Por Leonardo Antan e Felipe Tinoco
A “Série Enredos” tá dominando o site no mês de maio, com textos novos sempre às quartas e sextas. Fique ligado!
Junto a isso, com a chegada dos anos 2000, veio a onda de enredos CEP patrocinados, então as agremiações começaram não só a viajar pelas cidades brasileiras mais inusitadas, mas também pelos mais variados cantos do mundo. É uma tendência tão recente que todos os desfiles da lista são apenas dos últimos quinze anos. Por isso, são apresentações que quase todo mundo lembra. Vem viajar com a gente!
França – Grande Rio 2009 e Vai Vai 2016
Reprodução site Liesa |
O enredo se focou nesse diálogo entre aqui e lá, viajando pela invasão de Villegagnon, as influências da Revolução Francesa e o carnaval de Nice. A apresentação assinada por Cahê Rodrigues em seu ano de estreia na tricolor de Caxias garantiu a quinta posição para a escola. Anos depois, o país ganhou o Anhembi com o desfile da tradicional Vai Vai, com enredo assinado pela consagrada dupla de carnavalescos Renato e Márcia Lage, que apresentaram os aspectos mais conhecidos do país.
América Latina – Vila Isabel 2006
A apresentação foi embalada por um samba mediano, mas defendido com garra por Tinga e a comunidade de Noel. Recém subida do acesso, a Vila Isabel surpreendeu a todos, com um grande trabalho estético de Louzada e a força da apresentação, que acabou credenciando a azul e branco para o título. Numa apuração eletrizante, a agremiação acabou superando a sua principal rival, Grande Rio, que perdeu décimos preciosos depois de estourar o tempo.
México – Viradouro 2010
Foto: Wallace Teixeira | Riotur |
Outro desfile que cantou a latinidade foi o da Viradouro. Com uma tequila e um sombreiro na mão, a vermelho e branco cantou o México e suas cores. Assinado por Edson Pereira e Junior Schall, o enredo lembrou diversas marcas históricas do país, exaltando sua rica cultura, sua fé, seus temperos, o processo de independência, a relação do seu povo com a morte e as figuras de Diego Rivera e Frida Kahlo.
A passagem da agremiação, no entanto, foi marcada por diversos problemas estéticos, e a escola acabou ficando com a posição mais baixa na apuração, caindo para o grupo de acesso. Até o carnaval de 2018, o ano de 2010 foi o último em que a agremiação que subiu – à época, União da Ilha – não ficou em último lugar.
Angola – Vila Isabel 2012
Foto: O Globo |
Voltando ao continente africano, outra narrativa não-totalizante da região veio pelas mãos de ninguém menos que Rosa Magalhães, carnavalesca pouco associada às temáticas negras. Com mais um enredo extremamente inspirado, a azul e branco mostrou que Brasil e Angola também estão ligados pela música, pela religiosidade e pelas demais heranças que transitam na negritude, proporcionada pelo tráfico de escravos, extremamente forte entre os portos de Luanda e do Rio de Janeiro.
A carnavalesca optou pelo uso de diversas estamparias do país homenageado, abrindo o carnaval com a riqueza natural da fauna e flora angolanas – lindamente retratadas em uma inesquecível comissão de frente – e fechando o desfile com o ícone comum dos dois países: Martinho da Vila. O compositor é considerado Embaixador Cultural do Brasil no país africano e realizou uma ponte musical relevante entre as duas nações, disseminando a música brasileira em Angola e a música angolana no Brasil. A agremiação, com um excelente samba-enredo, foi a última a desfilar no domingo de carnaval, saindo aclamada por crítica e público, conquistando o terceiro lugar daquele ano, além de seis prêmios do Estandarte de Ouro – inclusive para desfile, enredo e personalidade para Rosa Magalhães.
Suíça – Unidos da Tijuca 2015
Foto: Christophe Simon |
Foi o primeiro carnaval da Comissão formada após a saída de Paulo Barros, que ajudou a conquistar três títulos para o Borel. O enredo fez um passeio burocrático sobre a cultura e história da região homenageada, no melhor estilo atlas e guia de turismo. Numa tentativa de ligação com o Brasil, a narrativa ganhou o fio condutor de Clóvis Bornay, que tinha relação com o país através de seu pai. O samba não empolgou tanto, mas a plástica foi competente e faturou um ótimo quarto lugar para a azul e amarelo naquele ano.
Marrocos – Mocidade 2017
Foto: Jornal Extra |
A comissão de frente de Jorge Teixeira e Saulo Finelon, feito um teatro de ilusão, foi um dos grandes trunfos e encantou a todos com a perseguição a Aladdin e seu tapete mágico, que sobrevoou a Avenida com um drone. O enredo foi um pouco criticado por não exatamente tratar do Marrocos, mas propor uma grande mistura de elementos famosos da cultura árabe, o que acabou dando tom mais familiar e lúdico ao tema. O último carro encerou o carnaval com uma miragem em que o “Saara de cá” – a bateria Não Existe Mais Quente – se encontra com o deserto do “Saara de lá”, sob a batucada do tambor de Xangô. Como propõe o lindo samba que acabou guiando o desfile da Estrela Guia, o orixá conheceu Alah e a Mocidade terminou a quarta-feira de cinzas com um grandioso vice-campeonato, mas se sagrou campeã do carnaval ao lado da Portela após a divulgação das justificativas e uma polêmica divisão do título.
China – Império Serrano 2018
Foto: Fernando Grilli/Riotur |
Terminando nossa viagem, partindo rumo ao Oriente, chegamos no Império Serrano que escolheu homenagear a China após um período de oito anos distante da elite. O tema foi trabalhado pelo carnavalesco Fábio Ricardo e a agremiação desenvolveu uma proposta linear para exaltar a região. A imponência dos dragões chineses dourados abriram o desfile da agremiação, que contou com os leques, a flor de lótus, os signos religiosos, os mercados, a seda, as festas místicas, o Kung Fu Panda e outros elementos que são facilmente relacionados ao país.
Ainda que possuísse um simples porém aguerrido samba, o enredo cometeu equívocos, como a associação da Muralha da China às sete maravilhas do mundo antigo, e o Império sofreu com problemas de evolução e dificuldades estruturais e políticas no retorno ao Grupo Especial. O Reizinho de Madureira, entretanto, acabou beneficiado após a virada de mesa orquestrada pela Grande Rio, e continuará a desfilar no principal coletivo de escolas de samba em 2019.
Uma resposta
Unidos da Tijuca 2013 – Alemanha
Mocidade 2005 – Itália