E lá ia eu, que aqui vos subscrevo com ligação direta entre meus dedos e o rufar do furioso tambor que levo ao peito, pisar pela primeira vez na Marquês de Sapucaí – que, até então, só tinha visto pela tevê. Eram lá pra dia X de fevereiro de dois mil e oito e estava que não cabia mais em mim. Era um misto de ansiedade, fascínio e amor que aprenderia a cultivar por isso aqui. Sempre ganhei os CD’s dos sambas de enredo e os escutava todo o período do pré carnaval. Admito. À época ainda não tinha uma escola pela qual bravejava mil juras de amor igual hoje em dia.
Minha mãe, a primeira referência que tive de carnaval, sempre me presenteava com camisas das escolas. 2008, entretanto, não era um ano qualquer. Seria meu primeiro ano na passarela, disse a ela que escolhesse, com carinho, a camisa de seu primogênito. Coincidência ou não, ainda acredito que tenha sido Pamplona, lá de Orum, o arquitetador de tudo isso. Meu samba preferido daquela maravilhosa safra era o salgueirense o qual escutava tanto aos dias que já tinha gravado até os cacos do Quinho na primeira semana com o CD – E olha… Não eram poucos!
Eis que minha mãe traz a camisa: “Filho, achei a sua cara!”. Àquele ano, a Academia do Samba falaria sobre o Rio, suas riquezas, suas belezas e tudo o que só a Cidade Maravilhosa pode esbanjar. A camisa trazida era a salgueirense, mas não por ter certa predileção pela vermelha e branca tijucana, todavia, por estar, na parte de trás da camisa, estampado o rubro-negro de meu time, já escolhido, Flamengo. Então fui, com as minhas duas paixões estampadas em mim, uma que nasceu comigo, meu time. E outra que aprenderia a amar, respeitar e cultivar mais que quaisquer outras coisas.
E lá fui eu, ostentando o vermelho e branco mais lindo de meu pavilhão e a combinação rubro-negra mais sinérgica da face da terra com minha vó para o Setor 1… E de trem. Não existiria setor melhor para minha primeira vez! Tudo começou no trem com a essência suburbana, a essência do carnaval viva e latente. Passavam-se as estações: Santa Cruz… Campo Grande… Oswaldo Cruz… E Madureira. Quase chegando ao Centro…. A magia aconteceu – que mesmo a “tanto tempo” vivendo nessa atmosfera, ainda consegue hoje, enquanto “rabisco” essas linhas, deixar-me arrepiado!
A porta do trem se abriu, não lembro exatamente em qual estação, e um mar vermelho e branco entrou no trem. Plumas, componentes, ritmistas e passistas. Um detalhe. Naquela época, não o conhecia, mas um dos que entrariam, era nada mais, nada menos que o Mestre Marcão, que venero hoje em dia, à época não fazia ideia de quem fosse. Aos poucos, aqueles tantos surdos, caixas, tamborins e repeniques balbuciavam, cada vez mais forte, o belo samba que a Academia levava à Sapucaí. Não sei se estou conseguindo retratar o quão afetivo e fascinante foi para mim nestas linhas, mas foi, de fato, fascinante. Num sopro de magia, o vagão em que estava – claro, aqueles que sabiam – cantavam o sambaço salgueirense acompanhados, mesmo que por apenas alguns ritmistas, da bateria mais Furiosa que existe e das passistas que sambavam e ensinavam aos “gringos” que se entreolhavam totalmente embasbacados.
E o meu Salgueiro cantou, fazendo que um Rio de amor literalmente desaguasse em mim. Os “tons”, versificados em poesia, irradiavam uma beleza que encantaria qualquer um. Afinal, sou rei da boêmia, carioca e sou da Lapa. Perdoe-me, mas tiro onda do meu jeito, vivo em um eterno carnaval! Aqui, entre morros e ladeiras, onde a brisa embala as ondas do mar, essa gente tão animada faz o turista morrer de saudade, e o Redentor abençoado faz daqui maravilhosa cidade. E assim meu coração batia no compasso do surdo vermelho e branco, eu via o carnaval suspirar, à minha frente, nos versos que por uma metalinguagem viva e latente transcenderia em qualquer um a essência do carnaval “E o suburbano improvisando muito bem/Vai batucando/Na lotada ou no trem”. E no calor do meu Salgueiro, cantando minha emoção, via que também era raiz desse chão… Salve o Rio de Janeiro e nunca se faça esquecer: O sol, no fim de tudo, sempre irá bronzear!
(Infelizmente não achei nenhuma das foto que tirei em 2008 para ilustrar como queria, deixando uma das belíssimas alegorias desse ano).
Achei esse o tema perfeito para meu primeiro texto porque mostra, de fato, como soube que viveria essa “festa” pelo resto de minha vida. E mostra também o porquê e como escolhi a melhor escola de samba possível, meu Torrão Amado. É como costumo dizer: Todos nascem salgueirenses, alguns, entretanto, não se deram conta do que é viver! Brincadeira à parte, espero que gostem, abraços e até o próximo domingo.
2 respostas
Adoreiiiii!!! Parabéns!! Aguardando os próximos!!!
Valeu, Lari!!! Hahaha
Pode deixar que domingo que vem tem mais… Mil beijos!