SINOPSE: Beija-Flor de Nilópolis | “Quem não viu, vai ver… As fábulas do Beija-Flor”

JUSTIFICATIVA

A proposta do Carnaval 2019 da Beija-Flor de Nilópolis é uma celebração aos seus 70 anos de história, resgatando a memória do Pavilhão através de uma releitura contemporânea e fabulosa dos enredos mais marcantes da Agremiação.

Quem Não Viu, Vai Ver, e quem viu, vai novamente poder se emocionar com As Fábulas do Beija-Flor, uma coletânea das aventuras conduzidas pelo voo do Beija-Flor, animal símbolo da Escola, e o narrador-personagem dos enredos.

O embasamento e a argumentação deste projeto carnavalesco perpassam pela definição do conceito de fábula, pela relevância histórica e pedagógica do escravo grego Esopo, e pela missão do Carnaval enquanto espetáculo e manifestação cultural.

As fábulas são narrativas de fatos, imaginários ou não; fabulações cujas personagens são animais (e ainda plantas e seres inanimados) que agem como seres humanos, apresentam características humanas, tais como a fala e os costumes, e têm
como objetivo promover reflexão e propiciar ensinamentos através da moral da história.

A inspiração na obra milenar de Esopo baseia-se em uma identificação imediata, pois do mesmo modo que os preceitos morais deixados como legado por este visionário permanecem atuais e atemporais, a Beija-Flor de Nilópolis sempre revelou-se uma Escola pioneira, à frente de seu tempo.

Da mesma forma que as narrativas de Esopo se tornaram famosas ao longo da História da humanidade, os carnavais da Beija-Flor inspiraram e incitaram importantes reflexões na nossa sociedade, ambos embebidos de arte em um universo de magia e fantasia; e tanto as fábulas quanto o Carnaval são elementos populares. Sendo que o Carnaval, enquanto a mais genuína expressão da nossa identidade, também apresenta, através dos desfiles das Escolas de Samba, temáticas fictícias que têm por finalidade disseminar informação, conhecimento, cultura e entretenimento, cantadas em verso e prosa – tal qual as fábulas – através do samba-enredo.

SINOPSE

Uma lágrima sentida caiu dos olhos da Vovó, lembrando imagens de crianças e do velho tempo que passou. Olhem o céu que maravilha! Retalhos de nuvens, bordados de estrelas… Iluminada pelo sol da meia-noite, a natureza vem mostrar sua beleza.

Pela porta da imaginação, galopando em cavalos alados, chegamos ao País das Maravilhas. Recebidos por soldadinhos de chumbo, entramos na floresta onde os animais falam e as plantas cantam; tudo neste mundo é encantado!

Com o despontar da primavera, tirem do passado a nobreza, e do futuro, a magia da surpresa! Criem a mais linda fantasia, delirem no universo fantástico deste canto de emoção!

Não chore não Vovó, não chore não! Veja quanta alegria dentro da recordação! Hoje, novamente sou livre, sou criança Beija-Flor; nessa bela fantasia, brindando à vitória do amor!

Pousarei nos luxuriantes Jardins das Delícias onde repousa o gigante em berço esplêndido. Celebrarei os donos da terra, sua cultura, suas lendas e seus rituais mágicos. Lavarei a alma e matarei a sede nas águas do rio mar, acompanhado de Caruanas e Amazonas à luz do luar. Ensinarei a dádiva da preservação das nossas riquezas, que estão abaixo e acima do solo; e revisitarei diversos cantos e recantos desse torrão
miscigenado. Ouvirei ainda poemas encantados de amor; renascendo nas águas de um paraíso hospitaleiro de onde se avista o sol primeiro. Me tornarei candango e calango na
capital da esperança e, traçando o destino ainda criança, me transfigurarei em brilho de fogo sob o sol do novo dia.

Iluminado feito um festival de prata, subirei ao Orum sagrado dos Nagôs, e descortinarei a reluzente constelação das estrelas negras para resgatar as nossas diversas Áfricas: a de lá e as de cá. Guiarei um cortejo de reis, rainhas e guerreiros negros,
aqueles que romperam grilhões e carregaram nos ombros, marcados pelas chibatas, a opulência do nosso país, mas que sempre ficaram esquecidos nas savanas da memória oficial. Então, lembrarei que o mundo deve o perdão aos filhos de ébano, àqueles que sangrando pela História, foram tratados como mercadoria pela cruel ganância da escravidão.

Recordarei a grandiosidade da nossa cultura, múltipla, diversificada. Sonharei com rei e acertarei no leão. Ouvirei novamente aquela inesquecível voz de cristal encantando corações; me emocionarei com a sensibilidade da Dama das Bromélias; reviverei um tempo que passou, uma lembrança que ficou, para encontrar, lá no Cachoeiro, o Rei ainda menino e; finalmente, quando o amor invadir as almas e a magia trouxer inspiração, triunfará uma canção para embalar os corações.

Porém, entristecido, constatarei que não somos o Brasil das maravilhas. Verei que os trabalhadores mais humildes continuam carregando o peso descomunal dos impostos, enquanto os “donos do poder” se esbaldam em farras bancadas com dinheiro público. Serei mais uma vez o porta-voz dos excluídos contra as mazelas que corroem as nossas riquezas, por que faz parte da minha missão.

Retirarei das imensas lixeiras desse país, restos de luxo, convocando o povo para um grande Bal Masqué. Fazendo, da própria angústia, um grito de desabafo: ratos e urubus, larguem nossas fantasias! Chega de ganhar tão pouco, chega de sufoco e de covardia! Parem com essa ganância, pois a tolerância pode se acabar um dia! Oh! Pátria amada, por onde andarás? Seus filhos já não aguentam mais! É bem verdade, Vovó, que de lá pra cá, tudo se transformou. Mas a vitória da folia ficou no encanto do meu povo, que brinca sambando quando samba a Beija-Flor!

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