Por Alisson Valério e Bruno Malta
Ganhar o título de campeã de um carnaval não é fácil e no final das contas só uma vai vencer, mas isso não impede que nós tenhamos outros desfiles inesquecíveis naquele mesmo ano. Esse texto tem o propósito de exaltar desfiles que não venceram, muito pelo mérito das escolas que conquistaram os seus campeonatos merecidamente, mas que merecem ser lembrados e exaltados.
Foto: Mastrangelo Reino/Folha Imagem |
Vindo de dois títulos
consecutivos o Império de Casa Verde entrou no Anhembi em busca do
tricampeonato e levou para o sambódromo paulistano o enredo “Glórias e Conquistas
– A Força do Império está no salto do Tigre”, da comissão de carnaval liderada
por Renato e Márcia Lage. O enredo falava e contava a história dos grandes
Impérios da história da humanidade e terminava no Império do Samba para
celebrar uma era de conquistas. O desfile já começou de forma arrebatadora com
a comissão de frente, que virou uma marca da escola nos carnavais dessa época,
com uma fantasia luxuosa, impactante e com uma coreografia de muito bom gosto
que foi executada perfeitamente. Isso se estendeu a toda parte plástica da
escola, que contou com fantasias com requintes de luxo, sendo muito bem-acabadas,
além dos carros gigantes, um show à parte. O samba, que tinha a cara
da escola e do enredo, funcionou perfeitamente. Claro que isso se deve também a
garra da comunidade da escola, da sua bateria fora de série e do interprete
Carlos Junior, que deu um show com o seu time de canto. O título e o
tricampeonato não vieram, por todos os méritos do desfile campeão da Mocidade
Alegre naquele ano, mas a escola fez um desfile inesquecível para muitos e
conquistou a quinta posição no Carnaval daquele ano.
mente pura para o carnaval de 2009 em busca do bicampeonato. A escola levou
para o Anhembi o enredo “Mente sã e corpo são”, assinado pelo carnavalesco Chico
Spinoza, que contava a história da saúde mundial, mas que também criticava a
falta de saúde no nosso país: “Acorda, meu Brasil, a coisa por aqui já vai pra
lá de mal…” como dizia o samba daquele ano. Samba que causou um verdadeiro
sacode no Anhembi, de ponta a ponta, com o auxílio da pegada forte da
bateria do Bixiga e do seu time de canto liderado por Carlos Junior. A comunidade
não ficou atrás e deu o seu show característico, foi um banho de harmonia do
Vai-Vai, como já é costumeiro.
O desfile chamou muita atenção pelo enredo
crítico e pela mensagem forte, muito bem apresentada na avenida. Chico
Spinoza esteve muito inspirado na parte plástica também, dando um toque
especial ao desfile da escola. O título quase veio na última nota, mas a escola
acabou ficando com o segundo lugar. A Mocidade Alegre foi a campeã dando aquele
show particular que ela sabe fazer como ninguém. Antes mesmo do desfile, Spinoza
já tinha dito que havia vencido o carnaval só de ter conseguido levar o enredo
para a comunidade e passado várias informações sobre saúde. E o fato de ter
feito isso com louvor no desfile também, apesar de não ter vencido, tornam esse
desfile inesquecível na história do Carnaval de São Paulo.
Santos para a função de carnavalesco, o Acadêmicos do Tucuruvi vinha numa
evolução gradativa em busca do sonho de ser campeão. Em 2013, a azul e branca
encantou o Anhembi com seu belíssimo desfile sobre Mazarropi. O enredo que falava
do eterno caipira era muito delicado na abordagem e deixou o público boquiaberto pela sensibilidade. Com lindas alegorias e fantasias, a escola da Zona Norte
emocionava quem assistia. Além do bom enredo e do ótimo conjunto visual, o
samba conduzido pela primeira – e única vez na escola – por Igor Sorriso era
brilhante. Com versos doces e divertidos, a obra ainda fazia referência a Dona
Edna, esposa do presidente da escola, que faleceu na preparação do Carnaval
daquele ano. Era de arrepiar! A Mocidade Alegre, com todos os seus méritos e
sua competência habitual nos quesitos, venceu o campeonato de maneira justa,
mas a lembrança eterna do Carnaval 2013 é do Zaca! A escola encontrou o seu
final feliz.
2015
Mocidade Alegre entra em 2015 diferente do que estava acostumada. Com muita
expectativa e o sonho do inédito tetra, a Morada apostou em Marília Pêra para
seu enredo, sendo uma aposta certeira. Com muita beleza, os carnavalescos Sidnei
França e Márcio Gonçalves apresentaram um dos mais brilhantes trabalhos
plásticos que o Anhembi já viu. O enredo foi brilhantemente contado não apenas
na plástica, mas também no ótimo samba da escola que foi defendido com a
competência habitual pelo intérprete Igor Sorriso e por toda comunidade do
bairro do Limão. O tetra escapou nos detalhes e a escola terminou em segundo, o
que reafirma o mérito da grande campeã Vai-Vai que levou uma belíssima
homenagem a Elis Regina para o sambódromo naquele ano, emocionando, inclusive,
Marília Pêra. Por tudo isso, temos que aplaudir essa mulher guerreira que fez a
Mocidade ser Marília Pêra.
https://www.youtube.com/watch?v=DiRljDoAox8
2017
que marcaram a história do Anhembi, também temos as duas
“quase-campeãs” na era do sambódromo. Em 2002, a X-9 Paulistana,
falando sobre o papel, fez uma apresentação irretocável e conseguiu a pontuação
máxima do júri. Só que a escola da Parada Inglesa estourou o tempo e perdeu 6
pontos, terminando, apenas, em 9º lugar na classificação final. Sem o estouro, a
X-9 seria a campeã dividindo o título com os Gaviões da Fiel com 200 pontos. Em
2013, algo parecido aconteceu com o Águia de Ouro. A escola da Pompeia, que
levou João Nogueira para a pista. fez uma incrível apresentação e conseguiu uma
pontuação perto da perfeição para o júri (269,8 de 270 possíveis), mas o
estouro de 1 minuto e a punição em 1,1 fizeram a escola da Zona Oeste terminar
em terceiro lugar atrás da campeã Mocidade Alegre por dois décimos. Sem o
estouro, o Águia teria vencido o Carnaval com nove décimos de vantagem para a
segunda colocada.
Falar de outros desfiles que marcaram um Carnaval mesmo sem vencer só mostra e exalta o equilibro do Carnaval de São Paulo e não desmerece aquele desfile que venceu aquela disputa, mas sim reafirma a força e competência da apresentação do desfile campeão daquele ano. A coluna de hoje termina aqui, mas fique de olho no site para conhecer ainda mais do Carnaval do Anhembi nas próximas semanas!