#ORGULHO: 8 personalidades LGBTQIA+ fundamentais ao carnaval e à arte

Por Equipe do Carnavalize, os Carnavalizers:

Festa máxima da transgressão de regras e da superação da normatividade, o espírito do carnaval é livre e diverso. Não à toa, entre plumas e paetês, muitas personalidades que romperam com os padrões heterossexuais e cisnormativos encontraram espaço na folia para expressar variadas formas de existir, de viver, de se expressar e de amar. No dia do orgulho LGBTQIA+, listamos algumas figuras da cultura e da arte nacional que representam a comunidade com múltiplas vivências e também escreveram – e escrevem! – as linhas do carnaval. Vem ver o que existe para além do arco-íris!

Madame Satã 
João Francisco dos Santos ou, como se eternizou em nosso imaginário popular, Madame Satã, foi pessoa multiartista e pioneira na luta pela diversidade. Cantor, dançarino e malandro, para alguns, João fez questão de desconstruir desde sempre a visão que o gay deve ser indefeso e submisso. Nasceu em Pernambuco, mas foi na mística Lapa carioca que se tornou rainha e firmou seu ponto.

Figura onipresente no cenário artístico do Rio, Satã imortalizou-se como figura indispensável na construção identitária da cidade e, por conseguinte, dos desfiles das escolas de samba. Foi no carnaval que ele vestiu a fantasia inspirado no filme Madame Satã que o rebatizaria para sempre. Por isso, teve representação garantida em diversos apresentações que abordam desde a cidade do Rio de Janeiro até causas que evocam sua importantíssima representatividade no movimento LGBTQIA+. Em 1990, foi enredo da Lins Imperial e, em 2002, inspirou o filme de Karim Aïnouz, protagonizado por Lázaro Ramos.

Fernando Pinto 
Foi
com apenas 24 anos que Fernando Pinto deixou o Recife para vir ao Rio
de Janeiro tentar seguir carreira no teatro. Em meio à efervescência
cultural carioca dos anos 70, viveu o auge do desbunde e da
marginalidade daquela época como poucos. Quando se apaixonou pela folia,
ofereceu-se para ser carnavalesco do Império Serrano e na escola de
Madureira fez sucesso com enredos ligados à cultura de massa. Livre no
amor e  subversivo, participou do grupo andrógino Dzi Croquetes, um
marco revolucionário pela diversidade diante da ditadura.

Foi diretor,
cenógrafo, coreógrafo, roteirista e figurinista das libertárias As
Frenéticas. E nos anos 80, criou seus desfiles mais emblemáticos na
Mocidade Independente de Padre Miguel, consolidando-se como um dos
maiores artistas do carnaval, com enredos delirantes e que bebiam
referências do movimento tropicalista.

Leci Brandão
Leci Brandão é uma das mais importantes figuras da música popular brasileira. Nascida em Madureira, criada em Vila Isabel, foi a primeira mulher a participar da ala de compositores da Mangueira. Além da verde e rosa, ela dedica sua paixão também pelo Acadêmicos do Tatuapé, sendo madrinha da agremiação desde que foi homenageada por ela, em 2012. Na década de 1980, foi uma das primeiras famosas cantoras a abrir publicamente a sua homossexualidade, em entrevista para o pioneiro periódico LGBT Lampião da Esquina.

Politicamente ativa, é um importante nome do Partido Comunista do Brasil, eleita por três vezes deputada estadual de São Paulo com mais de 60 mil votos. Em suas carreiras pública e artística, é voz forte na luta pela diversidade racial e sexual e contra a desigualdade social. No carnaval, ainda foi importante comentarista dos desfiles cariocas e paulistas em várias ocasiões. No samba-enredo campeão da Mangueira de 2019, foi homenageada nos versos “dos Brasis que se faz um país de Lecis, Jamelões”.

Eloina dos Leopardos 
Eloina dos Leopardos pode ser considerada como a primeira mulher a ter o cargo de rainha de bateria no carnaval carioca. Muito antes de outras figuras que reivindicam o título, ela assumiu o posto de soberana dos ritmistas da Beija-Flor, entre 1976 e 1978, convidada pelo carnavalesco Joãosinho Trinta. Eloína começou sua carreira como camareira de grandes estrelas do teatro de revista e foi uma das pioneiras da arte transformista no país, fazendo parte de uma geração de Divinas Divas.

Como muitas trans da época, Eloina fez carreira na Europa e voltava ao Rio para desfilar. Foi inspirada na noite estrangeira que, na década de 80, criou o lendário Show dos Leopardos, recheado de strip-tease masculino. Contra as expectativas caretas da época, o show tinha apenas duas sessões programadas, mas ficou mais de 10 anos em cartaz, atraindo as mais diferentes personalidades brasileiras e internacionais, tornando-se um marco da liberdade artística e afetiva.

Milton Cunha 
 Milton
Cunha é referência absoluta quando se pensa em carnaval. Sua forma
alegre e divertida de comentar os desfiles das escolas de samba na TV
Globo conquistou o grande público nacional, de Norte a Sul do país.
Antes disso, o menino nascido em Belém rompia com os rótulos da
heteronormatividade desde a infância, enquanto crescia fascinado pelas
cores da folia na televisão. Contra a sua família, pegou um “Ita no
norte” rumo ao Rio de Janeiro e desembarcou no centro da cidade, com
pouco dinheiro no bolso para tentar a vida.

Em 1994, foi convidado pela
família Abraão David para assinar o desfile da Beija-Flor, por onde
ficou por 4 anos. Depois, passou por diversas escolas e deixou sua marca
com enredos de forte cunho cultural e criativas narrativas. Dentre suas
variadas facetas, também está a do intelectual e acadêmico. Milton é
mestre e doutor em Letras pela UFRJ e pós-doutor em História da Arte
pela Escola de Belas Artes da mesma instituição.


Mart’nália
Nascida
em berço de samba, Mart’nália é percussionista de mão cheia,
compositora e cantora com swing único. Do seu nome nome artístico,
junção de Martinho + Anália, nome de seus pais, reconhecemos a genuína
sonoridade que sempre a caracterizou como artista.

Filha de um dos
orixás da MPB, Martinho da Vila, foi com ele que começou a frequentar o
terreiro do povo de Noel, local em que aprenderia a tocar quase todos os
instrumentos de ritmo. Sendo integrante ativa da ala de compositores da
Vila Isabel, já venceu disputas e é figurinha carimbada dos desfiles da
azul e branco do boêmio bairro carioca.

Joãozinho da Gomeia
Joãozinho
da Gomeia foi atuante pai de santo, disseminador da cultura e dos ritos
do Candomblé entre o cotidiano e as artes do Brasil. Nascido em
Inhambupe, na Bahia, João se mudou para Salvador antes de consolidar seu
terreiro em Duque de Caxias. A liderança gay ficou conhecida por
atender famosos e personalidades políticas e também por ter uma forte
veia artística e performática, trazendo todo o glamour e brilho para as
suas roupas de santo.

Folião entusiasta, confeccionava suas próprias
fantasias e impactava os bailes mais famosos do Rio de Janeiro ao se
vestir de Vedete e Faraó. Ele foi o grande homenageado da vice-campeã do
carnaval de 2020, a Acadêmicos do Grande Rio. A escola exaltou sua
figura em diversas facetas para entoar um grito de respeito à
diversidade e às variadas formas de demonstração da fé.

Jorge Lafond 
Jorge Lafond foi ator e comediante; também exímio dançarino e Drag Queen. Formado em teatro pela UFRJ, deixou seu corpo se expressar na arte de atuar e executava com excelência um bailado de quem estudou ballet clássico, dança africana e viajou país afora como integrante do grupo folclórico de Haroldo Costa. Graças a esse talento, integrou corpos de baile na televisão e papéis em novelas e humorísticos. Seu mais famoso personagem, Vera Verão, fez jus ao calor da estação emprestada ao nome, tamanha era a potência de sua entrega e da capacidade de nos alegrar.

No carnaval, desfilou em inúmeras escolas do Rio e de São Paulo, além de ter sido rainha de bateria da Unidos de Lucas em 2003. Em 1990, na Beija-Flor, marcou época desfilando pelado em “Todo mundo nasceu nu”, de Joãosinho Trinta. O ícone também já deu nome a um prêmio aos melhores do carnaval entregue pela Acadêmicos do Cubango.

MANIFESTO

O carnaval sempre é vendido como a festa da diversidade. Precisamos lutar, entretanto, para que o ambiente das escolas de samba não seja racista, machista e LGBTfóbico durante todo o restante do ano. Ainda faltam minorias sociais em papéis de liderança nos cargos criativos e de tomada de decisão. Elas precisam estar presentes nos mais variados setores da festa, e não apenas se encaixarem em rótulos já determinados historicamente. Devemos lembrar, então, da importância de figuras LGBTQIA+ que fazem e fizeram as festas, as quais ainda precisam ser mais valorizadas nas quadras e nos barracões.

Todo dia é dia de se orgulhar de ser quem é! De repensar, de agir!

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