Relicário de Memórias | O seu olhar vou iludir…


Depois de dois textos que explicito alguns dos momentos mais marcantes que vivenciei na Marquês, resolvi mudar um pouco as tangentes desta coluna dominical. Dissertarei, opinarei e mais algum qualquer verbo terminado no futuro do indicativo sobre desfiles pré-escolhidos por mim (e, principalmente, por vocês). E não teria um outro desfile melhor para iniciar esses relatos que pretendo escrever. A priori, escolherei apenas este desfile e os próximos vocês escolherão, por aqui (nos comentários), no nosso Twitter ou, até mesmo, pelo nosso facebook. Tentarei passar uma visão “leiga”, torcedora e singular do que vivi e senti ao lembrar dos desfiles, sempre falando de qual lugar assisti ao desfile. Esse de 2010, por exemplo, foi do termômetro da Sapucaí, o famoso Setor 1.

Foi no domingo. Domingo, isso mesmo. Foi do domingo que saiu o desfile da década, do dia que, hoje em dia, nem o carnavalesco mais medalhão quer desfilar. Pode-se dizer que só fazendo mágica, uma escola levaria neste dia, e foi isso que fez a Tijuca. Mágica, magia. Ilusão. Fez história. É inesquecível para quem estava lá como eu, quem viu pela tevê e, digo mais, foi tão incrível, que até alguém, se acompanhasse pelo rádio, não se esqueceria; Rascunharei um pouco sobre o dia de domingo, em si, até chegar a apoteose do dia (o trocadilho, perodem-no).

A tricolor insulana subira após oito longos anos injustos até voltar e permanecer no pantheon do carnaval carioca até os dias de hoje, com o enredo “Dom Quixote de La Mancha, o cavaleiro dos sonhos impossíveis”. E o fez, nada mais nada menos, com Rosa Magalhães, em um desfile super agradável, com fantasias e alegorias perfeitamente acabadas (como é de praxe da professora), superando, na quarta-feira de cinzas, o México vermelho e branco de Niterói – que também será lembrada aqui. Não entrarei em muitos detalhes dos desfiles que antecederam o escolhido para não alongar muito o relato. 

Após o levíssimo e alegre desfile da Ilha, que ressuscitava suas origens e principais características eternizadas em seus atemporais desfiles, veio a Imperatriz. Com o tema “Brasil de todos os Deuses”, num desfile problemático, todavia, com poucos belíssimos nuances plásticos visuais. Com o gigantes carros e, um deles até acoplado, deram diversos problemas de manobras e locomoção atrapalhando demais a evolução, numa noite em que a harmonia também não foi lá essas coisas. Vale lembrar que o sambaço, meu preferido no CD – tirando o salgueirense, claro – não rendeu nem perto do esperado para aquela belíssima obra.

E lá vinha o azul pavão e amarelo ouro tijucano que escreveu o nome de Paulo Barros na história (posso falar isso, né!?). Eu, que engrossava o mar de bandeirinhas tijucanas distribuídas pelo Setor 1, já balançava anestesiado aos gritos de “É campeã!” apenas com o esquenta da Pura Cadência antes de ir pro recuo, o Setor 1 tem dessas… Risos. Uma escola, entretanto, que arrancou gritos desse tipo apenas com a bateria e a maravilhosa Dama da Máfia, Adriane Galisteu, não estava vindo para brincadeira, né!?



Eu ainda não havia participado dessa profecia em forma de coro. Admito. Àquela altura, ainda havia, em meu peito, a esperança da minha escola, também tijucana, bater o Tambor novamente e se sagrar bi-campeã! Mas… Por pouco tempo! A bateria ia indo pro recuo, e começava a entrar aquele elemento alegórico da comissão, a principio, estranho, mas intrigante. Ao fundo, já se via aquele fantástico abre-alas, a Biblioteca de Alexandria em chamas. Estava ali a iminência do momento mais fantástico que presenciaria de um desfile. O que foi aquela comissão de frente? Me lembro até hoje, olhava pra minha vó, olhava pra Marquês, pra minha vó, pra Marquês. “Tá vendo!?”, “É isso mesmo!?”, “Como assim?”. Eles diziam no samba que meu olhar iludiriam e não é que o fizeram? Os integrantes daquela histórica comissão trocavam seus figurino seis, SEIS, S-E-I-S vezes durante a apresentação. A essa hora, o ditado popular ganhava vida e se a voz do povo é a voz de Deus, o Setor 1 acabava de sacramentar, novamente, a escola campeã de 2010.


Se aquela comissão de frente já deixou o Sambódromo pegando fogo, o abre-alas tijucano consolidou o fato, numa alegoria espetacular, o incêndio era retratado de forma incrível, dezenas de turbinas de ventilador e máquinas de fumaças davam um cenário genial. A segunda alegoria não ficava nem um pouco para trás, a alegoria representando os jardins suspensos da Babilônia contava com milhares de  mudas de plantas naturais, era linda. Ou melhor, é linda. A terceira alegoria representando os segredos da arqueologia também era bastante interessante. Outro ponto alto – o que já se torna, um tanto quanto, pleonástico ao se falar desse desfile – é o grande Cavalo de Troia. Os grandes heróis “esquiando”, acho que o Homem-Aranha escalava, faz mais sentido. E, é claro, que The King of Pop não ficaria de fora, o misterioso Paulo Barros fez questão de representar seu ídolo, fazendo o Moonwalk ao relembrar da conhecida, todavia misteriosa Área 51 americana.

Admito, não lembrava muito das fantasias em si. A não ser a aquela que, para mim, fora a mais a interessante e criativa, o Triângulo das Bermudas, mas revendo o desfile, percebi muitas outras interessantes demais, como as que representava a Área 51 e o Túmulo da Cleópatra. Já falei, lá acima, sobre a fantasia da rainha de bateria, entretanto, não havia comentado da impactante coreografia da bateria, vestidos de chefões da máfia, fazendo com que se abrisse um espaço para subido do tripé, um carro antigo, dando o realce merecido para que a rainha comandasse sua trupe rítmica. Apesar de não ter comprometido em nada, ao meu gosto, a Pura Cadência comandado pelo Mestre Casagrande passou um pouco acelerado (à época, admito, novamente, não ter me incomodado, não sabia diferenciar surdo de caixa, mas hoje em dia, percebo que passou freneticamente… rs).

Esse texto ficou um pouco extenso, mas não que queira manter isso para os outros, fiz desse jeito para que demonstre bem a maneira que quero seguir com essas. Para meus próximos relatos, gostaria que vocês escolhessem os desfiles, estou na Sapucaí desde 2008. De 2008 à 2016, podem escolher o desfile que queiram desse período. Mandem-nos aqui pelo comentários do site, pelo nosso twitter, pelo meu twitter pessoal, por onde quiserem. Espero que tenham gostado desse novo modelo, talvez tenham percebidos algumas conjugações acerca desse desfile no presente, acredito que desfiles como esses eternizam-se, suspiram e vivem até hoje. Foi segredo… E tornou-se história!

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