Por Redação Carnavalize
Poucas vezes uma escola foi tão aguardada por uma cidade – sim, não apenas por uma comunidade – inteira, ousa-se dizer, talvez, por um país. Com “História para ninar gente grande”, a Estação Primeira de Mangueira do carnavalesco Leandro Vieira contou a versão apagada dos livros da história oficial, protagonizada pela elite branca e com referências europeias. Em uma exaltação a heróis brasileiros que sequer foram conhecidos por muita gente, a escola embarcou numa verdadeira aula de brasilidade e do próprio povo.
Estreando pela Mangueira, o casal Priscilla Mota e Rodrigo Negri foi responsável pela comissão de frente da escola. Eles trouxeram os heróis brancos e oficiais emoldurados, enquanto um grupo de índios e negros rasgavam as páginas dos livros de história do Brasil e assumiam os lugares nas molduras. Destas os heróis oficializados no primeiro momento saíam apequenados, e os negros e índios eram exaltados em seus protagonismos. A execução foi perfeita e no final Cacá Nascimento, representando uma jovem estudante, era carregada por um dos integrantes enquanto segurava uma placa que dizia “presente”. Emocionado, o público aclamou a passagem do grupo.
A emocionante comissão de frente mangueirense. |
Matheus Olivério e Squel Jorgea, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira”, representaram os donos da terra, com belíssimos trajes indígenas em que predominavam as cores do pavilhão mangueirense. Em uma apresentação irretocável, os dois encantaram as arquibancadas e arrancaram aplausos do público.
Em termos plásticos, a escola fez uma abertura muito forte com um belo abre-alas que teve alguns problemas de iluminação em frente ao primeiro módulo de jurados e depois acendeu mais a frente. O conjunto alegórico era conceitualmente muito bem concebido do início ao fim, sem que nenhum carro destoasse, e cumpriu o importante papel de conseguir se comunicar visualmente com o público dentro do enredo de maneira muito criativa e bem executada. As fantasias foram excelentes e apostaram em diferentes soluções, materiais e formatos; cada um dos setores tinha sua proposta cromática.
O tripé “O Quilombo Palmariano” representou a nobreza de Zumbi e Dandara dos Palmares, respectivamente Nelson Sargento e Alcione. |
O enredo foi uma aula de história de Brasil. Muito bem desenvolvido, lembrou os heróis apagados da história do país e encerrou a passagem da escola de maneira muito bonita. A afirmação foi precisa ao exaltar, no encerramento, figuras ilustres como Marielle, Carolina de Jesus, Cartola, Jamelão e tantos outros: as multidões são verde e rosa e a bandeira do país se ressignifica à semelhança de seu povo que resiste dia após dia.
A bateria do mestre Wesley fez uma apresentação inigualável, com bossas que imitavam um toque militar, em que a bateria parava para que a escola respondesse com os versos que exaltavam as mulheres do país. A evolução da escola não apresentou problemas e o chão mangueirense cantou o samba a plenos pulmões.
Tecnicamente perfeita, culturalmente relevante e socialmente arrebatadora, a Mangueira realizou um dos maiores desfiles de sua história e sai com muita vantagem na briga pelo título.