Cinco vezes que Garantido e Caprichoso sambaram na Sapucaí

Por Felipe de Souza e Leonardo Antan

No Rio, o samba fez escola e virou dos maiores espetáculos da terra. Mas bem longe das praias de água salgada e do litoral, uma outra manifestação cultural se tornou um dos maiores festejos do Brasil. Em Parintins, as tradicionais festas do “boi bumbá” ganharam aspectos espetaculares e protagonismo em meio ao cenário cultural do país. Em julho, quando os tambores do samba-enredo estão longe da avenida, o Brasil ouve ecoar as toadas dos bois Garantido e Caprichoso. A ligação de troca entre os dois espetáculos é histórica, foram os parintintins os responsáveis por difundir as esculturas articuladas e os movimentos surpreendentes nas alegorias. Até hoje, equipes da ‘Ilha da Magia’, como é conhecida Parintins, trabalham na festa em diversos barracões em Rio e São Paulo, dando vida às esculturas gigantescas. De cá, também saíram profissionais e artistas que brilham no Bumbodrómo.
Celebrando essa união, transformando passista em cunha poranga, relembramos as vezes que nossas escolas renderam homenagem aos bois. Confira:

Salgueiro 1998 – “Parintins, A Ilha do Boi-Bumbá: Garantido x Caprichoso, Caprichoso x Garantido”
O Salgueiro homenageou a ‘Ilha da Magia’ num desfile em 1998, exaltando o festival folclórico e toda sua mística, como as lendas indígenas e a rivalidade entre os bois vermelho e azul. Num samba bem animado, ao estilo da Academia no sucesso pós-Ita, a escola fez um desfile assinado por Mário Borriello, com alegorias grandiosas e articuladas, bebendo nas características da festa folclórica do Norte. Com um grande contingente, o Salgueiro fez uma contagiante apresentação, comandado pelo intérprete Quinho e pela Bateria Furiosa, comandada por mestre Louro.
Portela 2002 – “Amazonas, esse desconhecido! Delírios e verdades do Eldorado Verde”
A águia teve desenvolvimento de artistas parintinenses (foto extraída de Ouro de Tolo)
O universo místico da maior floresta do mundo voltou a embalar uma agremiação carioca em 2002, quando a Portela prestou homenagem ao estado do Amazonas, num cortejo assinado por Alexandre Louzada. A águia, símbolo da azul e branco, foi elaborada por artistas do festival e contou com movimentos impressionantes. A escola contou todas as riquezas e a história do estado mais verde do país. Ao final do desfile, a escola trouxe para a Marquês os bois Garantido e Caprichoso, numa belíssima e importante troca cultural.

Salgueiro 2009 – “Tambor”
Salgueiro homenageou os tambores amazônidas em seu carnaval campeão (Foto: Ricardo Almeida)
Ao contar a mística e o complexo cultural que envolvem os instrumentos percussivos, o Salgueiro não esqueceu dos nossos maiores eventos artístico-culturais. Além de passear por diversos festejos folclóricos, o carnaval assinado por Renato e Márcia Lage contou com uma bela alegoria representando o Festival de Parintins. Dividido em duas cenas, o carro tinha a frente e as costas idênticas cenograficamente mudando apenas as cores típicas dos dois bumbás, com um grande palco onde os bois branco e negro se apresentavam.
Grande Rio 2012 – “Eu acredito em você! E você?”
David Assayag, uma das grandes figuras do Festival 
Ao cantar a superação em suas diversas formas no ano de 2012, a Grande Rio rendeu tributo a diversas personalidades da história brasileira. Um desses homenageados foi David Assayag, importante levantador de toadas do Festival, que é deficiente visual. O cantor começou sua trajetória no Boi Garantido, cantando por mais de dez anos na instituição. Em 2010, mudou-se para o Caprichoso, num troca cercada de polêmica. No desfile da caçulinha da Baixada, David veio de destaque num tripé que trazia os dois bois, numa bela homenagem ao show do folclore nacional.

Unidos de Padre Miguel 2018 – “O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin”



A UPM conquistou o vice-campeonato da Série A em 2018 (Foto: Fernando Grilli/RioTur)
No último carnaval, a Unidos de Padre Miguel, capitaneada por João Vitor Araújo, trouxe para a Avenida uma narrativa folclórica inspirada na obra de Milton Hatoum, “Órfãos do Eldorado”. Trazendo muito luxo num cortejo digno de campeonato, a escola contou o mergulho nas águas amazônidas, que daria no Eldorado Submerso, Parintins. Na plástica, além de grandes esculturas repletas de efeitos e movimentos, a última alegoria da escola trouxe os dois bois para o samba. 

Além desses desfiles, os dois bois já brilharam também no Anhembi, cabe menção a algumas aparições do Festival de Parintins em São Paulo, como em X-9 Paulistana 1997 (“Amazônia, a Dama do Universo”), Império de Casa Verde 2006 (“Do Boi Místico ao Boi Real – De Garcia D´Ávila na Bahia ao Nelore – O Boi que come capim – A Saga pecuária no Brasil para o Mundo”), Rosas de Ouro 2013 (“Os condutores da alegria numa fantástica viagem aos Reinos da Folia”). No Rio, recentemente, a Mocidade Independente de Padre Miguel em 2018 também teve um momento em menção ao festival, em “Namastê: a Estrela que habita em mim, saúda a que existe em você”..
O Festival de Parintins 2018 acontece nas noites de 29 e 30 de junho e 1º de julho. A festa folclórica tem transmissão da TV Cultura. Não deixe de celebrar e prestigiar a cultura brasileira!

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