7X1 Carnavalize: as fantasias de bateria mais polêmicas dos últimos anos

 

Texto: Eryck Quirino
Revisão: Felipe Tinoco

Um dos quesitos fundamentais aos desfiles das escolas de samba, a bateria é comumente vestida para estar dentro da representação temática dos desfiles. Por conta das particularidades desse segmento, várias polêmicas já se instauraram ao entorno de seus figurinos. São muitas histórias e foi um trabalho difícil de decidir por apenas 7 fantasias que apareceriam por aqui! Com a ajuda de alguns amigos ritmistas, conseguimos chegar a uma decisão. Afinal, atire a primeira pedra quem nunca passou perrengue com fantasia! BORA!
Mangueira 2009 – Cavalheiros do Divino
Os integrantes da bateria da Mangueira vestidos de Cavalheiros do Divino. Foto: Ricardo Almeida.
A bateria da Mangueira veio representando o Cavalheiros do Divino e a fantasia, muito quente, causou alguns problemas para os ritmistas naquele ano. Relatos dizem que “o problema não era o tamanho, mas sim a grossura do pano que esquentava demais. Tivemos muitos desmaios no recuo do desfile daquele ano”. Ainda assim, a bateria seguiu seu rumo e conseguiu terminar bem sua apresentação naquele carnaval em que os quesitos de chão foram decisivos para uma boa colocação da verde e rosa. 
Mocidade 2011 – Faunos/Sátiros
E por falar em polêmicas, é essa a fantasia que inspirou o tema do 7×1 dessa semana! Nada menos porque… quem aqui escreve desfila na bateria Não Existe Mais Quente e passou um momento delicado nesse ano! O carnavalesco Cid Carvalho desenvolveu o enredo “Parábola dos divinos semeadores”, e resolveu trazer a bateria de Fauno. É isso mesmo: aquele ser metade homem, metade cavalo. O traje teve direito a casco e até salto plataforma, para fazer o efeito das patas da figura!
Os ritmistas de fauno posam com Antônia Fontenelle, então rainha de bateria da Mocidade. Foto: Reprodução/Flicker Carnaval.com Studios.
O desfile foi um dos mais animados daquele ano, mas a bateria cortou um dobrado por vários motivos: a calça de veludo abafava o som dos instrumentos menores como caixa e repique; o talabarte pinicava muito junto com a tinta dourada que foi usada na pintura do corpo, fazendo com que a maioria dos integrantes saísse toda cortada, levando quase uma semana para tirar toda aquela tinta fora; e toda dificuldade de desfilar tocando em cima de um salto plataforma de 13 centímetros… Com relatos de desmaios e quedas terminamos aquela saga que foi o desfile da Mocidade de 2011.
(Momento relato do autor: eu mesmo quase caí na saída do segundo recuo porque pisei em um adereço de fantasia que estava no chão e perdi o equilíbrio chegando no jurado. A sorte é que o meu pai, que era diretor na época, passava atrás de mim na hora e conseguiu me reequilibrar para que terminássemos o desfile sem problemas.)
Mocidade 2015 – Contagem Regressiva
Agora vamos para o ano de 2015, ainda na bateria Não Existe Mais Quente, aquela lá de Padre Miguel com os momentos que só o carnaval pode nos proporcionar. Coisas que ninguém pode explicar; simplesmente acontecem na hora. Os elementos dos desfiles podem dar super certo, como também podem propiciar falhas, como foi nessa ocasião. Os ritmistas vieram vestido de contagem regressiva: uma espécie de bomba relógio que fazia parte da proposta do enredo desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros naquele ano. 
Contagem regressiva para o Fim do Mundo! Foto: Tata Barreto/Riotur.
Um grande relógio localizado na cabeça dos componentes marcaria o tempo de desfile de cada escola. Marcaria…. A bateria virou na Avenida Marquês de Sapucaí, os relógios estavam todos bem sincronizados, comandados por controle remoto por um rapaz da equipe do carnavalesco, em perfeito funcionamento, tudo ok. Foi só tocar a sirene para os relógios ganharem vida própria! Cada um marcou um tempo diferente do outro, diminuindo o efeito e sua surpresa.
Ah, não tem como esquecer que os instrumentos vinham com LED que piscavam conforme a batida, e, para isso, os ritmistas vieram com uma bateria nas costas pra sustentar a energia. Saímos da pista sem conseguir enxergar direito o entorno por conta da claridade durante 1:20 de desfile…
Salgueiro 2016 – Geni
No ano seguinte, em 2016 o Casal Lage trouxe a bateria Furiosa de mestre Marcão trajada de Geni, representando uma das principais travestis do místico universo brasileiro presente no musical “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque. Até aí tudo bem: há destaque aos figurinos leves para as baterias, que davam mais segurança pro mestre mostrar todas as cartas. Nesse ano, seria só mais um… 
Ritmista se diverte vestindo traje da importante personagem da Ópera dos Malandros do Sal. Foto: Raphael David/Riotur.
Mas o detalhe ficou por conta da maquiagem! Para representação fidedigna de Geni, os carnavalescos desenharam o figurino contando que os ritmistas viessem maquiados. Então, acabaram se vendo diante de um desafio quando os ritmistas questionaram se não tinha outra opção para desfilar. Foi a hora do pessoal do barracão se virar nos 30. Conseguiram elaborar uma máscara que não afetou tanto a visão e a respiração da bateria. Após os obstáculos, ela foi um dos pontos altos do desfile!
São Clemente 2017 – Os Músicos da Festa

No ano de 2017, foi a vez dos ritmistas da Fiel Bateria dos mestres Caliquinho e Gil passarem por mais momentos na Sapucaí por conta de fantasias.  Como sempre nos brindando com uma verdadeira aula, a professora Rosa Magalhães nos convidou para sua sala e apresentou a história de Luiz XVI e seus contextos políticos com o enredo Onisuáquimalipanse. Para tal, vestiu os ritmistas como os músicos de seu palácio na França. 
Os Músicos da Festa da escola da Zona Sul. Foto: Alexandre Durão/G1.
A boa exibição da bateria naquele ano ficou apagada pela fantasia grande e muito quente, que chegou a causar desmaios por desidratação e abafou o som de alguns instrumentos. A bateria deixou alguns décimos escorrer. No ano seguinte, 3 opções de figurinos foram apresentadas ao Caliquinho, apaziguando os problemas. 

Império Serrano 2018 – Exército de Terracota do Imperador Qin
No carnaval de 2018, tivemos o retorno do glorioso Império Serrano ao Grupo Especial do carnaval e podemos ver uma das baterias mais premiadas da história da folia de volta à elite carnavalesca. A Sinfônica do Samba, como é conhecida a orquestra do Império, veio com aquele balanço e com as características do Morro da Serrinha. No entanto, a fantasia infelizmente influenciou diretamente no desempenho da bateria. 
Sinfônica do samba na rota da China. Foto: Mauro Pimentel/AFP.
Os ritmistas desfilaram com um belo figurino representando o Exército de Terracota. O problema é que ele era feito todo de borracha com placas enormes na frente e nas costas da fantasia. Isso rapidamente foi sentindo pelos ritmistas que passaram muito mal durante o desfile. A passagem contou com pessoas não conseguindo sequer sair do primeiro recuo de tanto calor, com muitos casos de desidratação e desmaios. Um amigo pessoal foi uma das pessoas que desmaiaram naquele ano e falou que já se sentiu mal desde o início de desfile e forçou sua permanência até o segundo recuo, quando desmaiou e só acordou na ambulância ao lado de outros ritmistas.


Mangueira 2018 – Bate-Bolas
Seguindo no ano de 2018, vamos parar no Morro de Mangueira na bateria Tem Que Respeitar Meu Tamborim. Alegando que o dinheiro não era importante para os festejos foliões, o carnavalesco Leandro Vieira perpassou por carnavais de rua e colocou a bateria trajada com a roupa de um lindo bate-bola. Para o enredo, o figurino era simbolicamente perfeito, mas teve seus contras…
Mascarada, a Tem Que Respeitar Meu Tamborim cruzou a avenida de bate bola em 2018. Foto: Leo Queiroz.
A bateria veio mascarada, atrapalhando a comunicação entre ritmistas e diretores. A meu ver, tirou também um pouco da pressão da bateria causando um abafamento. Até a própria locomoção da bateria foi atingida naquele ano. Não tiveram influência nas notas, mas nunca é uma ideia plenamente amigável colocar os ritmistas mascarados!

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