A segunda maior campeã do carnaval, com títulos em todas as décadas de desfile, vencedora do primeiro concurso entre as escolas 1932… Adjetivos e qualidades não faltam para uma das maiores escolas da nossa folia, que disputa o lugar de mais tradicional agremiação com a Portela. Mas além de Cartola, Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho, Dona Zica, Neuma… Houve um artista que fez deu a sua cara a verde-e-rosa e vice-versa. Seu nome é Julinho Mattos, ou Julinho da Mangueira, que assinou carnavais nas décadas de 1960, 70 e 80. Sendo responsável por cinco dos dezoito títulos da Estação Primeira.
O artista do povo chegou na velha Manga em 1963 já causando polêmica ao escolher o enredo “Exaltação à Bahia”, numa época em que temas nordestinos e, principalmente, ligados ao estado mais negro do Brasil eram vistos com desconfiança e considerados azarados. Mas ele quebrou o tabu e conseguiu um segundo lugar, atrás apenas da imortal Xica da Silva do Salgueiro. Paralelo a revolução negra salgueirense, levou pra avenida o enredo afro “Memórias de um preto velho” em 64. Três anos depois, veio o primeiro título com o inesquecível “O mundo encantado de Monteiro Lobato”, que é tido como o primeiro samba-enredo a ter sucesso nacional. No ano seguinte, se sagrou bicampeão com “Samba, festa de um povo”.
Paralelo a verde-e-rosa, Júlio também dava expediente na azul e amarelo do morro vizinho. Em 1954, ajudou a fundar a “Paraíso do Tuiuti”, fruto da fusão entre as escolas “Paraíso das baianas” e “Unidos do Tuiuti”. Assinou carnavais na escola desde a sua fundação até 1990, poucos antes de falecer, um casamento interrompido poucas vezes, como no começo da década de 1980, quando Maria Augusta assinou três desfiles na agremiação.
Na Estação Primeira teve idas e vindas. A primeira passagem que se iniciou em 1963 só acabou mais de dez anos depois em 1974. Com três títulos (67,68 e 73) e quatro vices (63, 66, 69, 72). Uma segunda de 1977 a 1979 com um vice em 78. E a última e vitoriosa parceria de 1986 a 1989, sendo responsável por mais um bi com os inesquecíveis desfiles sobre Dorival Caymmi e Carlos Drummond de Andrade. Em 88, o vice com sabor de vitória com o inesquecível (e atual) “Cem anos de liberdade, realidade ou ilusão?”, protagonista do eterno
Se faz parte da identidade da Mangueira homenagear grandes nomes da música e da cultura brasileira, Júlio foi um dos responsáveis por imprimir tal marcar à escola. Sua estética simples mas ao mesmo tempo bela e sofisticada, trazia a leveza necessária para as componentes “dizerem no pé” e fazerem da atual campeã a mais dionisíaca das escolas. Ficou famoso também por sua capacidade reutilizar e reciclar material de anos anteriores e transforma-los em novas peças. Foi, sem dúvida, um artista completo e dos mais brilhantes que o carnaval já teve. Saiu de cena de maneira discreta na década de 1990, mais especificamente em 94, após sofrer de um câncer.