Da Galera: A cabine dupla e o julgamento no carnaval carioca

Assim como o Carnavalize, esse novo espaço aqui no site surge para dar voz a apaixonados, que escrevam, pesquisam e estudam o carnaval. Quando tivemos a ideia do site, em primeiro lugar, queríamos expor nossas opiniões e visões de como os jovens enxergavam e gostariam de contar e encontrar materiais sobre o carnaval. Sendo assim, iniciaremos essa série de textos do nosso público, entenda-se como um “espaço aberto” e sinta-se à vontade para nos mandar seu texto, crônica, artigo, o que for. Com essa iniciativa, buscaremos dar voz a pessoas, que sempre quiseram divulgar escritos sobre a festa, mas nunca tiveram um lugar – assim como nós antes do site. 

Por Gabriel Cascardo

“Dos maiores clichês existentes no Carnaval, o que diz que ele não termina quarta feira é o mais fidedigno possível. Da análise das notas rasuradas no jornal (essa tradição ainda está viva) até o aguardo interminável pela justificativa dos jurados, inúmeras suposições são criadas até termos acesso as ponderações que descontaram pontos das escolas. Acho que o inconformismo desse processo não coube no meu corpo e esse texto ganhou forma.
2017 foi o ano mais atípico possível. Creio que não para ser esquecido, mas sim para ficar bem vivo. Servir de exemplo e oportunidade (gigantesca) de melhoria. Hoje, vejo que cosmologicamente falando, era impossível não haver respingos no julgamento e consequentemente na apuração depois dos quatro dias de caos ocorridos na Sapucaí.
Antes dos nossos olhos visualizarem todos os problemas supracitados, a definição de uma nova segmentação para os jurados já causou dúvidas e desconfiança. A tal “cabine dupla de julgamento” praticamente no meio da avenida parecia ter nascido fadada ao fracasso (dela e de agremiações). O resultado não foi diferente do imaginado. Meses depois da sua estréia na Sapucaí, ela foi extinta com a inacreditável média de 0,1 pontos de diferença por jurado do mesmo quesito, 57% de suas notas sendo descartadas (dados do grupo de acesso) e um carnaval tragicamente decidido no setor 6.
Todo ocorrido no último carnaval me gerou mais questionamentos sobre o formato de julgamento no carnaval do Rio de Janeiro. Em grupos e fóruns, percebi o mesmo sentimento. Sendo assim, como folião, venho discutir algumas percepções (conspirativas ou não hahahaha) que tenho e não aparece no caderno de justificativas:

1. Alguns jurados criam pré disposições com o
dia do desfile.
E consequentemente, posição/data no desfile. De 1984
pra cá (quando o carnaval foi fragmentado em dois dias), apenas 6 escolas foram
campeãs (18%) foram campeãs no Domingo. Já no acesso, todas as campeãs
desfilaram no Sábado.
2. Alguns jurados julgam por comparação.
E desta forma, as primeiras escolas tendem a ser mais
descontadas, pois não há o comparativo para argumento inicial-pessoal de
descontar a sequente ou não. Isso também leva/retorna a teoria do “Julgamento
por bandeira”, onde as escolas de menos peso tendem a ser prejudicadas.
3. (E mais grave) O quesito conjunto ainda é
julgado.
E sem dúvidas, é o ponto que mais me incomoda. Tenho a
total impressão que muitas vezes os jurados deixam passar alguns detalhes
técnicos do quesito que está sendo julgado por ser um desfile que possivelmente
estará disputando o título dias depois.  Não
gosto de  qualquer agremiação como bode
expiatório, mas temos exemplos claros em comissão de frente em 2017, Evolução
em 2015, Alegorias e Adereços em 2014, entre outros.
4. O quesito
Samba Enredo tem um “Q” de Harmonia para os jurados.
E aí entra a terrível definição, “O samba aconteceu na
avenida.” Por regulamento, letra e melodia devem ser avaliados de forma
separada a fim de alcançar a pontuação da agremiação no quesito. O que vemos
recentemente são sambas com claros problemas melódicos e com má construção para
demonstrar o enredo com inúmeras notas 10 por passar de forma avassaladora na
avenida.
5. As bandeiras são tão julgadas.
Some os 4 tópicos acima aos resultados recentes e a
definição deste último tópico se torna de conhecimento público.
Concordam
com alguns dos tópicos? Tem alguma percepção similar que não foi citada?

Espero
que na próxima quarta de cinzas estejam com olhos atentos as notas a partir do
que foi citado acima. E lembrem-se (mais um ponto inacreditável), só verão as
justificativas meses depois da apuração. Creio que exista uma corrente que
acredita na quaresma das notas e que todos serão perdoados por suas avaliações
até a Páscoa.” 
Confira abaixo a análise feita por Gabriel Cascardo das notas da cabine dupla na Série A do carnaval carioca. (Clique para ampliar)

Quer participar dessa nossa coluna e ter seu texto estrelando o próximo “Da Galera”? Mande o seu arquivo para o e-mail contato@carnavalize.com ou nos mande em nossas redes sociais: Facebook e Twitter. Assim que recebermos o texto, nosso equipe o avaliará, sendo aprovado, entraremos em contato. Não perca tempo, mande-nos!

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