Com um certo atraso (ninguém está livre de salgueirar), hoje chego aqui para contar para vocês, amados carnavalizadores, o que cada escola que desfila no sábado de carnaval pelo Grupo Especial Paulistano levará para o Anhembi.
É bacana sempre lembrar à vocês que o título “carnavanálise” é apenas uma brincadeira. Não há aqui a intenção de fazer uma análise minuciosa dos enredos de cada escola. Levamos à vocês apenas breves comentários e explicações sobre todos eles, ok?
Sem mais delongas, bora falar de carnaval!
“Zé do Brasil, um nome e muitas histórias”
Mancha Verde
A perseguida que jamais calarão volta novamente ao Grupo Especial para provar pela enésima(?) vez que ali é o seu lugar. É bom falarmos que os dois rebaixamentos da Mancha foram extremamente injustos, e por isso a permanência dela após subir se torna mais complicada, pois a impressão que temos é de que a escola é “visada”. Mas diferente de 2015, em 2017 ela abrirá o segundo dia de desfiles – o que teoricamente aumenta suas chances – já que levou o caneco pra casa no acesso em 2016.
Nessa luta para permanecer é no José que a Mancha bota fé! Nos Josés, aliás. Serão vários no desfile da escola, desde os Josés mais famosos da história até os Josés desconhecidos, mas que também tem o seu valor. O enredo é interessante, mas pode ficar melhor dependendo da forma que for apresentado. E é de Magoo, que vem apresentando bons trabalhos, principalmente no quesito alegoria, a responsabilidade de desenvolver o enredo. É bom ele estar inspirado, pois aparentemente o ano de 2017 vai ser uma bela briga de cachorros grandes – Águia de Ouro que o diga – no principal grupo do carnaval paulistano. Ah, aproveitando para chamar a atenção:
“A Peruche no maior axé exalta Salvador, cidade da Bahia,
caldeirão de raças, cultura, fé e alegria!”
caldeirão de raças, cultura, fé e alegria!”
Unidos do Peruche
Já a Peruche foi buscar a capital da Bahia para ser seu enredo. Não pense que é patrocinado, pois não é. Aliás, mesmo que fosse, é aí que vemos uma boa diferença da cidade de Salvador para outras capitais do Brasil: mesmo que o tema fosse patrocinado a escola não precisaria forçar a barra. É cultura do início ao fim.
O enredo começa de uma forma linda, com a lenda do amor de Moema por Caramuru, passa pela formação do brasileiro, a força do povo baiano, a fé, até chegar no carnaval – coisa que une as duas cidades. Não dá pra achar um enredo como esse ruim, né? Bola dentro da Peruche. O desfile será assinado por Murilo Couto pelo terceiro ano seguido e por Gal, estreante.
Já que o carnaval de Salvador vai ganhar um grande destaque…
“Paz. O Império da nova era”
Império de Casa Verde
A terceira escola da noite será a grande campeã de 2016. E se a Mancha tem o Magoo, o Império tem o Mago. RSRSRS Pelo segundo ano seguido, Jorge Freitas é o carnavalesco do tigre. A aposta dele para o ano de 2017 – engana-se quem pensa que é novamente um enredo sobre conto de fadas – é a paz como tema. Aliás, muito pertinente, não é? Afinal, se tem algo que mancha não só o mundo, como também o carnaval de São Paulo nos dias de hoje é a falta dela. Jorjão vai então chamar a pombinha pra se unir ao tigre e clamar pela paz:
#iconic
Infelizmente, a escola não divulgou a sua sinopse. Aliás, fica aqui o nosso protesto! O público tem o direito de saber o que cada escola prepara para levar à avenida. São atitudes como essa que fazem pensarmos que o carnaval é feito para os jurados, quando deveria ser feito para eles e também para o público. #VemPraRua
Mas enfim, o tema tem tudo para dar certo. Devo dizer que, para mim, é a cara do Império. E já que a escola de samba além de nos alegrar sempre nos passa uma mensagem, que a mensagem da atual campeã cause reflexão a quem a assiste passar no sábado de carnaval. Que dias melhores venham!
“Dragões canta Asa Branca”
Dragões da Real
Saindo da antiga caçulinha e indo para a atual, a Dragões após comemorar seus 15 anos em 2016 virou mocinha e agora, aparentemente, vai mudar um pouco do seu estilo. O discurso da escola é de que agora o dragão está mais amadurecido. Se antes os enredos com foco na ilusão e no mundo infantil eram muito recorrentes na escola, para 2017 algo mais brasileiro é a bola da vez. Foi no hino antológico de Luiz Gonzaga, Asa Branca, que a Dragões viu uma boa chance para mostrar uma outra cara. E que aposta, não é? O nordeste já foi contado de diversas formas, tanto no Anhembi quanto na Sapucaí, mas a gente sempre se encanta com enredos que seguem essa temática. E nos encantamos mais ainda quando ele é mostrado de uma forma diferente do que já havia sido apresentado. A ideia de mostrar o nordeste através dos versos de Asa Branca é linda e uma grande sacada.
Se o grande destaque da Dragões era a plástica, agora este trunfo dela se une a um enredão e, permita-me dizer, um samba lindíssimo. Mas sobre isso a gente conversa melhor mais pra frente.
“No Xirê do Anhembi, a Oxum mais bonita surgiu… Menininha,
mãe da Bahia – Ialorixá do Brasil”
mãe da Bahia – Ialorixá do Brasil”
Vai-Vai
E já que o assunto é lacre, vamos abrir o caminho pro Vai-Vai passar… Esse, seguramente, é um dos melhores enredos do ano. E, mesmo que a escola do povo tenha o brilhante Alexandre Louzada como carnavalesco, nesse tipo de enredo nem é necessário um recorte tão “diferentão”, pois ele já é maravilhoso por essência. Se nesse ano a escola apostou na França, para o ano que vem a ideia é cheia de axé. Mãe Menininha do Gantois, a grande Yalorixá do Brasil, será exaltada pelo Bixiga.
Falando em essência, o Vai-Vai tem na sua muito da África. É uma escola que casa muito bem com a negritude, pois é parte dela. Claro que todas as escolas carregam consigo a negritude – que é a responsável pela criação de tudo o que elas representam – mas umas tem mais ligação, outras menos. Não posso deixar de mostrar meu entusiasmo com a proposta da Vai-Vai. É uma das favoritas, como sempre!
Que a energia de Mãe Menininha melhore um pouco a da escola, afinal a agremiação vem passando por alguns problemas nesse pré-carnaval. É um desejo nosso e principalmente do Louzada (desculpem, a gente tem que meter uma piadinha em algum lugar. É o nosso jeitinho):
“Coré Etuba. A ópera de todos os povos, terra de todas as
gentes, Curitiba de todos os sonhos!”
gentes, Curitiba de todos os sonhos!”
Nenê de Vila Matilde
Depois da maior campeã do carnaval paulistano, virá a segunda escola que mais vezes levantou a taça por lá. A Nenê de Vila Matilde vem tentando resgatar seus bons tempos, mas é curioso que em contrapartida acaba optando por temas bem controversos. Curitiba foi a escolha da águia guerreira. O enredo, diferente do da Peruche, é patrocinado, e Curitiba, diferente de Salvador, não tem uma cultura tão marcante para nós como a capital da Bahia. A escola não divulgou a sinopse também, sendo assim, fica mais difícil ainda cada um de nós formarmos nossa opinião sobre o tema. Nos priva de continuar com o pé atrás com ele ou até mesmo mudar nossa visão.
O próprio carnavalesco, Alex Fão, que estreia como solo numa escola do Grupo Especial, disse que as pessoas iriam se surpreender com a visão sobre Curitiba que a escola vai mostrar. E realmente, aparentemente, analisando pelo título, surgiu algo bacana desse enredo. Pelo menos, melhor do que poderíamos imaginar. Mais um motivo para lamentar a não divulgação da sinopse.
A gente torce muito para que os vôos da Águia mais tradicional de São Paulo voltem a ser mais altos e estamos torcendo muito para levar aquele tapa na cara gostoso da Nenê, assistindo um desfile lindo sobre a capital paranaense.
“Convivium. Sente-se à mesa e saboreie”
Rosas de Ouro
E pra fechar o carnaval de São Paulo de 2017, a Rosas de Ouro vai preparar um banquete pra geral. O André Machado, novo carnavalesco da escola, é bonzinho demais, então diferente de CERTAS ESCOLAS QUE NÃO DIVULGAM SUAS SINOPSES, ele divulgou uma sinopse E TANTO! Inclusive temos imagens do livrinho que a escola entregou para os compositores:
Mas falando melhor do enredo, a escola se propõe a mostrar banquetes marcantes da história em diversas civilizações e termina com uma crítica social sobre a fome, afinal, como dizia a Viradouro, “tem uns que vivem pra comer… tem gente que só come se sobrar”. O enredo é muito bom e a crítica no final eleva mais ainda seu nível.
É bom lembrar também que a última vez que a Rosas de Ouro desfilou no amanhecer foi no inesquecível Mar de Rosas, em 2005, onde o céu ficou azul e rosa – as cores da escola – enquanto a Roseira passava. Sabe-se lá porque, a escola terminou fora do desfile das campeãs mesmo tendo feito um dos maiores desfiles de todos os tempos da folia paulistana. Temos certeza que o pessoal da Freguesia do Ó quer reviver isso. Quer dizer, quer reviver o desfile marcante com o céu azul e rosa, né? O resto eles passam.
Bem, minha missão de lhes contar quais os enredos passarão pelo Anhembi na sexta-feira e no sábado de carnaval em 2017 está cumprida. E pra vocês, qual o melhor enredo? Qual o pior? Conta aí nos comentários pra gente.
Fico por aqui! Não chore não, viu? Que eu voltarei, viu?
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