verde: uma passagem pela história de persistência da escola e por um de seus desfiles históricos

 Arte de Lucas XavierPor Adriano PrexedesO ano era 2012, considerado por muitos um dos maiores carnavais da história do Sambódromo do Anhembi. A folia, geralmente, é lembrada pelo grande público

VISITE SAL60!

SOBRE NÓS

Somos um projeto multiplataforma que busca valorizar o carnaval e as escolas de samba resgatando sua história e seus grandes personagens. Atuamos não só na internet e nas redes sociais, mas na produção de eventos, exposições e produtos que valorizem nosso maior evento artístico-cultural.

SIGA A GENTE

DESFILE DAS CAMPEÃS

COLUNAS/SÉRIES