SINOPSE | Lins Imperial 2021: Mussum pra sempris – traga o mé que hoje com a Lins vai ter muito samba no pé!

Texto-mestre, ou sinopsis
Dizem que, quando o menino, preto retinto, nasceu com cara de quem tem fome aqui no Morro da Cachoeirinha, veio um anjo atrapalhado, desses que vivem se escorregando pelo caminho, desengonçado, que disse: Vai, Carlinhos! Ser estrela na vida! E o garoto foi. Desajeitado, mas foi. Entre cambalhotas, tropeços e acertos, mas foi. Tudo para ele virava espetáculo. Tanto que ele não era apenas um. Carlinhos era vários!
E o garoto, muito travesso, debandou com tantas pernas por aí, sempre a se aventurar. Não parava num canto. Escorregava daqui. Escorregava dali. Escorregava acolá. Era difícil de segurar Carlinhos! Preto sabido, driblou a miséria, cortou na mão as dificuldades que a vida lhe impusera. De verdade, meu cumpadi, não tinha tempo ruim para ele! Até porque sabia tirar proveito de tudo para viver, por alguns instantes, em céu de brigadeiro! Eita, menino arteiro!
Um dia, o mé, que bota a gente comovido como o diabo gosta, fez Carlinhos sair perambulando pelo subúrbio carioca. E no meio do caminho do garoto tinha um bloco. Tinha um bloco no meio do caminho do garoto. Era o União da Guanabara, com tanta gente com cara de fome que nem ele, improvisando no visual e na percussão. Foi ali, rapaziada, que o guri da Cachoeirinha viu no samba uma possibilidade de ser estrela na vida. Carlinhos, daí em diante, nunca mais se esqueceria deste dia. Nunquinha! Porque descobriu ser pé de valsa, cortejando feito mestre-sala. Porque descobriu que também era mestre-sala na arte da música de se reinventar, levando jeito para tocar, de forma incomum, um velho reco-reco cavado num gomo de bambu. 
É, o moleque era atrevido! Tão atrevido que não demorou pra como Carlinhos do reco-reco ficar conhecido! Que ironia, né?! Ganhou o apelido de um instrumento que, em suas mãos, virava ouro, deixando de ser considerado da ralé! E logo não tardou para ele mesmo fazer seu reco-reco, com metais, parafusos e mais o que se tinha por perto. Mas a protagonista da parada era a mola. Ela, igualzinha a ele, ora! Que encolhe, estica, parada não fica, balança, mas não cai! Ui, ui, ui, papai!
Carlinhos, nessa bagaça, embarcou no bonde do samba e conheceu, pelas bandas de uma tal Praça, o Clube dos Baianos, onde deixou de ser um simples frequentador para começar a virar um artista que tira o seu ganhapão tocando. A admiração pelo talento de Carlinhos era tanta que fez com que ele ali mesmo fosse parar num tal de Modernos do Samba, que depois virou Originais. Neste grupo, meu cumpadi, só tinham os de fé, os geniais!
E o sucesso foi chegando, no sapatinho, como: contando sobre a nêga Tereza, que deixou de pista um malandro, indo dar uma sambadinha lá no morro com outro fulano; tirando sarro da cuíca da vizinha Maria, que adorava um sururu na esquina com o Peru; e entregando que, de tanto glup glup pra lá, glup glup pra cá, acabou acontecendo uma Tragédia no Fundo do Mar!
Enfim, o rapaz, danado que só, destaque no grupo, foi ganhando mansamente os palcos da vida e do mundo, mundo, vasto mundo.
Carlinhos, como um bom batedor de pernas que era, também foi dar um rolé em Mangueira, pelas vielas da favela! Ele era gente da gente! Gostava de dar perdido principalmente nas biroscas que tinham no Buraco Quente! Onde vista assim do alto mais parece um céu no chão, pisou miudinhosobre folhas secas e até foi parar no quintal de Dona Neuma! Lá, aprendeu que madeira de dá em doido é jequitibá! A partir de então, do Morro de Mangueira, não queria mais arredar o pé, não!
O moleque, rapaziada, acabou ainda se apaixonando por uma tal de Primeira Estação! Carlinhos dizia que era um sentimento tão grande que nem cabe explicação! Daí, varava as noites na Cerâmica, fazendo amizade com tantos bambas consagrados. E também não perdia a oportunidade de mostrar na quadra da Velha Manga que entendia do riscado! E escola de samba ensina… Ah, como ensina! Deixou na memória de Carlinhos marcado o Mundo Encantado de Monteiro Lobato e toda poesia e verdade do Reino das Palavras de Carlos Drummond de Andrade! Como dizem, torcer para a Mangueira é o a-a-a-ço! Imagina só: Quanto orgulho o rapaz não tinha de ter participado dos desfiles a esses escritores que deram à Estação Primeira campeonatos?!
Ah, e sabe quando, mesmo sem querer querendo, você vira de uma família membro e até apelido acaba tendo? Foi justamente isso que aconteceu com Carlinhos! Ele ficou todo prosa, pois agora era filho da Manga Rosa! E embalado pelo som dos tamborins e o rufar do tambor que cortavam a manhã, percebeu que era Mangueira, sim! Pra hoje, pra sempre e até pra Amanhã!
E pernas pernas pernas. Nas suas andanças, Carlinhos foi até parar nas telas. De um jeito atabalhoado, sempre com a cara assustada e os olhos esbugalhados, caiu nas graças do povo! E ele era realmente muito engraçado! Todos queriam vê-lo de novo e de novo e de novo! Mas ora, ora, quem diria! O rapaz que para ator achava que não levava jeito nenhum, ganhou de Grande Otelo até o apelido de Muçum – peixe escorregadio, difícil de pegar, que se adapta em qualquer lugar! E se não bastasse de aventuras isso tudo, com seus ezis e izis, foi parar na Escolinha do Professor Raimundo!
É! Mussum era mesmo palhaço, um insociável, que, mesmo abduzido ao Planalto dos Macacos, adorava fazer graça, levando toda gente a morrer de rir, perder o ar de tanto dar gargalhadas!
É, meus cumpadis, Não tinha jeito, não! O circo tava montado! Nas voltas que o mundo dá, Mussum foi virar um global Trapalhão! E nas poltronas,de casa, dos cinemas, ou de qualquer outra apresentação, o palhaço era aclamado, a grande estrela, a atração!
Mas quis a vida pregar uma peça no menino que vivia pregando peça nos outros. Carlinhos foi se empirulitar. Só que seu sorriso continuou passeando por aí! Tá em todo lugar! Dando esperança a tantas crianças! Estampando lembranças! Atravessando o tempo para de novo uma pindureta armar! Reivindicando o direito de que ser pretis não é absurdo!
Reinventando a arte num mundo caduco!
E segue, meus cumpadis, com seus bordões eternizados, perambulando por aí, o que um anjo atrapalhado disse ao garoto daqui do Morro da Cachoeirinha: Vai, Carlinhos! Ser estrela na vida! Vai, Carlinhos! Ser estrela na vida! 
É, Carlinhos é mesmo uma estrela, sim! Pra sempris em nossos coraçõezis… E fim!
Carnavalescos:Eduardo Minucci e Raí Menezes.
Texto, pesquisa e desenvolvimento: Mateus Pranto e Raphael Homem
Inserções feitas no texto com trechos de “Poema de sete faces” e “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade; de “Sei lá, Mangueira”, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho; de “Jequitibá”, de José Ramos e Marcelino Ramos; “O meu guri”, de Chico Buarque de Hollanda. 
Obra consultada
BARRETO, Juliano. Mussum forévis – samba, mé e Trapalhões. Disponível
em: <https:/ sambrasil.net/wp-content/uploads/2018/06/Mussumfor%C3%A9vis-Juliano-Barreto.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2020.

 

Comente o que achou:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja mais

Posts Relacionados

Projeto “Um carnaval para Maria Quitéria” valoriza a folia e conta com ilustrações de carnavalescos renomados

Projeto “Um carnaval para Maria Quitéria” valoriza a folia e conta com ilustrações de carnavalescos renomados

 A Jac Produções lança o projeto "Um carnaval para Maria Quitéria", que desenvolveu um estudo de desfile de escola de samba em homenagem a essa heroína da nossa independência. O

O aroma que vem da Glória: a alegria da MUG ao sabor de um samba inesquecível

O aroma que vem da Glória: a alegria da MUG ao sabor de um samba inesquecível

Arte de Julianna LemosPor Adriano PrexedesSejam bem-vindos de novo! Desta vez, nossa aventura sambística nos levará para outro destino: vamos até o Espírito Santo para conhecer a trajetória de uma

#Colablize: A infraestrutura do carnaval carioca hoje – o que precisa ser feito

#Colablize: A infraestrutura do carnaval carioca hoje – o que precisa ser feito

    Arte de Lucas MonteiroPor Felipe CamargoJá se tornou algo que os amantes do Carnaval carioca debatem e mencionam todos os anos. Com um misto de esperança, medo e reclamação,

A locomotiva azul e rosa: São Paulo nos trilhos do sucesso da Rosas de Ouro

A locomotiva azul e rosa: São Paulo nos trilhos do sucesso da Rosas de Ouro

Arte de Jéssica BarbosaPor Adriano PrexedesAtenção! Vamos embarcar numa viagem carnavalesca pela cidade que nunca para. Relembraremos uma São Paulo que, durante a folia, se vestia de cores vibrantes. De

ROSA X LEANDRO: Quando os carnavalescos ocupam as galerias de arte

ROSA X LEANDRO: Quando os carnavalescos ocupam as galerias de arte

 Arte por Lucas MonteiroTexto: Débora Moraes Rosa Magalhães e Leandro Vieira são os carnavalescos que mais tiveram seus trabalhos exibidos em exposições em instituições de arte. Além de colecionarem esse título,

A Lição da Mancha Verde: uma passagem pela história de persistência da escola e por um de seus desfiles históricos

A Lição da Mancha Verde: uma passagem pela história de persistência da escola e por um de seus desfiles históricos

 Arte de Lucas XavierPor Adriano PrexedesO ano era 2012, considerado por muitos um dos maiores carnavais da história do Sambódromo do Anhembi. A folia, geralmente, é lembrada pelo grande público

VISITE SAL60!

SOBRE NÓS

Somos um projeto multiplataforma que busca valorizar o carnaval e as escolas de samba resgatando sua história e seus grandes personagens. Atuamos não só na internet e nas redes sociais, mas na produção de eventos, exposições e produtos que valorizem nosso maior evento artístico-cultural.

SIGA A GENTE

DESFILE DAS CAMPEÃS

COLUNAS/SÉRIES